Diálogos com a Juventude debateu os 50 anos do golpe
Diferentes gerações discutiram os anos de chumbo e seus reflexos nos dias atuais. Programa da web rádio teve transmissão da tevêFPA
Em uma mesa composta quase totalmente por membros que não vivenciaram a ditadura – mas que percebem e lidam com seus efeitos ainda hoje no cotidiano –, foi lançada na quinta-feira, 27, em São Paulo, a primeira edição do programa Diálogos com a Juventude, sobre o tema “Os 50 Anos do Golpe Civil-militar e as Repressões Contra a Juventude”, com transmissão pela Web Rádio Linha Direta e pela tevêFPA.
Diogo, Carla, Aparecido, Jefferson e Luciana (esq. para dir.)
Estiveram presentes ao debate a coordenadora de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Carla Borges; a diretora da FPA, Luciana Mandelli; o secretário Nacional de Juventude do PT, Jefferson Lima; o secretário de Comunicação do PT-SP, Aparecido Luiz da Silva; e o deputado estadual e presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo-Rubens Paiva, Adriano Diogo.
Memória, Verdade, Justiça
Ex-preso político, Diogo relembrou sua história de militância, iniciada em meados dos anos 1960, já sob o signo da ditadura e ressaltou: “O golpe não acabou, está mais presente que nunca. A proposta de Lei Antiterror é um entulho da ditadura. Foi preciso a presidenta Dilma estabelecer que este ano não haveria comemorações nos quartéis”. Contudo, ele vê uma perspectiva progressista. “As Comissões da Verdade viraram um mantra, uma palavra de ordem, nunca se falou tanto sobre o assunto e a juventude está discutindo seus eixos principais: Memória, Verdade e Justiça.”
Luciana Mandelli ressaltou o legado das gerações anteriores. “Se temos a possiblidade de discutir os marcos da democracia, de um país mais justo, isso tem a ver com estes jovens, além, é claro, de senhores mais experimentados, que já haviam lutado contra a ditadura anterior, a de Vargas, que abriram mão de suas vidas, optaram por construir a historia do Brasil. Um dos principal legados dessa luta é a criação de um partido de trabalhadores.”
Violência do Estado
Para Carla Borges, da SMDHC, não é preciso ter vivido aqueles tempos para sentir na alma os relatos das violações sofridas. “O golpe foi contra toda a sociedade. Os desafios dos Direitos Humanos são herança de um capítulo não julgado. O marco dos 50 anos é importante para entendermos o que aconteceu fora da versão oficial. A juventude continua sendo vítima da violência do Estado. Os jovens foram as maiores vítimas da ditadura, a maior parte deles tinha menos de 25 anos e, hoje, é a juventude negra quem mais sofre.”
Aparecido da Silva lembrou a importância de setores progressistas da Igreja Católica, principalmente quando, adolescente no início dos anos 1980, office-boy, teve sua primeira experiência com a repressão, sendo jogado dentro de um camburão da polícia militar. “A partir daí, por meio da Pastoral que eu participava, passei a tomar consciência do que estava acontecendo”. Jefferson Lima, 26 anos, afirmou que a luta hoje é pelo fortalecimento dos movimentos sociais. “Procurar uma nova democracia, um processo mais participativo, inclusivo, onde pobres, negros, mulheres, tenham sua voz.”
O programa Diálogos com a Juventude é uma realização da Secretaria de Comunicação do Diretório Estadual do PT-SP e da Secretaria Nacional de Juventude do partido, com apoio da Fundação Perseu Abramo. O programa será transmitido quinzenalmente pela Web Rádio Linha Direta.
– Confira aqui o Especial da FPA 50 Anos do Golpe de 1964
Foto: Secretaria de Juventude do PT/DEPT-SP