Trabalhadores perseguidos pela ditadura civil-militar (1964-1985) foram homenageados no último sábado, 1º, em São Bernardo do Campo (SP)

O reencontro de antigos colegas metalúrgicos, a maioria sindicalistas com histórico de luta pelos direitos dos trabalhadores em plena ditadura civil-militar; a surpresa de reconhecer-se em fotos em preto e branco da época, os registros de passeatas, manifestações e greves, poderiam sugerir apenas um justo exercício de nostalgia. Mas o Ato Sindical realizado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, no último sábado, dia 1º de fevereiro, não foi somente uma homenagem aos trabalhadores perseguidos pelo regime militar, mas a defesa da memória de um passado que para muitos ainda não terminou.

Promovido por dez centrais sindicais, o ato ‘Unidos, Jamais Vencidos’ é parte das ações do Coletivo Sindical do Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Mais de 400 trabalhadores receberam diplomas de reconhecimento pela luta por direitos trabalhistas e civis durante a ditadura, grande parte deles in memoriam, entregues a seus filhos e netos, em um teatro Cacilda Becker lotado.

Ato no ABC Paulista relembra luta de metalúrgicos contra a ditadura

Ilda da Silva, viúva de Virgílio Gomes da Silva, desaparecido em 1969

“Além das homenagens, este é o primeiro ato de 2014 para marcar os 50 anos do golpe civil-militar. Serve também para reivindicar questões que ainda não foram superadas”, afirma Augusto Portugal, 61 anos, ex-sindicalista, presidente da Associação dos Metalúrgicos Anistiados do ABC (AMABC) e um dos organizadores do evento. Entre as questões não superadas estão, por exemplo, o apoio civil ao golpe, incluindo-se aí grandes empresas, e os desaparecidos políticos. Um dos homenageados foi Virgílio Gomes da Silva, operário e membro da Aliança Libertadora Nacional assassinado em 1969.

Restos mortais
Ilda Martins da Silva, 83 anos, viúva de Virgílio, esteve no ato e recebeu o diploma em nome do marido. Ela também uma vítima da ditadura, permaneceu nove meses presa, sem qualquer acusação, sendo quatro meses incomunicável, sem saber de seus três filhos. “A luta da gente agora é procurar pelos restos mortais do Virgílio. A gente está esperando o resultado dos exames nas ossadas já encontradas. E, se não forem dele, a gente vai continuar procurando”.

Figura de proa no movimento sindical dos anos 1970, um dos diretores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, preso com Lula em 1980, Djalma Bom, 75 anos, foi um dos homenageados. Recebeu seu diploma enquanto cumprimentava velhos companheiros de fábrica. “Nós não fomos os únicos reprimidos durante a ditadura. Professores, a Igreja, muita gente sofreu. Mas a classe trabalhadora lutou e ainda luta pra que fatos como aqueles não aconteçam mais no Brasil.”

Foto Marcio de Marco/FPA