Leia o texto de abertura da III Conferência da Amazônia, realizada nos dia 02, 03 e 04 de abril de 2004 em Rondônia.

Evento impulsiona debate sobre desenvolvimento amazônico

Senhoras e Senhores,

Os movimentos sociais dos trabalhadores e representantes das populações indígenas da Amazônia os ribeirinhos, os povos da floresta, os caboclos, realizam com esta III Conferência uma tarefa de suma importância para o país. A Central Única dos Trabalhadores, o Movimento Articulado das Mulheres da Amazônia, o Grupo de Trabalho da Amazônia, as Federações dos Trabalhadores Rurais, Conselho Nacional dos Seringueiros, a CONTAG, Organizações não-governamentais, os Partidos Políticos com presença na Amazônia e a Fundação Perseu Abramo mobilizam seus militantes, estudiosos, pesquisadores, lideranças e dirigentes para dar conseqüência a um esforço de formulação de alternativas que já percorreu décadas de diálogo, de conflitos, de alianças, de debates, de lutas não raro, marcadas pelo sangue de mártires como Chico Mendes, Adelaide Molinari, Ezequiel Ramin, Josimo Tavares, os índios Tikuna, os Cinta-larga do Paralelo11 ou os Sem Terra de Corumbiara.

Esses movimentos sociais tecidos a partir das pequenas lutas locais, dos sonhos dos interesses concretos e legítimos de uma gente determinada e lutadora proporcionam um fato novo ao instalar com esta III Conferência da Amazônia um espaço de diálogo, de debate maduro, de busca de soluções com diferentes instâncias do Estado Brasileiro. Um Estado secularmente autoritário e oligárquico mas que hoje, tendo à sua frente muitos dirigentes e lideranças daqueles mesmos movimentos sociais que se constituíram ao longo das últimas décadas, senta-se frente à sociedade organizada para estabelecer critérios comuns de ação e metas para um novo projeto de país: inclusivo, sustentável e socialmente justo.

Para tanto foi indispensável o concurso, o empenho das empresas e agências públicas que são fatores de desenvolvimento da região Amazônica, como a Eletronorte, o Banco da Amazônia, Furnas e a Petrobrás. E o apoio de governos municipais e estaduais da região.

A III Conferência da Amazônia revela um fato que merece registro tanto por sua importância como por seu desconhecimento aos olhos dos centros políticos e econômicos do Brasil: o importante avanço na produção do pensamento sobre a região, nos diferentes centros de ensino e pesquisa, a formulação de propostas que não se atém ao horizonte regional, mas oferecem alternativas para o país a partir do olhar dos amazônidas, contemplando a região como um espaço particularíssimo no contexto global, nesses primeiros anos do século XXI.

Mas, a III Conferência da Amazônia não foi constituída pelos movimentos sociais dos trabalhadores, das populações ribeirinhas, dos povos da floresta e representantes de comunidades indígenas da região como um simples espaço de reflexão acadêmica. Sempre foi concebida como um momento de reflexão acadêmica. Sempre foi concebida como um momento de reflexão e ação políticas desde que nos reunimos em Belém, em 2000 e, em Macapá, em 2001.

Oferece, desse modo, um valiosa contribuição para consolidar as redes que se tecem a partir da sociedade civil para oferecer propostas, confrontar experiências, dialogar em torno de pequenos, médios e grandes projetos de desenvolvimento local sustentável, incorporando a Amazônia ao debate nacional, não apenas como uma região tradicionalmente fornecedora de matérias primas e comodities para o desenvolvimento do Centro-Sul do país, mas como sujeito e destinatária deste desenvolvimento e laço entre o esforço dos amazônidas brasileiros e seus visinhos na Venezuela, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia.

E, mais que isto, como momento privilegiado de organizar a vontade transformadora dos amplos setores da sociedade brasileira que carregam consigo as bandeiras do combate à fome, às desigualdades sociais, as bandeira da Reforma Agrária e do estímulo à agricultura familiar, os direitos das comunidades indígenas ao seu território e a diversidade de suas culturas, as bandeiras da sustentabilidade, da utilização responsável e solidária com as gerações futuras dos recursos naturais, bandeiras enfim incorporadas pelas sociedades amazônicas como indispensáveis a uma nova perspectiva de desenvolvimento.

A Fundação Perseu Abramo parceira deste esforço desde a sua concepção em 1999, quando ainda era presidida pelo Ministro Luiz Dulci, que nos honra hoje com a sua participação, entende que vivemos um momento crucial para o Brasil e para a Amazônia. Pela primeira vez estamos realizando a Conferência depois da histórica vitória popular que elegeu o companheiro Lula para a Presidência da República no 27 de outubro de 2002. Passados 15 meses de enormes dificuldades não apenas pelas heranças dos governos anteriores, pela vulnerabilidade externa do país, mas também pela enorme complexidade dos interesses em conflito na sociedade brasileira e pela permanente disputa de projetos para o Brasil.

É preciso registrar que o Governo Federal aqui representado por dirigentes de primeiro escalão, não apenas acolhe o chamado dos movimentos sociais da Amazônia, reconhecendo, portanto, sua legitimidade, mas também abrindo oportunidade para um diálogo novo, que esperamos seja não apenas a expressão do exercício democrático conquistado pelo povo brasileiro com a vitória do companheiro Lula, mas também um diálogo produtivo na busca das alternativas de desenvolvimento democrático, sustentável e socialmente justo para Amazônia.

Hamilton Pereira
Presidente da Fundação Perseu Abramo
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