O nível de atividade econômica no Brasil permanece no campo negativo

Ano 1 – nº 05 – Julho 2016

O nível de atividade econômica no Brasil permanece no campo negativo, com tímidos sinais de estabilização da recessão, mas sem dados que apontem para uma recuperação mais pronunciada num futuro próximo. O fim do aumento da produção industrial (analisada em maiores detalhes na seção “indústria”) pode apontar para a confirmação de que os pequenos aumentos anteriores não passaram de um breve ciclo de acumulação de estoques, sem fôlego para prosseguir por maior tempo. A recente valorização cambial também pode acabar conspirando contra a pretensão de expansão do crescimento econômico, uma vez que reduz os ganhos dos exportadores e incentiva a retomada das importações.

Ademais, os indicadores de desemprego seguem em deterioração, assim como os dados de inadimplência, o que indica uma possibilidade diminuta de uma eventual recuperação da atividade econômica comandada pelo consumo das famílias. Mesmo que gere, em dólar, um ganho da renda do trabalho, a valorização cambial dificilmente será traduzida em aumento do consumo e investimento, seja pela situação difícil do emprego, seja pela elevada capacidade ociosa e penetração das importações na estrutura industrial brasileira.

Esta falta de alternativas na análise das principais variáveis que determinam o crescimento econômico já começa a dar sinais de atingir alguns analistas, fazendo com que a previsão de crescimento econômico da CNI saísse de -3,1% para -3,5%, frustrando alguns dos mais otimistas. Esse otimismo, que se refletiu no indicadores de confiança empresarial e do consumidor, traz em si uma curiosidade: apesar de o Índice de Expectativas apresentar elevação (o que sugere um pessimismo menor com o futuro da economia), o Índice de Situação Atual (ISA) se mantém bastante negativo e com baixo crescimento, ampliando a distância entre as expectativas dos agentes e a realidade em que eles se encontram. Caso este fenômeno prossiga, é de se esperar que as expectativas otimistas se mostrem frustradas, fazendo os índices de expectativas pararem de se recuperar e seguirem uma trajetória mais próxima dos ISA.

Além disso, mesmo com a melhora gradual das expectativas, os indicadores se mantêm fortemente no campo negativo, o que indica uma continuidade da recessão num futuro próximo. Mesmo que entrem no campo positivo, não haveria hoje garantia de que expectativas otimistas levassem a um maior nível de investimentos, tendo em vista a enorme capacidade ociosa presente na indústria nacional, que terá de ser ocupada antes que se planejem novos investimentos produtivos.

Comércio Exterior

Como nos boletins passados, o alento para a econômia brasileira vem dos dados de comércio exterior. Informações divulgadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), apontam para um superávit de US$ 3,974 bilhões na balança comercial de junho. A balança comercial é a diferença entre exportações e importações. No acumulado para o primeiro semestre do ano, o resultado atingiu US$ 23,63 bilhões, ou seja, o melhor resultado da série histórica. Em junho, as exportações totalizaram US$ 16,74 bilhões, com média diária de US$ 761 milhões, enquanto as importações atingiram US$ 12,77 bilhões. Como havia sido registrado nos últimos meses, ocorreu maior queda nas importações do que nas exportações, que vêm possibilitando uma significativa melhora na balança comercial brasileira.


Em termos de volume exportado, o Brasil tem tido bom desempenho desde o ano passado. Já em valor, o país tem exportado menos, sobretudo devido à queda do preço das commodities – bens primários com cotação internacional. Do início do ano até junho, o volume de mercadorias exportadas cresceu 9,8%, no entanto, os preços caíram em média 14,8%. No que tange às importações, no mesmo período, a quantidade importada caiu 20,1%.

Tais resultados mostram que, a despeito da forte volatilidade, o câmbio ainda tem sido favorável ao aumento das exportações e redução das importações. No entanto, o real tem apresentado uma rota de rápida apreciação, registrando uma valorização de 23,16% no primeiro semestre do ano. Em uma ótica comparativa com outras moedas, o real tem tido a maior apreciação em relação ao dólar no período. Se esta trajetória continuar, o país irá perder uma fonte central de retomada da economia e de contenção do processo de desindustrialização. As posições do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central têm sido extremamente adversas a uma política econômica que vise utilizar a taxa de câmbio e de juros como pilares centrais para retomada da economia. Erros do passado são continuamente repetidos e perpetuados por uma orientação de política econômica ortodoxa incompatível com a realidade.

Indústria

Dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, mostram que, em maio, após dois meses consecutivos de crescimento, a produção industrial brasileira se manteve estável. No ano, a produção industrial acumulada até maio fechou o período com queda de 9,8% e, em 12 meses, 9,5%. Na comparação com maio de 2015, a produção caiu 7,8%.

A despeito do crescimento nulo da produção industrial brasileira neste mês, na série livre de influências sazonais, houve aumento de produção em doze dos 24 segmentos pesquisados pelo IBGE. Por um lado, as maiores altas ocorreram respectivamente nos segmentos de outros equipamentos de transporte (9,5%), veículos (4,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos (4,3%), perfumaria (3,6%) e metalurgia (3,4%). Por outro lado, as quedas mais expressivas foram registradas nos segmentos de fumo (-12,7%), coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,2%), e produtos alimentícios (-7%).

Na indústria de transformação, que congrega empregos de melhor qualidade e segmentos mais expressivos em ganhos de produtividade, houve queda de 0,6% no mês. Em doze meses a queda já atinge o montante de 10%. Grande parte desta queda se deve ao desempenho de bens intermediários, que compõem a maior parte da produção nacional.


No âmbito regional, oito dos catorze estados brasileiros tiveram retração. A pesquisa mostra que as quedas mais expressivas correram no Paraná (-3,5%), seguido por Goiás (-2,3%); Pará (-1,9%); e São Paulo (-1,6%). Em ordem de queda, Pernambuco (-1,1%), Minas Gerais (-0,9%), Bahia (-0,3%) e Rio de Janeiro (-0,1%) compõem os locais divulgados pela Pesquisa Indústria Mensal (PIM) – Produção Física Regional – que apresentaram resultados negativos. Por outro lado, o Amazonas foi o que obteve maior crescimento industrial em maio, com alta de 16,2%. Os demais estados que compuseram resultados de crescimento foram, em ordem de grandeza, Rio Grande do Sul (4,4%), Espírito Santo (3,8%), região Nordeste (1,6%), Ceará (1,4%) e Santa Catarina (0,1%).

É importante frisar que diversos estudos seminais mostram que o sucesso de crescimento e desenvolvimento das nações sempre esteve estritamente associado à indústria. Recentemente o sucesso dos países asiáticos, como Coreia do Sul e China, são exemplos contemporâneos nesse sentido. No entanto, no Brasil, a crise dos anos 1980 deu força a formulações de política econômica extremamente duvidosas para o país. Desde o ápice das reformas neoliberais dos anos de 1990, a política macroeconômica tem sido adversa ao setor produtivo. Altas taxas de juros e constantes ciclos de apreciação cambial têm pautado um ambiente hostil à indústria de transformação. Independentemente de crises, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) tem-se reduzido paulatinamente e comprometido o crescimento sustentável da economia. Em uma estratégia de longo prazo, é necessário câmbio e juros alinhados a uma política industrial que promova não somente o aumento da produção industrial, mas também uma mudança estrutural do padrão produtivo da economia. É necessário o aumento da participação de setores mais dinâmicos em tecnologia, tanto no mercado doméstico quanto nas exportações.

Política monetária e inflação

A inflação no Brasil, que já vinha dando sinais de desaceleração em alguns meses recentes, confirmou sua tendência de queda em junho ao sair de 0,78% em maio para 0,35% de alta no mês. Esta diminuição, tradicional para este período do ano, fez com que o acumulado do IPCA no ano alcance 4,42%, com o acumulado em doze meses recuando para 8,84%. Apesar de os resultados serem melhores do que os observados em junho de 2015, é quase certo que a inflação acumulada em 2016 supere novamente o teto da meta, muito influenciada ainda pela alta de alguns preços administrados e pela desvalorização cambial vista no inicio do ano.

Do ponto de vista da composição, o grupo alimento e bebidas segue sendo o que mais pressionou o índice em junho, subindo 0,71% em junho (perante 0,78% em maio) e contribuindo com 0,18 pontos do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) total, com destaque para o aumento no preço do feijão (41,78%) e do leite (10,16%). Outro custo que apresentou desaceleração foi o grupo habitação, que, apesar de ainda sentir os efeitos do aumento das tarifas de água e esgoto, passou de 1,79% para 0,63%. A inflação de serviços, por sua vez, segue o caminho de suavização, tendo registrado alta de 0,33% em junho e acumulando elevação de 7,02% nos últimos doze meses. Este indicador é importante, uma vez que a inflação de serviços vinha sendo uma das mais resistentes à queda, sendo muito ligada ao mercado de trabalho (apesar de também sofrer influência de alimentos, no caso de alimentação fora do domicílio). Sua desaceleração é um reflexo da extensão da crise econômica atual, que atingiu finalmente os empregos em serviços, reduzindo os salários praticados nestes setores.

A mensagem do atual presidente do Banco Central de que irá perseguir o centro da meta de inflação em 2017 nos leva a crer que a taxa de juros será mantida elevada por mais tempo, pressionando pela valorização da taxa de câmbio como instrumento de combate à inflação. Ao mesmo tempo, o BC deu sinais de que o valor de R$ 3,20 será o piso para a cotação do real, abrindo pouco espaço para este instrumento clássico de queda dos preços. Desta forma, apenas a continuidade da recessão em 2017, como recentemente prevista por alguns analistas econômicos, será capaz de trazer a inflação para dentro do centro da meta, ao custo do aumento do desemprego, da queda da renda e da deterioração fiscal do Estado brasileiro.

 

 
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