“Um país com a dimensão do Brasil, com a força econômica, política e cultural que tem, não pode permanecer de joelhos como está.”



A campanha presidencial deste ano será marcada pelo debate político e programático, mas também será de mobilização. A televisão e o rádio serão importantes instrumentos para atrair um maior número de pessoas, mas é fundamental aproveitar a campanha para conscientizar os eleitores e convencê-los de que podem ter segurança e confiança no PT.

Esse trabalho deve ser baseado no Programa de Governo do PT, que reflete os 22 anos de vivência social e experiência administrativa do partido. É preciso deixar claro que as nossas propostas só terão viabilidade no mundo de hoje se formos capazes de representar as aspirações e os interesses sócio-econômicos da sociedade brasileira.

O PT terá governar um país cindido socialmente, onde a maioria não tem acesso às riquezas que produz e com uma economia dependente como nunca do capital externo. Por isso, não teremos outra alternativa além de governar com apoio, sustentação e unidade internos para enfrentar os desafios impostos pela atual conjuntura internacional, em que impera uma hegemonia política, militar e econômica dos Estados Unidos.

Um país com a dimensão do Brasil, com a força econômica, política e cultural que tem, não pode permanecer de joelhos como está. Porque assim o colocaram suas elites, endividando-o sem necessidade. Não é verdade que o Brasil, para se desenvolver, precise do capital externo. Nenhuma economia com a dimensão e com as características brasileiras se desenvolveu assim.

É com base no mercado interno, na poupança interna, na vontade política da nação que países como o Brasil avançaram. O capital estrangeiro e o mercado externo são complementares nesse processo, não a sua base. O Brasil cresceu nas crises internacionais porque seus dirigentes souberam se aproveitar delas e defender os interesses nacionais, ainda que não deixassem a maioria da população se beneficiar do desenvolvimento.

A idéia da dependência externa foi uma ilusão que a elite política brasileira, por interesse próprio, pregou ao país. E o mais grave é que essa idéia acaba com a garra, com o sentimento nacional, com a vontade política. Enfraquece a nação, enfraquece nossas defesas. Vejam a situação de outros países da América do Sul. Vejam o resultado de 20 anos de neoliberalismo no mundo.

É por isso que o Brasil não pode e não tem tempo para esperar. É por isso que temos de vencer essas eleições. Mas o PT não é um partido empresarial, não é um partido burguês. O PT é um partido popular, de esquerda, socialista. Isso faz com que as alianças sejam necessárias para que possamos alcançar nossas metas.

O modo petista de governar — as políticas públicas de inclusão social, a concepção de participação popular, a concepção dos principais instrumentos para financiar a pequena economia, a economia solidária — é resultado de alianças com a sociedade, com as classes populares e médias e também com o pequeno e médio empresariado. Hoje, além disso, temos importantes parceiros no grande empresariado — a quem não podemos simplesmente dar as costas, porque no Brasil o empresariado é força determinante.

As alianças não são, portanto, apenas político-partidárias ou eleitorais. Elas são alianças que correspondem ao momento histórico que nós estamos vivendo no mundo e no Brasil. Correspondem à construção do PT nesses 22 anos, correspondem à alternativa que nós podemos e devemos constituir à coalizão conservadora que o PSDB hegemoniza junto com o PFL e à elite político-empresarial que fez o Brasil aderir à globalização neoliberal excludente.

Uma coisa é o PT assumir compromisso com os contratos, com a legalidade, com a Constituição, com a responsabilidade fiscal, com o controle da inflação. Mas ninguém ouse duvidar que o PT vá abrir mão dos seus compromissos históricos porque faz alianças. As alianças são necessárias. Os apoios que recebemos são bem-vindos, mas nós temos os nossos compromissos históricos. Porém também temos a compreensão de que, nessa conjuntura internacional, temos de fazer o que estamos fazendo, não só para vencer as eleições, mas para realizar as mudanças que todos nós queremos. Esse é o meu sentimento, essa é a minha convicção.

Essa campanha, portanto, não é uma campanha do PT — ela é também do PT. É uma campanha suprapartidária em defesa do Brasil, é um movimento político em defesa de uma revolução social no país, de uma ruptura com o governo Fernando Henrique Cardoso, representante de uma elite política e empresarial que renunciou ao projeto nacional, não fez justiça social e não democratizou o país — pelo contrário, amesquinhou as instituições democráticas, inclusive com métodos condenáveis.

Nós temos de vencer as eleições porque o Brasil não terá outra chance. É evidente que toda mudança implica algum risco. Mas o risco de mudar é muito menor do que o de continuar na atual situação — que levará o Brasil ao colapso político, econômico, social e moral. Vamos fazer uma transição com segurança. O PT não será mais uma decepção como foram outras forças políticas e sociais. Esse é o compromisso do PT. Esse é o compromisso de Lula.

José Dirceu

Presidente nacional do PT e deputado federal

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