Jucá foi pego com a boca na botija. Sobrou também para Aécio. A fins da manhã Jucá dizia que não iria renunciar. Ao final da tarde saiu do ministério e retornou ao Senado. Temer agradeceu aos serviços

Por Lúcio Costa

Uma segunda-feira agitada. Jucá foi pego com a boca na botija. Sobrou também para Aécio. A fins da manhã Jucá dizia que não iria renunciar. Ao final da tarde saiu do ministério e retornou ao Senado. Temer agradeceu aos serviços. À noitinha, dizem os jornalões que nas gravações da delação premiada de Sergio Machado há diálogos de Renan e Sarney que fazem Jucá parecer um escoteiro.

Assim, a autopsia do golpe foi realizada em público. Caiu a ficha da nação: o impeachment da Presidenta Dilma não passa de uma tramoia para por fim à luta contra a corrupção e, especialmente a dita operação Lava Jato. Certamente, esse é um aspecto relevantíssimo dos fatos. Todavia se, como dizia um filósofo alemão do século 19, a aparência e a essência dos fenômenos correspondessem não haveria necessidade de ciência.

Dizem alguns que os episódios revelam uma luta intestina entre os golpistas a opor as oligarquias que controlam o PMDB – Cunha, Jucá, Sarney & cia – aos interesses da Fiesp. É possível.

Salientam outras gentes que a fonte, Folha de São Paulo, através do qual vieram à luz as gravações de Jucá e Machado somada ao fato de Aécio haver sido igualmente atingido lembram expedientes já usados por Serra nos conflitos que dividem o tucanato.

Todas as hipóteses acima aventadas são plausíveis, dignas de merecerem reflexão. No entanto, a essas haveria de acrescer outra como possibilidade posta no cenário. Vejamos.

Das denúncias, hoje de Jucá e amanhã quiçá de Renan e Sarney, poderá erguer-se um clamor para que a luta contra a corrupção seja levada até o fim e, que a Lava Jato – com o Dr. Moro ao timão – siga adiante.

A operação Lava Jato, desde o princípio, nunca prestou-se ao mero combate à corrupção. Como toda gente de boa-fé sabe, o Dr. Moro e sua República de Curitiba – a lembrar a República do Galeão de Lacerda e da UDN – com toda sua corte de arbitrariedades, vazamentos seletivos, com seu permanente conluio com Globo & cia serviu sempre de arma de acosso e perseguição a Presidenta Dilma, ao Lula e às lideranças do petismo. Não há nenhuma razão para supor que a natureza perversa e antirrepublicana da Lava Jato tenha sofrido alterações nestes últimos quinze dias.

Desta forma, da grita contra as tramoias de uns e outros para livrarem-se das grades a que certamente fazem jus pode-se chegar a uma situação na qual, embalados pelo clamor da nação, por uma mídia golpista a incensar o Dr. Moro e a Polícia Federal sob as ordens do Sinistro Moraes, sejam remetidos as prisões e cassados de seus direitos políticos não apenas os merecedores de tais penas, mas sim e principalmente os alvos permanentes, as pedras no sapato do golpismo: Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores. O primeiro, por supostamente corrupto e, o segundo por alegadamente ser uma organização criminosa.

Neste cenário, a indignação que aos poucos está a tomar conta dos brasileiros e brasileiras, com o cheiro nauseabundo exalado por personagens como os Cunhas e Jucás podem prestar-se, paradoxalmente, não a sepultar o golpe, mas sim a fornecer uma sobrevida ao golpismo que poderá tanto livrar-se de seus sócios mais nitidamente comprometidos com todo o tipo de falcatruas quanto, removido Lula, dar passos a institucionalização da contrarrevolução paleo-liberal através da realização de eleições presidenciais com cartas marcadas, controladas pelas oligarquias, sem Lula e com o registro partidário do PT cassado.

É de realçar que a junta interventora chefiada por Temer é nascida da corrupção da Constituição Federal, da fraude da soberania popular. Ademais, é um governo que trabalha por corromper o Estado Democrático Social de Direito consagrado pela atual Constituição da República posto que publica e desavergonhadamente conspira para por fim aos direitos sociais – como, por exemplo, o SUS – e trabalhistas que são alma e sentido da República.

Noutra banda, desde o ponto de vista estritamente criminal, cerca de 50% da equipe ministerial do Temer é investigada ou citada em diversos inquéritos e processos. Aliás, o substituto de Jucá, Dyogo Oliveira, é investigado na operação Zelotes.

Um governicho nascido da fraude, intrínseca e constitutivamente corrupto, composto de uma chusma de investigados, comprometido com a corrupção da Constituição da República é, obviamente, incapaz – como o revela o fim do Ministério da Controladoria Geral da União – de levar adiante o efetivo combate à corrupção de agentes públicos e grandes empresários.

Estejamos atentos e firmes na intransigência democrática, pois com o golpismo – no qual o Dr. Moro e largas parcelas do Judiciário e do próprio STF são engrenagens – não há pactos, tréguas e acordos em nenhum campo e, em especial, na luta contra a corrupção. A luta contra a corrupção principia pelo respeito à Constituição, pelo retorno da Presidenta Dilma Rousseff à chefia do Estado e do governo.

De guardar o alerta de um personagem que por denunciar a corrupção da Lei foi preso, condenado e assassinado: Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus, Matheus 7.15:17.

Mais do que nunca é tempo de repetir em alto e bom som: Fora Temer!

Lúcio Costa é advogado