Argentina, Colômbia e Guatemala: resultados eleitorais
Após jornadas eleitorais em três países da América Latina no último domingo, a principal notícia é o inesperado resultado do primeiro turno na Argentina. Ao contrário de todas as pesquisas de intenção de voto, que mostravam patamares estáveis para os candidatos desde as eleições primárias de agosto (a diferença entre Scioli e Macri girava em torno de 6 a 10%, se considerada a margem de erro), a diferença entre os dois primeiros colocados ficou em 2,5%, levando a um inédito segundo turno no país.
Na província de Buenos Aires, que responde por quase 37% do eleitorado nacional e Scioli governa há oito anos, Scioli e Macri obtiveram respectivamente 37% e 33%. Macri, que é prefeito da cidade de Buenos Aires (8% do eleitorado nacional) obteve neste localidade 50%, frente aos 24% de Scioli.
Além da cidade de Buenos Aires, o candidato opositor também venceu nas províncias de Córdoba, Mendoza, Santa Fé e Entre Ríos, regiões importantes do ponto de vista econômico e demográfico. O terceiro colocado na disputa, Sergio Massa, que representa o peronismo conservador, venceu na província de Jujuy, no extremo norte do país. Em todas as outras, Scioli obteve a primeira colocação. Contudo, em relação às primárias de agosto, o candidato kirchnerista não conseguiu ampliar significativamente sua votação na província de Buenos Aires e perdeu votos na região noroeste do país (recebidos por Massa).
Outra surpresa não indicada pelas pesquisas foi a derrota do candidato kirchnerista Aníbal Fernandez na província de Buenos Aires. A candidata do Cambiemos, Maria Eugenia Vidal se elegeu com cerca de 40% dos votos (contra cerca de 35% de Fernandez).
Nas eleições para governadores, a Frente para a Vitória conservou Catamarca, Entre Ríos, Formosa, Misiones, San Juan e Santa Cruz. A União Cívica Radical venceu em Jujuy (somando três províncias: Mendoza e Corrientes). O peronismo federal, da família Rodríguez Saa, conservou sua hegemonia em San Luis e também elegeu seu candidato em Chubut. Com este resultado, a FpV controla a maioria das províncias, mas nenhuma das maiores.
No Senado, que renovou parte de seus representantes no domingo, a coalizão kirchnerista melhorou seu desempenho e terá maioria própria para procedimentos que não exijam 2/3 dos votos. O Cambiemos elegeu catorze senadores e os Progressistas não elegeram nenhum representante. Na Câmara dos Deputados, como já era esperado, a FpV diminui sua representação. A partir de 10 de dezembro, FpV e aliados terão 107 deputados (129 atualmente). A maior perda ocorreu também na província de Buenos Aires (elegeram catorze deputados frente aos vinte atuais). A composição da Câmara contará ainda com noventa deputados do Cambiemos, 31 da UNA, seis progressistas e quatro da Frente de Esquerda dos Trabalhadores.
A grande expectativa para esta semana é o anúncio de um eventual apoio do candidato Sergio Massa no segundo turno. Os 21% de Massa representam um eleitorado peronista conservador, que deve ser disputado por Macri com base na oposição ao kirchnerismo e por Scioli com base na identidade peronista (mas vale ressaltar que o próprio Macri já fez movimentos em direção aos peronistas no primeiro turno e conseguiu o apoio de parte deste segmento). A Frente de Esquerda dos Trabalhadores (de orientação trotskista), bem colocada na votação ao se posicionar acima da coalizão progressista, já anunciou o voto em branco. Os progressistas (PS, GEN e Libres del Sur) por enquanto estão divididos entre liberar o voto ou também recomendar o voto em branco.
Na Guatemala, o ex-comediante evangélico Jimmy Morales venceu o segundo turno eleitoral neste domingo com 67% dos votos. Sandra Torres, candidata pelo partido de centro-esquerda União Nacional da Esperança (UNE), obteve metade dos votos conquistados por Morales. A votação ocorreu após mobilizações de massa nos últimos meses, contra um esquema de corrupção com o envolvimento do presidente Perez Molina e da vice-presidente na arrecadação de impostos aduaneiros. Embora o presidente eleito não seja parte do segmento político tradicional do país, já que vem de uma carreira como humorista na televisão, sua boa colocação nas pesquisas atraiu setores conservadores e sua base de apoio conta com políticos como o general Édgar Justino Ovalle Maldonado, presidente de seu partido (Frente de Convergência Nacional) e acusado de violações de direitos humanos durante a guerra civil no país.
Nas eleições regionais na Colômbia, o candidato de centro-direita Enrique Peñalosa se elegeu prefeito de Bogotá com 33% dos votos. A candidatura foi apoiada pelo partido Mudança Radical, do vice-presidente German Vargas Lleras. O candidato do presidente Juan Manuel Santos, o ex-ministro da defesa Rafael Pardo, ficou em segundo lugar, com 28% dos votos. Clara Lopéz, candidata do Polo Democrático Alternativo, que representava a continuidade das últimas três gestões da esquerda em Bogotá, obteve o terceiro lugar com 18%; o candidato do ex-presidente Álvaro Uribe ficou em quarto, com 12%.
A prefeitura de Bogotá é considerada o segundo posto mais importante, atrás apenas da Presidência da República. Na capital, que responde por 25% do PIB colombiano, vivem mais de 1/5 da população do país.
As eleições funcionaram como um termômetro para medir o peso das forças políticas, em especial a disputa entre os setores de direita e de centro-direita e a influência do ex-presidente Álvaro Uribe, principal voz de oposição ao processo de paz com a guerrilha. Neste cenário, Uribe foi um dos perdedores do processo eleitoral: além de ter ficado em quarto lugar em Bogotá, tampouco conseguiu impor seu candidato em Medelín, segunda cidade do país e capital de Antioquia, sua região de origem. O setor político do vice-presidente, Cambio Radical, ganhou espaço no processo eleitoral, ampliando sua estrutura política própria na região do Caribe e fortalecendo sua base para uma eventual disputa na sucessão presidencial em 2018.
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