Construir a Frente Brasil Popular
Por Bruno Elias, secretário nacional de movimentos populares do PT.
No último dia 5 de setembro foi realizada em Belo Horizonte a Conferência de lançamento da Frente Brasil Popular. A atividade contou com mais de duas mil pessoas de 21 estados e do Distrito Federal e com representativa presença de militantes dos movimentos sociais, partidos de esquerda e organizações populares.
A abertura dos trabalhos feita por João Pedro Stédile (MST) e por Carina Vitral (UNE) apresentou os objetivos da conferência e foi seguida por grupos de trabalho a partir de quatro eixos: defesa dos direitos dos trabalhadores e os direitos sociais; defesa da democracia e por outra política econômica; soberania nacional e o processo de integração latino-americano e reformas estruturais e populares.
Como contribuição aos debates, foram apresentados pelo grupo organizador da conferência três documentos, que receberam emendas e serão divulgados após a próxima reunião da Frente em setembro: um Manifesto ao Povo Brasileiro, um texto com sugestões organizativas e um terceiro com compromissos da militância com a construção da FBP. Será sistematizado ainda um outro texto com as contribuições dos grupos de trabalho da Conferência.
O manifesto desenvolve os pontos programáticos que convocaram a conferência e que unificam as organizações em torno da FBP. Contempla as principais pautas do campo democrático e popular, como a defesa da democracia e da mudança da política econômica, o enfrentamento à criminalização dos movimentos sociais e da juventude e a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e das reformas democrático-populares, como a reforma política, agrária, urbana, educacional, tributária e a democratização dos meios de comunicação.
O documento de organização, por sua vez, resultou da mediação entre várias propostas organizativas para a Frente Brasil Popular. Em geral, são orientações que reforçam que a frente se constituirá como um espaço comum de lutas e com uma estrutura mais flexível e aberta, não devendo ser confundida com frentes eleitorais ou substitutas de outras organizações e articulações unitárias.
O método de decisão a ser contemplado será o consenso, a unidade se dará em torno do programa comum e o centro da atuação da FBP deve privilegiar as lutas sociais e as ações políticas concretas. A proposta inicial é que a FBP tenha coletivos nacionais, estaduais (dialogando com as iniciativas de unidade já em curso nos estados) e municipais e que reúnam as organizações e militantes que concordem com as propostas programáticas, sem prejuízo de contar com secretarias operativas e comissões de trabalho.
Na plenária final, além do informe dos grupos foi aprovada por aclamação a convocação de um dia nacional de luta para o próximo dia 3 de outubro. Neste dia, que marca os 62 anos de fundação da Petrobras, a Frente Brasil Popular defenderá a democracia, a mudança da política econômica e a soberania nacional contra as investidas do entreguismo e do capital internacional sobre a Petrobras e o pré-sal brasileiro.
Após a aprovação dos encaminhamentos, a Conferência foi encerrada com um grande ato político. A diversidade das bandeiras levantadas na capital mineira contemplou representantes de um expressivo número de movimentos populares do campo e da cidade, centrais sindicais, partidos de esquerda, movimentos de juventude, mulheres, negros e negras, LGBT, indígenas e quilombolas, pastorais, parlamentares, intelectuais, artistas e outros tantos militantes e ativistas de todas as regiões do país.
Dentre os partidos e organizações políticas, participaram PT, PCdoB, Consulta Popular, PCO e PCR/UP. Das organizações nacionais, o MTST e o PSOL também foram convidados formalmente, mas não participaram. Aparentemente, priorizarão outras iniciativas de mobilização e divergem do manifesto e da unidade construída em torno da Frente Brasil Popular.
Em linhas gerais, a conferência cumpriu plenamente seus objetivos, mas os maiores desafios começam agora. Seja na organização do dia nacional de luta ou no enraizamento da iniciativa em todo o país, é fundamental o engajamento das organizações populares e da esquerda social nas plenárias e reuniões locais de mobilização e no necessário e cuidadoso esforço de unidade na diversidade.
O lançamento da Frente Brasil Popular ocorre em um momento de acirramento da luta de classes no país. Na crise política e econômica em curso, a direita articula com desenvoltura sua pauta e programa. Ao lado do golpismo contra o governo eleito e contra a democracia, a ofensiva do campo conservador tem se dado por meio de medidas recessivas de ajuste e de uma agenda regressiva no campo dos direitos e das políticas sociais.
Mais do que nunca é hora de reagir contra a ofensiva da direita. O lançamento da Frente Brasil Popular e as lutas sociais que serão por ela impulsionadas são parte do esforço do campo democrático e popular para colocar a agenda dos trabalhadores como saída à esquerda para o atual momento político.
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