Lula abre sua vida pessoal sem pudores ou censura

Denise Paraná, jornalista e autora da biografia de Luís Inácio Lula da Silva, conta nesta entrevista como foi escrever a história de um dos principais líderes populares do nosso país. “A história de Lula, da família Silva, é, ao mesmo tempo, tão simples e sofrida, e tão complexa e grandiosa, que traduz o verdadeiro espírito brasileiro”, afirma ela.

Como foi escrever a biografia de Luís Inácio Lula da Silva, um dos principais líderes políticos de nosso país?

Foi um grande desafio mas, ao mesmo tempo, um prazer e um privilégio. Desafio porque eu tinha consciência das dificuldades de realizar uma pesquisa enveredando por um assunto tão complexo. Também sabia que o livro teria grande percussão e, por isso mesmo, minha responsabilidade era ainda maior. Mas foi também um grande prazer porque com Lula e seus irmãos pude aprender muito, sobre eles e sobre a vida. A história de Lula, da família Silva, é, ao mesmo tempo, tão simples e sofrida, e tão complexa e grandiosa, que traduz o verdadeiro espírito brasileiro. Poder escrever esta história foi um grande privilégio.

Quais os desafios que você enfrentou?

Os desafios foram muitos. Meu objetivo era descobrir quem é verdadeiramente esse líder de massas, como ele surgiu e o que significava para o Brasil. Então, tive que buscar uma certa neutralidade ainda que, em ciências humanas, seja impossível alcançar a “neutralidade absoluta”. Trabalhei muito duro na pesquisa, que levou anos. Houve também o desafio metodológico, já que a pesquisa foi multidisciplinar, quer dizer, trabalhei com história, sociologia, ciência política, economia e psicanálise. Tinha que realizar o cruzamento entre estas ciências para buscar compreender meu personagem em sua plenitude. Foi uma tarefa árdua.

O que trouxe mais satisfação com a nova edição de Lula, o Filho do Brasil?

Nessa nova edição o livro foi atualizado, revisto, ampliado, duas novas entrevistas foram incorporadas ao texto original. A Fundação Perseu Abramo realizou uma edição bonita, a capa foi muito feliz. O trabalho ganhou uma dimensão muito maior, abrangendo um público leitor bastante amplo em relação à classe social, à idade e à ideologia. Acho que foi isso que me trouxe mais satisfação, o fato de poder compartilhar com milhares de leitores essa história de vida ímpar que é a do nosso presidente.

Lula faz alguma distinção entre o homem particular e o homem público? Como ele encarou o fato de expor sua vida em livro?

Você tocou num ponto importante, talvez uma das marcas pessoais do novo presidente seja esta, a de abrir a sua vida pessoal sem pudores ou censura. Nas entrevistas, nos impressionamos com sua sinceridade, com sua coragem em tocar em assuntos que poucos tocariam. Além disso, Lula pediu aos seus irmãos que também abrissem seus corações sem medo, assim como ele o fez. E em nenhum momento pediu que inserisse ou cortasse qualquer informação no livro. Lula me deu a mais absoluta liberdade. Para um homem público, isso é realmente impressionante.

Como você está vendo a repercussão do livro. Fala-se de “Lula no divã”, você concorda com este ponto de vista?

Eu sempre explico que não sou psicanalista nem tampouco psicanalista do presidente. O que faço é, como historiadora, utilizar-me de um método denominado psico-história para compreender os aspectos subjetivos do meu biografado. Este método, que utiliza conceitos da psicanálise, é muito potente, amplia os horizontes do historiador e o torna capaz de compreender melhor a complexidade humana. Tinha clareza de que se fizesse uma pesquisa considerando apenas os aspectos objetivos da vida de Lula não alcançaria seus sonhos, seus anseios, não compreenderia o que o mobiliza nem tampouco o “barro” que o forjou. Nós somos muito maiores que nossas condições objetivas.

Você tem dito que pretende dar continuidade a esta biografia. Como pretende fazer isso?

Bem, há um projeto de adaptação de Lula, o filho do Brasil para o cinema no qual estou envolvida. Também estou trabalhando numa nova pesquisa sobre o assunto, que irá originar um novo livro. Há muito material importante que ficou de fora desta edição por falta de espaço. Então, estou arregaçando as mangas novamente.

Para saber mais sobre o livro Lula: o filho do Brasil, clique aqui.