“(…) minuciosa observadora, nos faz percorrer, através de seu olhar inquieto, o itinerário das mudanças e transformações por que passa- mos neste século.”


Orelha do livro “Vida e Arte”, de Lélia Abramo, Editado pela Fundação Perseu Abramo

A extraordinária saga da família Abramo explode com vigor nas páginas de Vida e arte, por meio do relato emocionado de uma mulher, uma artista de sensibilidade à flor da pele, que atrelou seu destino às causas libertárias, à cultura e à sua grande paixão: o ser humano.
“O espaço em que vivíamos na infância era vasto, amplo e livre de proibições. A natu- reza dominava soberana o exterior da casa e, no interior, suas paredes repercutiam os ecos e embates políticos do mundo todo; arte e literatura, política e poesia eram o principal alimento do nosso cotidiano; falávamos de tudo isso, sem nos preocuparmos com a realidade material da vida. Assim foi meu primeiro olhar sobre o mundo.”

Vivendo entre dois continentes, duas civilizações, em meio a duas grandes guerras e tantos outros acontecimentos, Lélia Abra- mo, minuciosa observadora, nos faz percorrer, através de seu olhar inquieto, o itinerário das mudanças e transformações por que passa- mos neste século.

Quando retorna ao Brasil em 1950, após 12 anos de permanência na Itália deflagrada pela guerra, tem de recomeçar tudo outra vez.

“Construir a felicidade não foi o nosso destino (…) No rastro de espuma, deixado pelo navio nas águas azuis do Mediterrâneo parecia que eu ia perdendo a maior parte do meu coração e de minha alma.”

Conquistas e derrotas, enfermidades, amo- res sufocados, sonhos e frustrações não aba- tem o ânimo desta incansável ítalo-brasileira.

“A família era a mesma, as idéias eram as mesmas, os afetos eram inumeráveis e fortalecidos pela saudade, mas o Brasil e a Itália eram universos diferentes (…) Era necessário, porém, enfren- tar a realidade e, de novo, tomar decisões práticas.”

Dedicando-se à realização de um velho anseio, inicia aos 47 anos sua carreira profissional no teatro, com um personagem inesquecível: a Romana de Eles não usam black-tie, de Giafrancesco Guarnieri, marca definitivamente sua presença na cena brasileira.

Outros trabalhos relevantes sucede-ram-se no teatro, no cinema e na televisão. Mas foi na sua eterna luta pela justiça social que, à frente do Sindicato dos Artistas, eleita presidente pela chapa Urdimento, presta inestimáveis serviços à categoria, no mo-mento de sua regulamentação profissional junto ao Ministério do Trabalho.

<!– @page { margin: 2cm } P { margin-bottom: 0.21cm } A:link { so-language: zxx } –>

http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1476

Ao mesmo tempo, junta-se às vozes que clamam por um Brasil democrático.

“Eu aderia e participava de todos os movimentos de rua, dos comícios e das passeatas. Enfim, entre uma novela, um filme e o Sindicato eu fazia o que era possível nessa luta.”
Conhece Lula e surpreende-se com sua coragem e sua capacidade de interpretar os sentimentos do povo brasileiro naquele momento.

“Sua palavra surgia com brilho e foi conquistando categorias sociais e não mais apenas operários (…) A palavra de Lula nascida no meio do povo repercutia como esperança (…) Começava a fase final da luta contra a opressão.”

No lançamento do Manifesto do Partido dos Trabalhadores, realizado em março de 1980 no auditório do Colégio Sion, foi-lhe dada a honra de assinar entre os seis primeiros, ao lado de perso- nalidades ilustres, aquela ata.

Em meio a tudo isso não esquece jamais de lutar pelo aprimoramento técnico e artístico dos trabalhadores em artes cênicas, além de tecer considerações inestimáveis sobre a arte de representar.

Aos 86 anos, olha para sua vida, para a aurora do novo século que se aproxima, com a mesma esperança de sempre.

“Encerrando estas linhas que pretensio- samente defino como memórias, me apraz dizer que tenho dois amiguinhos: Pedro, de 6 anos e meio, e seu irmão Vitor, de 2 anos e meio (…) Eles serão cidadãos do século XXI. Espero que a aproximação de gerações tão díspares signifique que algo do universo da memória e do passado possa ser mantido no coração do ser humano como inspiração de solidariedade.”

Cheio de brilho e lucidez, seu testemunho de vida é para todos nós, querida Lélia, como poderia orgulhar-se sua mãe, uma clara luz que nos ilumina a todos. Muito obrigado.

Saiba mais sobre o livro “Vida e Arte” (clique aqui)