Evolução da economia municipal mostra mudança no eixo do desenvolvimento econômico

A análise dos dados recém calculados1 do PIB municipal mostra que o crescimento da economia se deu principalmente no interior do país, em regiões que anteriormente possuíam uma maior dependência dos grandes polos econômicos tradicionais.

Se para 2015 o PIB brasileiro de 5,9 trilhões de reais posiciona o país como a nona maior economia mundial, um olhar sobre como os grandes setores econômicos se desenvolvem regionalmente permite identificar peculiaridades até então não muito discutidas.

No período analisado, 2010 a 2013, a economia global cresceu cerca de 2% ao ano, com países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) puxando esta média para cima, enquanto países desenvolvidos sofriam crises econômicas e sociais severas. Grande temor do mercado financeiro à época, a crise mundial acabou afetando muito suavemente a economia brasileira, como pode-se perceber na evolução do PIB dos municípios brasileiros.


Para facilitar a análise, a evolução do PIB foi dividida em quatro faixas: a dos 724 municípios brasileiros que tiveram redução do valor real; a dos 1.080 municípios com crescimento de até 2,99%; os 1.858 que obtiveram o alto crescimento de 3 a 6,99%; e os 1.908 que cresceram a excepcionais taxas superiores a 7%. Se compararmos tais resultados com o crescimento do PIB chinês, que em 2013 foi de 7,7%, podemos dizer que por três anos consecutivos tivemos cerca de 1.665 municípios que cresceram mais do que o país que mais cresce no mundo. 

Algo interessante a observar no mapa acima é que o crescimento se concentrou em municípios e regiões onde historicamente há menor desenvolvimento econômico e social, o interior do país, algo importante sob vários aspectos, sejam eles a diversidade da economia, o impacto econômico positivo em regiões mais carentes e consequentes pré-condições para redução de desigualdades ou a consolidação de novos polos econômicos nacionais. Estados como Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Paraná e Roraima contaram com mais de 80% de seus municípios nas duas faixas verde do mapa, ou seja, com os maiores crescimentos do PIB.


Nota-se o mesmo destaque para o interior do país quando, por exemplo, são somados os resultados das duas melhores faixas da tabela 1. Neste caso destacam-se as regiões Centro-Oeste, Norte e Sul por possuírem mais de 70% de seus municípios neste perfil. Ao passo que a região Sudeste, com a economia historicamente mais consolidada, possui a menor proporção entre todas as regiões (59,9%), e ainda a maior proporção (19%) de municípios com redução do PIB real no período analisado. No entanto, é possível observar no mapa que duas das áreas mais carentes desta região, o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e o Vale do Ribeira, no sul de São Paulo, foram duas das áreas mais beneficiadas do Sudeste.

Quando observado o PIB por seus componentes desagregados e, sobretudo, pela evolução no período de 2010 a 2013 do valor adicionado dos grandes setores, como exposto na tabela 2, verifica-se o papel significante da indústria no país como um todo, com um crescimento médio anual de 14,2%. A região Norte se destaca com o alto resultado de 27,1% de crescimento médio anual do setor, e os cerca de 81 mil empregos criados na indústria da região, um crescimento de 19,8% sobre o mercado, até então ocupado por 410 mil trabalhadores em dezembro de 2009.
O setor de serviços e comércio, sobretudo quando contempla os serviços públicos, também obteve destacáveis resultados, com o crescimento médio anual de 13%. No entanto, sua distribuição regional foi mais equânime, indo de um crescimento de 11,5% na região Centro-Oeste a 14,6% no Sul. No Brasil houve um saldo total no período de 2010 a 2013 de quase quatro milhões de novos ocupados no setor, um salto de 13,3% ante ao estoque do ano anterior ao período. 

Com preponderância sobretudo nas regiões Norte (13,5%) e Centro-Oeste (12,5%), o setor agropecuário, apesar de mais tímido, também teve papel significativo no crescimento do PIB municipal do país como um todo no período. Apenas a região Nordeste passou por uma redução do setor, de 0,4%. No entanto os estados do Piauí, com 12,1% de crescimento do mercado de trabalho no setor, e Sergipe, com 9%, além de Roraima (27,9%) e Amazonas (10,6%), no Norte, e de Mato Grosso (7,5%) e Goiás (6,9%), no Centro-Oeste, estes dois últimos somando mais de 13 mil novos empregados no setor, obtiveram resultados significativos.

A evolução do PIB per capita nacional no período, apesar de crescer cerca de 4,6% ao ano, destacou-se nas regiões Sul e Centro-Oeste com 6,4 e 6,2% de crescimento médio anual real respectivamente.

O PIB total dos municípios brasileiros cresceu 6,2% em média ao ano. O desempenho surpreendente se deu nas regiões Norte e Centro-Oeste com 7,9% de crescimento médio anual para o período de 2010 a 2013. Na região Sul também houve um crescimento próximo, 7,7%. Já os municípios das regiões Sudeste, com 5,3%, e Nordeste, com 5%, obtiveram um crescimento, apesar de volumoso para o padrão mundial do período, inferior à média das demais cidades do país.

Ao atentar para a proporção de urbanização dos municípios brasileiros exposta no gráfico 1, é possível observar que os municípios com taxa média urbanização, nos quais de 40 a 70% dos domicílios são urbanos, foram os que mais cresceram no período exposto, com uma média anual de 6,8%. Mesmo os municípios com baixa taxa de urbanização apresentaram resultados pouco superiores em relação aos altamente urbanizados, com crescimento médio de 5,9% ante os 5,7% dos segundos.

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