Investir em sistemas de controle melhora o transporte coletivo do município, economiza recursos e aumenta o bem-estar dos cidadãos.Autor: Roberto Moreira

Investir em sistemas de controle melhora o transporte coletivo do município, economiza recursos e aumenta o bem-estar dos cidadãos.Autor: Roberto Moreira

A gestão do transporte público é uma atribuição do município. Para fazê-lo de maneira adequada é preciso ter informações sobre a operação do sistema de transporte. Para a execução das atividades básicas de gestão: planejamento, regulamentação, fiscalização, controle da receita, comercialização de passes e vales, etc., é imprescindível o conhecimento do que acontece na operação.

A definição do sistema de controle dependerá da criatividade, das necessidades e da realidade de cada município. Pode-se utilizar desde métodos totalmente manuais até métodos totalmente automatizados que incorporam tecnologia de ponta.

O QUE CONTROLAR?

Podemos dividir em dois grupos os itens a serem controlados:

a) Controle de oferta:
são os itens referentes ao serviço de transporte ofertado aos usuários, tais como: o número de viagens realizadas, o cumprimento dos horários destas viagens, o cumprimento dos itinerários, a parada nos pontos de ônibus, etc.

b) Controle da demanda:
são os itens relacionados aos passageiros transportados e à receita arrecadada, tais como: número de passageiros transportados, pagantes, passageiros que pagaram meia passagem, não pagantes, valores arrecadados em dinheiro, em vale transporte, em passes, etc.

CONTROLE DE OFERTA

Em sistemas pequenos, o controle da oferta pode ser feito manualmente, ou seja, apenas com a utilização de pessoal. O controle do número de viagens geralmente é feito através da anotação em formulário, por fiscais colocados em pontos estratégicos de onde se pode fiscalizar todas ou a maioria das linhas. Neste caso é possível controlar o número e o horário das viagens. O cumprimento do itinerário e as paradas nos pontos podem ser fiscalizados por amostra através de agentes circulando nos próprios ônibus ou em viaturas.

A partir de um determinado porte de sistema, o controle exige um número muito elevado de pessoas para sua operacionalização, dificultando sua viabilidade econômica, além da perda de qualidade e confiabilidade dos dados.

Em sistemas de médio porte, pode-se utilizar equipamentos para auxiliar o pessoal de campo e melhorar o sistema de controle, como é caso de relógios de ponto instalados em cabines nos postos de controle para registrar, no Relatório de Bordo, a passagem do ônibus pelo local, ou, ainda, dos microcoletores, utilizados pelos fiscais de campo para anotação das informações. O equipamento fiscalização, neste caso, serve para eliminar a fase de digitação dos dados e agilizar o processo de transferência dos dados, uma vez que é feita eletronicamente.

Para sistemas de grande porte e/ou que precisam de maior segurança e rapidez existem diversas tecnologias disponíveis no mercado que auxiliam no controle.

Equipamento de transmissão/recepção:
são equipamentos simples de transmissão/recepção que podem estar combinados de duas maneiras:

a) transmissor no ônibus e receptor na via:
todos os veículos são equipados com um transmissor, em geral com uma mensagem pré gravada com as informações do veículo (em alguns casos, traz informações também da linha). Os receptores ficam localizados na via, em pontos estratégicos, de forma que na passagem do ônibus pelo ponto de controle, o sinal emitido com as informações disponíveis, é registrado pelo receptor, que o transmite, on line ou posteriormente, a uma central de controle.

b) transmissor na via e receptor no ônibus: nesse caso os pontos de controle são equipados com transmissores com informações pré-gravadas sobre a localização do ponto de controle. O veículo é equipado com um receptor que é acionado toda vez que ele passa pelo ponto de controle. As informações são armazenadas em um dispositivo inteligente e posteriormente transferidas para a central de processamento de dados.

Microcomputador de bordo: é um equipamento inteligente, instalado no veículo, que trabalha sozinho ou em conjunto com outros. Sua função é sensoriar itens selecionados e armazenar informações como catraca, receptor de sinais (item anterior), abertura e fechamento de portas, quilometragem percorrida, consumo de combustível, rotação do motor, etc. Sua utilização é bastante ampla, dependendo do sistema de controle proposto.

GPS: é um sistema de geoposicionamento que funciona através de identificação de sinais emitidos por um conjunto de satélites em órbita. Os veículos são equipados com uma antena GPS que, através dos sinais recebidos, localiza a posição do veículo a cada instante. Tem-se, portanto, o controle total dos itinerários cumpridos pelos veículos ao longo do dia. A localização do veículo, obtida pela ‘antena’ GPS, precisa ser armazenada em um dispositivo inteligente embarcado, assim deve trabalhar em conjunto com alguns tipo de micro de bordo.

Rádio transmissor:
Existe a possibilidade de adicionar aos demais equipamentos um sistema de rádio transmissão que envia, on line, as informações recolhidas no veículo para uma central de controle. Ele pode ser utilizado ainda para comunicação entre o motorista/cobrador e a central de controle.

CONTROLE DE DEMANDA

A grande maioria das cidades brasileiras obtém os dados de demanda transportada e da receita do sistema através das informações repassadas pelas empresas operadoras. Isto logicamente não garante nenhuma confiabilidade aos dados coletados.

Uma das primeiras medidas para se controlar o sistema é a exigência da emissão dos relatórios de bordo em duas vias, sendo uma delas recolhida no menor prazo possível após o retorno do carro à garagem. Estes relatórios são processados posteriormente pelo órgão gestor, para obtenção das informações.

Outra medida de fácil implantação é a leitura das catracas na garagem, diariamente, após os veículos serem recolhidos. Esta leitura garante o controle do número total de passageiros transportados, por ônibus, por dia, etc., e pode se confrontar estas informações com as do relatório de bordo.

A leitura da catraca pode ser auxiliada por microcoletores, agilizando o processo, eliminando a fase de digitação e oferecendo informações mais seguras.

Controle de demanda através de microcomputador de bordo:
em sistemas de controle que utilizam micro de bordo, este pode ser aproveitado para controlar o número de passageiros transportados. Utiliza-se uma interface que transforma os movimentos mecânicos da catraca em impulsos elétricos, que são transmitidos ao micro de bordo e armazenados. No final da operação os dados são descarregados em um microcomputador na garagem, que faz um pré-processamento e os transfere para uma central de controle.

Neste caso, é controlado o número de passageiros transportados, mas não o tipo (estudante, vale transporte, etc.).

Bilhetagem Automática: dispondo de tecnologia para o controle, algumas cidades estão partindo para a total reformulação do sistema de comercialização e controle da receita.

O sistema de Bilhetagem Automática prevê a instalação de um "validador", um instrumento que fica acoplado à catraca e que a libera, mediante a inserção do bilhete.

O validador, além de armazenar os dados da arrecadação de toda a operação, possibilita uma série de melhorias ao sistema:

* permite a adoção de diversas políticas tarifárias, como a diferenciação do preço da passagem por seguimento da demanda, por horário do dia, etc.;
* dá maior confiabilidade ao sistema, na medida em que diminui a possibilidade de fraude no momento de cobrança da passagem;
* permite o controle de bilhetes não válidos, através do cadastramento de uma lista negra. Isto dá segurança tanto para o órgão gestor quanto para o usuário que, eventualmente, perder seu bilhete;
* permite a integração tarifária; que tem sido, talvez, a principal motivação para os órgãos adotarem sistemas de bilhetagem automática. A possibilidade da implantação da integração tarifária entre linhas de ônibus e com outros modos, sem a necessidade de terminais, dá ao sistema uma boa relação custo/benefício.

O sistema permite, ainda, a "integração horária" onde o usuário, em um espaço de tempo determinado, utiliza quantas linhas precisar para cumprir seu deslocamento com um único bilhete.

IMPLANTAÇÃO

Para a implantação de sistemas automatizados de controle de oferta e demanda, duas formas de contratação têm sido utilizadas nos municípios.

No primeiro deles, o poder público compra diretamente o equipamento, realizando a operação com pessoal próprio.

No outro modelo, a prefeitura contrata uma empresa privada para operar o serviço. Nesse caso, a empresa contratada compra o equipamento e emprega o pessoal necessário, recebendo mensalmente pelo serviço prestado.

A contratação do serviço pelo poder público tem se mostrado o modelo mais adequado, principalmente pelo fato dos equipamentos utilizados serem de alta tecnologia, ainda pouco testada no Brasil.

Outro fator que pesa positivamente a favor da terceirização desse serviço é que a manutenção, eventuais modificações, adequações ou atualizações são encaminhadas pelas empresas prestadoras de forma muito mais ágil que pelo poder público.

Além disso, na implantação de sistemas de Bilhetagem Automática, o investimento em infra-estrutura fica a cargo das empresas operadoras.

No modelo terceirizado, a responsabilidade pelo perfeito funcionamento do sistema fica inteiramente a cargo da empresa contratada para operá-lo.


* Publicado originalmente como DICAS nº 73 em 1996.
Dicas é um boletim voltado para dirigentes municipais (prefeitos, secretários, vereadores) e lideranças sociais. Atualmente, seu acervo está publicado no site do Instituto Pólis.

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