Diante deste cenário, resta a certeza de que é necessária uma mobilização social, política e cultural em defesa da Constituição e dos direitos sociais

Por: Lúcio Costa*

Como diria o Dr. Leonel Brizola, “se algo tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré, como é que não é jacaré? ”. Daí, que não seja o caso de dúvidas: há um golpe em movimento.

Na sexta-feira (04/03), ocorreu a “condução coercitiva” de Lula a depor para a PF em Congonhas. No mesmo dia o vice-presidente Michel Temer em solenidade no interior de São Paulo foi tratado como presidente.
No sábado (05/03), diante do efeito negativo da operação de Moro e da PF contra Lula – segundo a Vox Populi 56% dos entrevistados (as) desaprovaram a inclusão de Lula na Lava Jato e 65% viram exagero na condução coercitiva – os golpistas espalharam notas e depoimentos a buscar legitimar suas ações.

Um dia antes, no melhor estilo dos políticos udenistas que nos anos 50 e 60 do século XX viviam a bater às portas dos quarteis a pedir a deposição de Getúlio, Juscelino ou Jango, o Estadão publicou matéria na qual informava que consultados pela “reportagem” supostos militares do dito Alto Comando das Forças Armadas afirmaram ter “receio da radicalização” e, que apoiam a legalidade – que poderia incluir o impeachment no cardápio – e a tranquilidade.

No domingo (06/03), a Globo avançou as peças no tabuleiro e, através de dois de seus principais escribas, Merval e Noblat, requentou a matéria do jornal dos Mesquitas e pediu, como o fez em 1964, a ação dos militares e, avisou que “os quarteis querem uma solução rápida para a crise” – o que poderia ser um indicativo de que o golpismo estaria a retirar suas apostas de uma eventual cassação da chapa Dilma/Temer no TSE para retomar, tentando para isso a um só tempo usar e afastar-se de Cunha, a senda do impeachment como instrumento do golpe.

No mesmo dia, os golpistas realizaram um aplaudaço em apoio a ação da Policia Federal. Novamente, o operativo de sempre: uma ação previamente orquestrada de setores das altas classes médias coxinhas é repercutida pela Globo, Estadão,e outros jornalões e apresentada como se fosse manifestação espontânea da população.

Assim, a combinar convocatória das Forças Armadas com a mobilização social de sua horda os golpistas tratam de recuperar o fracasso parcial de seus planos – de não haverem conseguido no dia 04/03 levar Lula preso e algemado para a cárcere de Curitiba – e seguirem adiante na marcha da realização do golpe de estado.

Na noite do domingo, o Estadão escalou Marina Silva: o “impeachment não é golpe, mas que a Rede vai continuar a defender a cassação do mandado de Dilma e Temer no TSE”.

Noutra ponta do cenário, a Globo através do Fantástico avisou: a Lava Jato está na 24ª fase, mas há material na PF já catalogado para a 31a fase. Traduza-se: o espetáculo de vazamentos seletivos e “coerções coercitivas” vai continuar e aumentará pressão sobre os setores legalistas do Judiciário, do MP e da PF.

O show udenista irá aumentar de intensidade, pois se trata de um processo em que o golpe e a deposição de Dilma – uma presidenta errática como, o revelam a pauta da reforma da Previdência e o episódio da votação no Senado da retirada da exclusividade da extração do Pré-Sal pela Petrobras – é apenas um trecho necessário na estrada da quebra dos direitos sociais – advogada já em vários projetos de lei a tramitar no Congresso Nacional – e democráticos garantidos pela CLT e a Constituição e retomada da integração subordinada aos Estados Unidos da América.

No entanto, a execução da contrarreforma liberal – um projeto de regressão social e profundo e traumático que atirará milhões a miséria – exige colocar a sociedade e, especialmente as classes trabalhadoras, de joelhos. Daí a reiterada violação da legalidade democrática e dos direitos civis, a sanha persecutória contra Lula, o requerimento do PSDB de cassação do registo PT, as tentativas de manietar o movimento sindical e calar os movimentos sociais e, em especial, a CUT e o MST.

Nos próximos dias, o conluio golpista sob a batuta do PSDB e Globo buscará realizar novos movimentos para conferir legitimidade à deposição da presidenta Dilma com vistas tanto a dar ares de legalidade à tramoia quanto a trazer às ruas a catrefa golpista para aplastar a resistência democrática.

Assim, ainda mais com as manifestações golpistas convocadas para 13/03, é certo que teremos uma semana quente, na qual é possível que se intente novamente levar Lula às grades; nas quais se realizem provocações aos partidos e organizações populares como, por exemplo, os ataques às sedes do PT em Minas Gerais e do PC do B em Aracaju, bem como venham à tona declarações/provocações das parcelas golpistas enquistadas na República, como, por exemplo, aqueles setores do Judiciário, do MP e da PF que reiteradamente têm se prestado a servir de atores no reality show golpista transmitido pela Globo e repercutido pelos jornalões e web site conservadores.

Diante deste cenário, resta a certeza de que somente uma ampla mobilização social, política e cultural que una todas as gentes em torno da defesa da Constituição e dos direitos sociais; que unicamente a resistência democrática nas ruas poderá por fim ao golpe e, com isso, impedir que voltemos aos tempos nos quais a República se fazia para os endinheirados e “a questão social era questão de polícia”.
É tempo em que hão de estar os democratas alertas, unidos e mobilizados.

 *Lúcio Costa é advogado