Eleições britânicas
No dia 7 de maio houve eleições no Reino Unido para eleger os 650 representantes da Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento britânico), após uma disputa acirrada e pesquisas que apontavam um quase empate entre dois principais partidos: Trabalhista e Conservador.
Durante a campanha, o atual primeiro-ministro conservador, David Cameron, buscou se afastar da sigla até então aliada, o Partido Liberal-Democrata, que passou a criticá-lo devido à rígida política de austeridade fiscal adotada nos últimos anos e a consequente resistência popular, fato que pesou na popularidade também dos liberais. Além disso, Cameron sinalizou com algumas políticas nacionalistas (“leis inglesas para eleitores ingleses”, referendo sobre a permanência na União Europeia), numa tentativa de atrair eleitores do Ukip (Partido pela Independência do Reino Unido – nacionalista). Também se utilizou dos bons resultados econômicos, como a maior taxa de crescimento na Europa (2,8%), taxa de desemprego de 5,5% e inflação zero; estes números, porém, não levaram ao aumento de sua popularidade. Os conservadores ficaram praticamente isolados para este pleito.
Outros dados econômicos atuais:
– a renda per capita continua abaixo do nível pré-crise, caindo 2,4% entre 2010 e 2014; – indústria e construção ainda operam em níveis pré-recessão; – pela primeira vez desde que existem estatísticas a respeito (1960), ocorreu queda no padrão de vida em um período de cinco anos; – desde 2010, 900 mil pessoas passaram a depender dos chamados “bancos de comida”, número 15 vezes maior; – em termos reais (descontada a inflação), os salários caíram, ano após ano, desde 2009, véspera da vitória de Cameron; – a promessa do líder conservador de zerar o déficit público que era de 9,6% do PIB não se realizou, e agora ele está próximo a 5% .
As pesquisas apontavam para um segundo lugar apertado para os trabalhistas, que argumentavam que as políticas fiscais elevaram o custo de vida do país e afetaram o funcionamento dos serviços públicos. Mesmo com dificuldades para obter a maioria ou o primeiro lugar, contavam com a possibilidade de apoio do Partido Nacional Escocês (SNP), que não faria parte do governo, e uma possível virada dos liberais-democratas para o seu lado, ambos cogitando eleger Ed Miliband, seu líder, mas sem integrar o governo, criando um chamado governo de minoria. Miliband é um político de centro-esquerda cuja proposta apostava no crescimento baseado na melhoria dos serviços públicos e na maior participação da classe trabalhadora na economia. Ele cresceu no partido comandando uma reviravolta à esquerda após a derrota de Gordon Brown para David Cameron em 2010, após 13 anos de governo trabalhista.
A grande sensação da campanha foi o próprio SNP e sua líder, Nicola Sturgeon. Este partido caminhava para tirar os trabalhistas como primeira força política da Escócia, e os liberais como segunda força britânica. Em comum com os trabalhistas, o SNP critica a austeridade do governo de Cameron, defende a permanência na UE e ambos são essencialmente sociais-democratas.
O Partido Liberal-Democrata buscava manter algum protagonismo político, e o Ukip tentava repetir dentro de casa o sucesso obtido nas eleições para o Parlamento Europeu.
Um dos temas mais importantes nestas eleições britânicas foi a imigração. Alguns números que atestam essa importância:
– até setembro de 2014, 624 mil pessoas entraram no RU, das quais 251 mil da UE, e 327 mil deixaram o país; – 74% dos imigrantes são trabalhadores e estudantes; – a sociedade britânica está cada vez mais diversa, mais de 100 línguas são faladas nas escolas de Londres; – um terço dos funcionários do sistema de saúde pública nasceu no exterior.
Muitos empresários querem trabalhadores da UE por serem baratos e fáceis de serem empregados. A não ser que mude sua relação com a UE, o livre movimento de pessoas deve continuar. A promessa de um plebiscito até 2017 sobre a permanência do país na União Europeia é uma forma de reagir à pressão dos britânicos em relação ao livre trânsito de imigrantes no bloco, sobretudo os do leste do continente. A campanha também foi conduzida como se o resto do mundo não existisse. A política externa foi quase apagada. Cameron deixou o Reino Unido longe das principais decisões políticas da UE, como as negociações de paz sobre o conflito na Ucrânia.
Resultados
O resultado final das eleições foi uma surpresa, mostrando como os institutos de pesquisas estão sujeitos a erros, bem como algumas discrepâncias do sistema de voto distrital britânico, em que a porcentagem de votos nacionais não se reflete na representação parlamentar.
O Partido Conservador teve uma vitória incontestável e vai governar sem a necessidade de qualquer apoio ou coligação com outro partido. Foram 331 cadeiras, 5 a mais do que a maioria simples de 326, conquistadas através de 36,9% dos votos.
O Partido Trabalhista, em segundo, obteve 232 cadeiras, abaixo mesmo dos prognósticos, com cerca de 31% dos votos.
Um dos grandes vencedores, o Partido Nacionalista Escocês conquistou 56 cadeiras, dentre as 59 a que a Escócia tem direito no Parlamento britânico, ante 6 na legislatura anterior, apesar de ter tido somente 4,7% dos votos. Mas o fato de terem ficado concentrados na Escócia ajudou na obtenção destas cadeiras. Este resultado mostra que o plebiscito de 2014 fortaleceu o partido, apesar da derrota de sua proposta.
O Partido Liberal-Democrata caiu de 57 para 8 cadeiras.
O Ukip teve 12,6% dos votos totais (terceiro partido mais votado), mas devido à dispersão do mesmo pelo país, conseguiu uma única cadeira no Parlamento, contrariando o sucesso nas eleições para o Parlamento Europeu.
Mapa dos resultados (Legenda dos partidos não citados anteriormente.) – Plaid Cymru (Partido de Gales): partido nacionalista galês, de centro-esquerda – DUP (Partido Democrático Unionista): partido unionista norte-irlandês, de direita – Sinn Féin (Irlanda do Norte): partido republicano irlandês, independentista e de centro-esquerda – SDLP (Partido Social Democrata e Trabalhista): partido nacionalista irlandês, independentista e de centro-esquerda.
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