Mulheres e meio rural: conquistas ameaçadas
“As mulheres na agenda democrática do Brasil Rural” foi o tema da sessão e contou com as participações de Andrea Butto, Rosangela Piovezani e Miriam Nobre
A quarta sessão do Ciclo de Debates “Uma Agenda Democrática para o Brasil Rural”, organizada e promovida pelas fundações Perseu Abramo e Friedrich Ebert, foi realizada na segunda-feira, no dia 23 de maio, em São Paulo.
“As mulheres na agenda democrática do Brasil Rural” foi o tema da sessão e contou com as participações de Andrea Butto, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE), Rosangela Piovezani, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e Miriam Nobre, da Sempreviva Organização Feminista (SOF).
Coordenado por Joaquim Soriano, diretor da FPA, o ciclo foi transmitido ao vivo pela tevêFPA. No debate surgiram temas como autonomia financeira das agriculturas, acesso ao crédito e programas governamentais, melhoria na condição de vida no meio rural, segurança alimentar e má qualidade dos alimentos que consumimos.
A professora Andrea Butto falou sobre a conjuntura, marcada por contradições, e os desafios para os movimentos sociais e de mulheres. Ela explicou que ocorreu ampliação de oportunidades para as mulheres no mercado (e no campo). Mas muitas vezes acabou tirando autonomia da agricultura familiar e da defesa da biodiversidade. Além de aumentar a precarização e a internacionalização das cadeias produtivas.
Butto fez uma retrospectiva dos avanços dos últimos anos, pontuando questões como o acesso ao serviço público, luta contra a fome e a pobreza e políticas diferenciadas de agricultura familiar, entre outros exemplos. Sobre as várias estratégias, ela afirmou que se somaram ” à igualdade de gênero graças aos movimentos de mulhers campesinas”.
Como desafios futuros, ela falou sobre a condição econômico ainda desigual, e o fato de as mulheres terem menos acesso à terra e menos espaço de decisão e poder. A professora relembrou “o feminismo rural marcado por um projeto emancipador” e fez um alerta: as conquistas estão fortemente ameaçadas.
Miriam Nobre falou sobre a contribuição das mulheres rurais que “mesmo com grandes dificuldades mas realizando um grande movimento”. Para ela, trata-se de movimento de grande fôlego, com funcionamento todo organizado por elas próprias e com autofinanciamento. Miriam aposta que é preciso aprender com a experiências das rurais.
“São as mulheres rurais que mantém as formas de produção tradicionais e é o que mantém nossa biodiviersidade”, explicou, lembrando que é também necessário que façamos um debate longo sobre o tempo das mulheres, o controle do capital sobre suas vidas e a sobrecarga de trabalho feminino.
O debate sobre o tempo é urgente porque a “natureza tem seus ciclos. A lógica do capitalismo pela produtividade é de intensificar agora e ter prejuízos definitivos depois”. Para Miriam, precisamos atuar neste momento ruim com vistas a dar um salto de qualidade.
Rosangela Piovezani alertou que não é possível separar o debate sobre soberania alimentar sem ocupar o território, lembrando que 83% da população do Brasil estão nas cidades e “há consequências prejudiciais nesta virada tão bruta”.
Piovezani falou sobre concentração de terra no país, onde há ainda áreas sem nenhum controle do Estado, locais dominados por fazendeiros e jagunços. Para ela, uma política de bem viver é mais que urgente. Pontuou também que o Brasil é o primeiro país em consumo de agrotóxicos.
“Enquanto camponesas, que é um modo de ser, precisamos de diversidade. Camponeses podem ser pobres, mas sempre têm o que comer. Mas os avanços da tecnologia podem acabar com isso”, alertou. Apesar de 70% do que é consumido no país vir da agricultura familiar, ainda é necessário lutar pelas águas, sementes e territórios. Rosangela também relatou situações relacionadas às políticas de inclusão, documentação para as mulheres, acesso ao crédito, dificuldades das produtoras rurais venderam ao governo.
O próximo debate do Ciclo será no dia 21 de junho, com o tema direito à terra e ao território.
Assista a íntegra do debate aqui. Veja galeria de fotos de João Heitor e dMark.
Saiba mais
– FPA e FES lançam ciclo de debates discutindo sistemas agroalimentares