“Toda vez que ele (FHC) não tem explicações para a sociedade das coisas que não estão dando certo no Brasil, ele tenta procurar alguém para jogar a culpa.”, afirmou o petista.

O dirigente petista Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à rádio CBN esta manhã, deu sua resposta às críticas feitas à oposição e ao PT pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista a Tereza Cruvinel, colunista do jornal O Globo, na edição de quarta-feira. Sobre a “ameaça à democracia” citada pelo presidente, Lula considerou que o “terrorismo é parte da cultura política tucana”.

Fernando Henrique disse que a atual tensão política representa “ameaça à democracia”, ou “risco de crise institucional”. Para Lula, pelo contrário, “acabar com a impunidade é uma forma de fortalecer a democracia brasileira”.

“O risco pode acontecer é se nós não formos enérgicos e duros para apurar todas as denúncias que surjam em todos os escalões de qualquer governo”, completou Lula. “Toda vez que ele (FHC) não tem explicações para a sociedade das coisas que não estão dando certo no Brasil, ele tenta procurar alguém para jogar a culpa.”

Lula também falou sobre a viagem à China de comitiva petista encabeçada por ele e pelo presidente nacional do partido, deputado federal José Dirceu (SP), que será encerrada nesta sexta-feira. “O que é importante é a maneira como o Estado chinês está participando da globalização. O capital estrangeiro está participando ativamente do desenvolvimento da China, mas o Estado não abriu mão de ser o planejador e o definidor das prioridades para o país. Era isso o que deveria ter acontecido no Brasil”.

A seguir, a versão integral:
Entrevista de Lula para CBN
24 de maio de 2001, 8h30

CBN: Qual é a reação do PT às críticas o presidente FHC em que ele fala inclusive de um clima fascista que o país viveria hoje?

Lula: Eu não tenho acompanhado o dia-a-dia da política brasileira, porque estou fora do Brasil desde o dia 13 de maio. Agora mesmo estou falando com você de Xangai. Eu queria dizer que as críticas que, porventura, o presidente da República tenha feito ao PT já fazem parte do seu jeito de governar. Toda vez que ele não tem explicações para a sociedade das coisas que não estão dando certo no Brasil, ele tenta procurar alguém para jogar a culpa sobre ele. O que, na verdade, o Partido dos Trabalhadores queria não é nada mais nada menos do que aquilo que 94% da população brasileira queria: a apuração das denúncias de corrupção.

Eu mesmo fiz uma crítica ao presidente da República dizendo que ele, até então, não tinha sido envolvido em denúncias de corrupção – e não havia qualquer pessoa que insinuasse que o presidente estivesse envolvido. Mas, quando ele entra na luta direta para evitar que aconteça a CPI, obviamente ele traz para si o peso da responsabilidade de estar coonestando com todo o processo de corrupção que a imprensa brasileira fartamente tem denunciado todo santo dia.

Nós do PT não queríamos e não queremos culpar ninguém. O que nós do PT queremos é apurar. Se tiver culpado, puna-se. Se não tiver culpado, obviamente que todos aqueles que são acusados merecerão um pedido de desculpas.

CBN: Lula, existe algum risco de crise institucional ou ameaça à democracia como o presidente FHC citou nesta entrevista à Tereza Cruvinel?

Lula: Eu não acredito. Faz parte da cultura política dos tucanos venderem terrorismo quando a situação não está favorável a eles. Veja, o Brasil é um país que tem uma Constituição, um país que está com sua democracia se consolidando. O que não é possível é a gente continuar convivendo com a democracia subordinado a esse montante de denúncia de corrupção que envolve gente tão graúda. Não é possível você tentar evitar a cassação do ACM alegando que a democracia brasileira corre risco. Precisamos acabar com a impunidade no Brasil como forma de fortalecer a democracia brasileira. Eu acho que o risco pode acontecer se nós não formos enérgicos e duros para fazer as apurações de todas as denúncias que surjam em todos os escalões de qualquer governo.

CBN: Lula, na semana retrasada, nós conversamos com o senhor, aqui no Jornal da CBN, logo depois que a CPI da Corrupção foi barrada pelo governo federal e o senhor disse que havia ali claramente uma grande negociação para, quem sabe, não haver nenhuma punição aos senadores ACM e Arruda. Ontem, houve a reunião do Conselho de Ética e decoro parlamentar do Senado e ficou aprovado o relatório que pede a cassação dos dois senadores. O senhor errou na sua avaliação há 2 semanas?

Lula: Não, porque eu sabia que na Comissão passaria a cassação. Eu tinha convicção de que passaria a cassação e disse que a única forma de evitá-la seria o ex-presidente do Senado (ACM) renunciar junto com o Arruda. Ora, quando Jader Brabalho pede mais 15 dias de prazo, obviamente que estão tentado encontrar uma saída honrada para evitar a cassação de ACM. Eu penso que o Senado está diante de uma situação muito complicada porque, se não cassar o ACM, ficará desmoralizado diante da opinião pública.

Eu acho que o Senado vai cassar. Porém é importante que tenha muita gente de olhos abertos, porque a pressão vai começar nesses dias para que não seja cassado o senador ACM. Até porque me parece que tem muita gente querendo o apoio dele para as eleições de 2002, então não interessa vê-lo cassado. Eu acho que ele cometeu um crime grave, uma falta muito grave. Ele era presidente do Senado, burlou o sigilo do voto que estava estabelecido na Constituição, traiu os seus pares, porque fez uma coisa sem que ninguém soubesse e, portanto, não vejo outro caminho que não seja a cassação. A única forma de evitar seria renunciar antes da votação.

CBN: Então, pelo que o sr fala, não houve o tal acordo para derrubar a CPI da Corrupção e não punir os dois senadores?

Lula: O que eu acho que há é uma tentativa de construir esse acordo. Obviamente que vai depender muito da pressão da sociedade brasileira. Eu estou acompanhando daqui e vejo o que está acontecendo. Quando o Jader Barbalho pede um prazo de 15 dias, obviamente há a tentativa de negociar. O Bornhausen está tentando negociar.

Porém a pressão da sociedade é tanta que mesmo aqueles que tenderiam a ficar com pena porque o ACM está virando o bom mocinho não terão coragem de votar a favor dele. Até porque, se votar, o Senado está desmoralizado. Então, estou confiante de que haverá a cassação, e a cassação será um bem para o Brasil, e quem sabe um exemplo para que nunca mais haja esse tipo de má-fé por gente com cargos tão importantes.

CBN: Lula, o que o senhor faz na China neste momento?

Lula: Olha, eu estou me preparando para voltar para o Brasil. Visitei Pequim e Xian, agora estamos em Xangai. Duas coisas nos trouxeram à China. Primeiro, o convite do governo e do Partido Comunista Chinês. Nós estamos restabelecendo relações com o PCC. Segundo, viemos conhecer o modelo de desenvolvimento que acontece em Pequim e Xangai. O que nós estamos vendo aqui é uma verdadeira revolução no desenvolvimento. Acho que poucas vezes na história recente da humanidade uma cidade cresceu tão rapidamente como está crescendo Xangai. Em dez anos esta cidade deu um salto de qualidade. Aqui é o lugar onde há os maiores investimentos estrangeiros hoje.

O que é importante é a maneira como o Estado chinês está participando da globalização: o capital estrangeiro está participando ativamente do desenvolvimento de Xangai, de Pequim e da China de um modo geral, mas o Estado não abriu mão de ser o planejador e o definidor das prioridades para o país. Isso é o que eu acho importante e era isso o que deveria ter acontecido no Brasil.


Extraído do site Linha Direta do PT de 24/05/2001

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