A percepção dos limites aos efeitos da agenda positiva não significa que ela não deva ser buscada, mas pode não ser suficiente para recuperar a economia

Por Ernesto Pereira

O título acima é propositalmente provocador. É claro que as ações do governo que melhorem a vida das pessoas nunca são irrelevantes, especialmente para aqueles que são por elas diretamente afetados e cuja existência pode mudar radicalmente. Entretanto, ao contrário das expectativas que nela muitos depositam, a agenda positiva que as agrega pode se mostrar quase inócua para impulsionar a atividade econômica e alterar de forma relevante a avaliação majoritária do governo e, com isso, restaurar suas condições políticas de mudar a realidade do país.

Para alcançar esse resultado desejado, a agenda positiva, ao promover gastos e transferir recursos e ao remover barreiras institucionais ao investimento e à produção, deveria não só gerar impactos econômicos diretos, embora localizados, mas também, e principalmente, levar à melhoria das expectativas sobre a evolução da economia, que por sua vez afetaria positivamente a situação econômica atual. Contudo, numa conjuntura de grandes cortes no orçamento dos órgãos públicos e de fragilidade da base parlamentar no Congresso, em que escasseiam os recursos financeiros e a capacidade de alterar normativos legais, os impactos diretos da agenda são claramente limitados. E mais importante ainda, a prometida melhora das expectativas como fruto das medidas tomadas pode, inclusive, vir a não acontecer, já que depende crucialmente da forma em que essas medidas e seus efeitos esperados são comunicados à sociedade e de como ela os recebe.

E no Brasil, essas medidas e efeitos são transmitidos majoritariamente por veículos de comunicação que, em geral, se opõem ao atual governo. Com isso, a sociedade acaba tendo pouco acesso às informações ligadas à agenda positiva, difundidas que são em meio à cobertura de múltiplas agendas negativas às quais é normalmente dedicada uma atenção muito maior. Ainda, essas informações, comunicadas de forma parcial encobrindo seus benefícios e concentrando-se em seus riscos e efeitos sobre grupos eventualmente por elas prejudicados, são recebidas por amplas parcelas da sociedade com indiferença e desconfiança, quando não com repulsa. Essa situação, provocada pela disseminação impulsionada por aqueles veículos de comunicação de uma narrativa sobre a história recente fortemente crítica ao governo e ao principal partido que o apoia, ao invés de reverter-se, tende a se consolidar conforme a estagnação econômica se prolonga e deterioram-se as condições de vida da população. Diante disso, não é claro que a agenda positiva, mutilada durante sua transmissão e recebida por grupos em grande parte carregados de sensos-comuns contrários a quem a produziu, possa alterar significativamente as expectativas de modo a gerar impactos positivos no curto prazo.

A percepção dos limites aos efeitos da agenda positiva não significa, contudo, que ela não deva ser buscada, mas que simplesmente “tocar o governo” pode não ser suficiente para recuperar a economia e resgatar o protagonismo do governo na transformação do país. Para isso, a elaboração de um discurso capaz de quebrar aqueles sensos-comuns e situar o governo na defesa de um modelo de desenvolvimento contraposto a outros defendidos por seus opositores é essencial, e o desenvolvimento de mecanismos alternativos pelos quais esse discurso e as medidas a ele associadas possam ser transmitidos à sociedade é mais urgente do que nunca.