De acordo com o Ibope, índice de confiança da população em relação ao governo Dilma passou de 18%, em março, para os atuais 33%

Ano 1 – nº 09 – 01 de junho de 2016

Cresce o apoio a Dilma nas pesquisas, diante da atuação do governo golpista

O Ibope realizou, entre os dias 12 e 16 de maio de 2016, uma pesquisa de opinião pública com a população brasileira sobre a atuação dos deputados e senadores no processo de impeachment da presidenta e a expectativa em relação ao futuro do país. A pesquisa, pouco divulgada pela grande mídia, revela que dois terços (63%) da população percebe que deputados e senadores atuaram principalmente a favor de benefícios próprios e de interesses dos partidos e instituições privadas no processo de impeachement da presidenta Dilma e apenas 23% consideram que agiram em benefício dos interesses do país e da população brasileira. Metade dos que foram a favor do impeachement (53%) possuem essa percepção.

Em relação a expectativa quanto ao futuro do país, a população brasileira se encontra dividida, com 31% otimistas, 30% nem otimistas, nem pessimistas e 34% pessimistas. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) consideram que depois dos processos que o país está vivendo, como as investigações do Ministério Público e o impeachment da presidenta Dilma, tudo continuará igual, 26% pensam que o Brasil será um país mais honesto e 17% que o será um país menos honesto.

Desde que Dilma foi afastada houve uma mudança importante em seu índice de popularidade (dados do Ibope de março mostravam que apenas 10% consideravam o governo bom ou ótimo). De acordo com a pesquisa inédita realizada após a consumação do golpe, o índice de confiança da população em relação ao governo Dilma passou de 18%, em março, a 21%, em abril, para os atuais 33%.

O resultado indica recuperação de apoio político e tendência a um comportamento favorável do eleitor à presidenta afastada, perante o possível fracasso do governo ilegítimo de Temer.

Esperava-se mais assertividade com as promessas do novo governo, no entanto, a má formação dos ministérios, atendendo ao fisiologismo partidário, a mudança de opinião diante de pressões quanto à importância de ministérios e a nomeação de indiciados na Lava Jato faz aumentar a cada dia a perda de confiabilidade no governo.

Os grampos realizados pelo delator Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, expondo os acordos espúrios de aliados de Michel Temer para barrar a Lava Jato, criaram um ambiente de instabilidade para o governo golpista, há menos de 20 dias de exercício. As gravações já levaram à queda do ministro do Planejamento, Romero Jucá.  Fabiano Silveira, do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, que absorveu as funções da CGU (Controladoria-Geral da União), pediu exoneração do cargo após fortes protestos entre os servidores do órgão. Há ainda o atual ministro interino do Turismo, Henrique Eduardo Alves, alvo de investigações pela Lava Jato, sobre quem já se ventila possível afastamento.

Os áudios envolvem também importantes quadros do PMDB, como José Sarney e Renan Calheiros; do PSDB, como Aécio Neves; além do próprio Temer. As gravações demonstram que a Lava Jato, longe de primar pelo combate à corrupção, nada mais representa que um instrumento para deslocar Dilma e o PT do governo e impor o modelo neoliberal de austeridade. Tal política, conduzida pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, cujo objetivo prevê corte de gastos e medidas para controlar a dívida pública, surpreende por de início aprovar um deficit de R$ 170,5 bilhões nas contas públicas em 2016, muito acima dos R$ 96,7 bilhões que o governo legítimo de Dilma previa.

A justificativa de Meirelles para esse aumento do orçamento da União é ter encontrado resultados piores do que esperava nas contas federais, mas o que no fundo representa é a possibilidade de ajustar os gastos públicos com grande flexibilidade, sem riscos de descumprir a meta e, com isso, ter vista como avanço qualquer medida que melhore as contas públicas. A meta, todavia, inda é incerta, por contar com repatriação de recursos no exterior e impactos da renegociação da dívida dos Estados, além de privatizações.
Para esse fim, conta com o secretário-executivo de Parcerias, Moreira Franco, com o Programa Crescer, que tem uma versão privatista do PAC, cujo teor possibilita a injeções de dinheiro público na iniciativa privada e a abertura de capital. Os Correios estão entre as principais e primeiras empresas estatais alvo da privatização, além do pré-sal e outros setores estratégicos. A privatização é um dos principais objetivos do governo Temer e, portanto, Moreira Franco terá um papel decisivo na interlocução com todos os ministérios nos quais possam ser feitas concessões e privatizações.

À medida que as medidas se aprofundam e as denúncias veem à tona, mais Dilma se fortalece, ainda que isso não signifique que ela tenha condições de governabilidade perante o Congresso e o contexto geral da crise política e institucional que atinge o governo ilegítimo de Michel Temer. Porém, com a recuperação de sua a popularidade, há a possibilidade de o impeachment, que abriu com o apoio de 55 senadores, ser derrubado na votação final do Senado, onde são necessários 54 votos para que Dilma seja condenada. Alguns senadores, como Romário (PSB-RJ) e Acir Gurgacz (PDT-RO), já falam em rever sua posição no julgamento final do processo, com possibilidades de reverter seu voto. Além deles, outros 14 senadores (1) que votaram a favor da admissibilidade do processo, ou seja, pela continuidade da investigação mas não contra Dilma, também podem vir a reverter seus votos.

Enfim, a partir das delações já vazadas e das que estão acordadas, como a da Odebrecht, fica claro o caráter golpista e conspiratório do processo de impeachment, cujo eixo central do comando esteve nas mãos de Eduardo Cunha (que deixa um de seus principais aliados, André Moura (PCS-SE), como líder do governo na Câmara no governo interino), de setores do PSDB ligados a FHC e Serra, da Procuradoria Geral da República (PGR), de parte do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial o ministro Gilmar Mendes, e da grande mídia. Todos fortemente empenhados em conter a Lava Jato, afastar Dilma e o PT do governo e implantar a política liberal privatista e um plano de ajustes que implica grandes sacrifícios para a população mais pobre.

Cabe à população responder protestando nas ruas contra o conluio que passou a dominar o Estado; pela redução das desigualdades, que passa pela rejeição aos cortes na educação, no SUS e dos direitos sociais e trabalhistas; pela reforma política, com a convocação de uma Constituinte exclusiva eleita pelo povo; pela aprovação de uma PEC que possibilite novas eleições diretas, expectativa da maior parcela da população (62%, segundo pesquisa Ibope de abril). Essas medidas só serão viabilizadas com a pressão popular nas ruas. E isso somente acontecerá com o povo nas ruas, contra o golpe e o governo ilegítimo.

1. São eles: Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), Benedito de Lira (PP-AL), Cristovam Buarque (PPS-DF), Eduardo Braga (PMDB-AM), Edison Lobão (PMDB-MA), Fernando Collor (PTC-AL), Hélio José (PMDB-DF), José Antonio Reguffe (s/ part.DF), José Maranhão (PMDB-PB), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Omar Aziz (PSD-AM), Raimundo Lira (PMDB-PB), Roberto Rocha (PSB-MA), Wellington Fagundes (PR-MT)

* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade de sua autora,
não representando necessariamente a visão da FPA ou de seus dirigentes.

 

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