Mercado de trabalho: estudo do IPEA discute a falta de engenheiros no Brasil

Boletim Diário de Política Social 51 – Mercado de trabalho: estudo do IPEA discute a falta de engenheiros no Brasil

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20 de agosto de 2014

Mercado de trabalho: estudo do IPEA discute a falta de engenheiros no Brasil


Estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) discute um possível cenário de falta de mão de obra qualificada, especialmente de engenheiros, em face do aquecimento do mercado de trabalho. Contradizendo o senso comum, a evidência empírica apresentada pelo estudo não parece indicar escassez de engenheiros de maneira generalizada, mas, dadas as tendências de formação de engenheiros e as projeções de demanda por esses profissionais no mercado de trabalho, só haveria escassez se o Brasil crescesse em padrões indianos ou chineses na década de 2011-2020. Os indicadores analisados são, entre outros.

i) os diferenciais dos salários dos engenheiros em relação às demais ocupações com ensino superior, que crescem até 2009, passando de 1,75 em 2003 para 1,95 em 2009, e, a partir desse ano, este diferencial passa a cair, provavelmente refletindo a ampliação da oferta de novos engenheiros recém-formados;

ii) os elevados fluxos de recém-formados, acima do crescimento da demanda marginal observada no mercado de trabalho: a oferta de engenheiros cresce a taxas bem acima (8,7% a.a.) daquelas do próprio PIB (Produto Interno Bruto) real (3,4% a.a. para valores anualizados de 2004 a 2010);

iii) apesar do percentual de engenheiros exercendo ocupações ditas “típicas” (i.e., trabalhando como engenheiros) ter aumentado de 29% em 2000 para 38% em 2009, esse percentual ainda é baixo se comparado ao observado em outras carreiras, como, por exemplo, a carreira médica, em que esse percentual é de 80%;

iv) a taxa de desemprego entre os engenheiros formados caiu de 4% em 2000 para 2% em 2010, uma taxa muito menor que a do resto da população (6,7% em 2010), mas deve-se considerar que a taxa de desemprego dos engenheiros é historicamente baixa;

v) considerando os engenheiros, em metade dos meses de janeiro de 2003 a maio de 2011, a situação no mercado de trabalho é de estabilidade tanto da taxa de rotatividade (por volta de 4%) quanto da diferença salarial entre engenheiros admitidos e desligados (por volta de 15%).

Segundo os autores, o problema quanto aos engenheiros pode se originar do hiato geracional que coincide com a desvalorização das engenharias nas décadas de 1980 e de 1990 e seu efeito na procura por cursos de engenharia nesse período, o que restringe atualmente a oferta de engenheiros em meio de carreira (com entre 35 e 59 anos), impondo às firmas maior dificuldade em preencher postos de gerência e de liderança, fenômeno evidenciado na comparação das pirâmides etárias entre os censos de 1970 a 2010. Quando a economia voltou a crescer, nos anos 2000, não havia oferta suficiente de engenheiros com esse perfil, mas, segundo o estudo, o bom desempenho da economia brasileira recolocou em alta as engenharias, a ponto de, em 2011, o número de ingressos em cursos dessas áreas superar, pela primeira vez, o de ingressos em cursos de direito. O artigo também aponta que pode haver déficit em competências específicas dentro da engenharia, déficit em regiões localizadas e ainda aponta questões quanto à qualidade do ensino da engenharia no país.

O estudo recomenda a continuidade nos investimentos para ampliação e melhoria de qualidade do ensino de engenharia, pois a engenharia estaria intimamente ligada ao desenvolvimento econômico e à inovação e o Brasil, apesar dos avanços na formação desses profissionais, ainda apresentaria baixo índice de engenheiros por habitante ou por formados no ensino superior.



Para ler mais
:

Uma proposta de sistematização do debate sobre a falta de engenheiros no Brasil. Texto para discussão 1983, IPEA, 2014

Análise: Ana Luíza Matos de Oliveira, economista
Acesse: www.fpabramo.org.br
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