Curitiba tem que avançar no social.

“Curitiba tem que avançar no social”

O candidato a prefeito de Curitiba pelo PT, Ângelo Vanhoni, afirma que a capital paranaense, conhecida por seu planejamento urbano, deve agora avançar na área social. “Está na hora de cuidar mais das pessoas e dos bairros”, diz o candidato, em entrevista ao Portal do PT. Saúde, educação e habitação estão entre suas prioridades, caso vença a eleição. Segundo Vanhoni, um “investimento maciço” na educação terá conseqüências positivas na qualidade de vida das crianças e nos índices de violência, que são altos na cidade.

Segundo pesquisa Ibope/Rede Globo, divulgada no final de julho, Vanhoni está na frente da corrida eleitoral, com 26% das intenções de voto, seguido pelo tucano Beto Richa, com 22%. Como a margem de erro da pesquisa é de 4,9 pontos percentuais, ambos estão em situação de empate técnico.

Leia a íntegra da entrevista:

Quais os principais desafios de Curitiba para os próximos quatro anos?

A cidade, historicamente, sempre foi reconhecida por seu planejamento urbano. Acumulou significativos avanços em infra-estrutura urbana e qualidade de vida. Mas Curitiba não está isolada e, como tantas outras cidades brasileiras, enfrenta hoje problemas que ameaçam suas conquistas e comprometem seus serviços essenciais, como segurança, transporte coletivo, saúde, educação e moradia. Ou seja,está na hora de Curitiba avançar no social. De promover o desenvolvimento humano. Está na hora de cuidar mais das pessoas e dos bairros.

Quer dizer que a cidade, que se diz bem planejada, não se preparou para enfrentar os problemas sociais?

É por aí. Agora, o planejamento urbano deve dar lugar ao planejamento humano. Curitiba cresceu muito nas últimas décadas. A expansão demográfica desordenada só fez aumentarem os problemas da cidade. Os desafios são muitos. Só para se ter uma idéia, a cidade deverá abrir 30 mil vagas na educação infantil nos próximos dois anos para cumprir meta do Plano Nacional de Educação. Na saúde, há uma grave crise nas especialidades médicas. Faltam médicos especialistas. O tempo na fila para conseguir uma consulta com um neurologista ou um exame de alta complexidade pode demorar seis meses. Na habitação também temos um nó, com mais de 200 mil pessoas vivendo em favelas. Consideramos que para Curitiba superar suas dificuldades é necessário fazer com que as conquistas das quais tantos nos orgulhamos possam incluir a maioria da nossa população.

De que forma o sr. pretende atuar nestas áreas?

O primeiro passo é termos uma política clara de inclusão social, de atenção à criança, uma carência deixada pelas administrações ligadas ao ex-prefeito Jaime Lerner, que se revezam no poder há 16 anos. A partir desse ponto, priorizaremos a educação. Queremos fazer de Curitiba uma cidade educadora, levando não só o ensino regular aos bairros, mas também meios de produção cultural e práticas esportivas. Para se ter idéia do descaso com a infância da nossa cidade, Curitiba ocupa apenas o 127º lugar no ranking nacional de qualidade de vida da infância, medido pelo Unicef. Com o investimento maciço na educação, vamos ainda combater a violência. Os jovens entre 15 e 29 anos são vítimas de 58% dos homicídios que ocorrem na cidade. Ao formá-los de maneira mais abrangente, estaremos afastando-os das ruas e agindo firme contra a criminalidade. Nestas e outras áreas vamos respeitar as conquistas históricas de Curitiba, mas buscaremos dar um passo à frente, agir pensando nas pessoas.

Até que ponto o orçamento permite fazer estas mudanças?

Curitiba é uma cidade rica. Temos um dos maiores orçamentos per capita do país. Sem nenhuma grande obra, a gestão atual aumentou a dívida em mais de 220% nos últimos 8 anos. Hoje, a quantia que o município gasta com o serviço da dívida, para pagamento de juros e encargos, é três vezes superior aos gastos com segurança pública, no caso a Guarda Municipal. Entendo que, se invertermos as prioridades, cortando os gastos desnecessários, não precisaremos nos endividar para fazer as mudanças tão desejadas pelos curitibanos na forma de governar a cidade. Administrar uma cidade do porte de Curitiba é uma tarefa complexa. Por isso, nessa campanha, não vou prometer nada que não possa cumprir. Em nossa administração, vamos priorizar as pequenas obras, as realizações que possam trazer um grande salto na qualidade de vida das pessoas. Isso não custa caro. Passa necessariamente por melhorias diretas nos bairros, que serão uma das prioridades da nossa gestão. Pelo envolvimento da comunidade, por meio de uma gestão que estimule a participação das pessoas e da sociedade civil organizada na definição das políticas públicas. E numa parceria cada vez mais estreita com os governos estadual e federal.

Como será sua relação com a Câmara Municipal?

Será uma relação séria e transparente. Uma relação de respeito, como deve ser a relação entre Executivo e Legislativo. O Legislativo terá conosco plena liberdade e isenção para exercer sua função constitucional e terá o papel fundamental de participar ativamente da administração do município, que nas últimas quatro gestões esteve fechada à sociedade como um todo, inclusive aos vereadores.

Qual a perspectiva de eleição de vereadores pela sua coligação?

Construímos em Curitiba uma ampla coalizão partidária que certamente terá força para eleger um número de vereadores superior ao que temos hoje na Câmara. Unimos ao PT o PMDB, PTB, PCdoB, PSC e PCB. São partidos que caminham conosco nos governos do Paraná e federal. Mas, para governar, espero ter o apoio de todos os vereadores, em um grande movimento para devolver Curitiba ao rumo certo. Acima dos vereadores, queremos unir as pessoas neste grande projeto.

Seus adversários devem fazer muitas críticas ao governo Lula durante a campanha. Como o sr. vai responder a elas?

Vamos respondê-las com muita serenidade. Se os demais candidatos optarem por federalizar a eleição, vamos mostrar com clareza os feitos do governo Lula neste ano e meio de administração. Temos resultados concretos aqui em Curitiba, como as ambulâncias do Samu e os laboratórios odontológicos. No campo da economia, a agricultura paranaense se superou e a geração de empregos industriais é realidade, assim como começa a acontecer em todo o Brasil. E se ainda for preciso, vamos comparar as realizações do Lula com o que o PSDB e o governo FHC produziram no país durante oito anos. Não temos medo desse debate. Acho que os nossos adversários é que vão fugir dele, pois a economia está crescendo a olhos vistos, cresce a oferta de empregos, as exportações continuam em alta e o Brasil é hoje um país muito mais respeitado internacionalmente do que na Era FHC.

O sr. tem também o apoio do governador Roberto Requião. A tendência é que Curitiba tenha uma eleição polarizada entre o sr. e o candidato do PSDB, o vice-prefeito Beto Richa?

Tenho a honra de contar com o apoio do presidente Lula e do governador Roberto Requião. Esse apoio nos coloca em uma situação bem definida nesta disputa. São governos claramente comprometidos com a inclusão social, em um visível contraponto ao que vemos hoje na Prefeitura de Curitiba. A eleição, de fato, mal começou. Ela inicia de verdade com o horário eleitoral gratuito, na segunda quinzena de agosto. No momento, as pesquisas apontam uma polarização. Para mim, não importa qual será o adversário no segundo turno. Estou preparado para vencer estas eleições.

Quais as chances do PT na disputa em Curitiba?

Temos chances concretas de vitória nesta eleição. Em 2000, chegamos ao segundo turno e, por pouco, muito pouco, não chegamos lá. Nossos adversários abusaram do poder econômico e baixaram muito o nível daquela eleição. Desta vez largamos na frente. Todas as pesquisas nos colocam em primeiro lugar, um sinal claro de que a população curitibana mostra-se disposta a mudar a forma de governar a cidade. Curitiba quer mudança, uma mudança firme, segura, que faça a cidade avançar na questão social. E nisso há uma enorme identidade com a nossa candidatura. Os demais candidatos representam a continuidade do grupo político que comanda a prefeitura há 16 anos.


Publicado no Portal do PT em 04/08/2004