“Todo espaço é espaço para lutar pelo socialismo”, diz Stédile no entrevistaFPA
Dirigente do MST também falou sobre reforma agrária e a necessária união entre campo e cidade para a luta avançar, ativismo social, democratização da mídia e lutas das esquerdas
O gaúcho João Pedro Stédile foi o convidado do programa entrevistaFPA do dia 2 de dezembro. Stédile é membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do qual é também um dos fundadores, e participa desde 1979 da luta pela reforma agrária no país, pelo MST e pela Via Campesina. Atuou como membro da Comissão de Produtores de Uva, dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais do Rio Grande do Sul, na região de Bento Gonçalves.
Entrevistado por Joaquim Soriano, diretor da FPA, com participação dos internautas, o dirigente dos Sem Terra falou sobre o histórico das lutas populares desde a ditadura militar, a atuação da esquerda nos dias de hoje, a luta pelo socialismo, e as conjunturas nacional e internacional.
Sobre a perspectiva da luta socialista, Stédile foi categórico: “a esquerda deve lutar por uma sociedade igualitária. Nada justifica um mundo tão desigual. Mas mudou a forma de interpretar a luta política para chegar ao socialismo”. Para Stédile, o momento atual aponta para a união dos temas rurais com os das cidades para fazer avançar as demandas contra os “inimigos da classe trabalhadora”.
Empolgado, declarou ser um ativista social e que “a disputa tem que ser em todos os espaços da vida social. Todo espaço é espaço para lutar pelo socialismo. Mas se a maioria do povo brasileiro não quiser o socialismo não teremos socialismo”.
Sobre as lutas no continente, Stédile relacionou uma série de exemplos e contou sobre os planos de recolonização levados adiante por Barack Obama, como é o caso de “tentar emplacar acordos como a velha Alca”.
Stédile: mobilizações em 2014 e união do campo com a cidade na pauta
Ao analisar a conjuntura brasileira, defendeu que as políticas públicas recentes foram importantes para a classe trabalhadora . “A c lasse trabalhadora teve ganhos mas os problemas estruturais ainda persistem. Precisamos de reformas estruturais e de nova repactuaçã o entre as classes no Brasil”
Stédile falou também sobre a importância, na história da luta de classes, da atuação da juventude, elogiou a Marcha Mundial das Mulheres pelo trabalho realizado no combate ao machismo, inclusive no MST, e informou sobre as ações previstas na luta pela reforma política: “precisamos de mobilizações para 2014, pois não faltam propostas boas para a reforma política”, disse.
O MST e outros grupos políticos organizam uma g rande coalizão de movimentos sociais pelo plebiscito popular por uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político. Para Stédile, o “ plebiscito é um grande trabalho de base pela reforma política. Em situações mais adversas levamos dez milhões de pessoas ao plebiscito da Alca , agora queremos chegar a quarenta milhões”.
O MST realiza seu congresso nacional em 2014, mas Stédile já apresentou o que pretendem ter como meta. O “nosso programa fala de reforma popular. Porque interessa a todo povo e é para mudar o capital, já que as reformas agrárias já feitas levam ao desenvolvimento nacional. O Brasil produz basicamente soja, cana e carne, mas a cesta básica tem 297 itens. Queremos produzir alimentos sadios. Sem agrotóxicos”, anunciou.
Stédile ainda falou sobre sobre os inimigos da classe trabalhadora, as mudanças possíveis e, respondendo a questões dos internautas, comentou o debate sobre democratização da comunicação no MST. “ Democratizar o conhecimento é uma meta também. Queremos camponeses com seus filhos na universidade. Luta atual inclui educação, comunicação e depende de aliança com o povo das cidades”, comentou.
E para ele, além da “democratização da mídia estar ligada à reforma agrária popular”, defendeu a união do MST com a luta indígena. “Está no nosso DNA porque os povos indígenas são nossos avós. A força do capital não barra só a reforma agrária, mas agora quer também as terras indígenas. Para nós, “defender os povos indígenas é uma questão moral”
Assista a íntegra da entrevista. O programa entrevistaFPA é composto por quatro blocos de 15 minutos, sendo que o último bloco conta com perguntas enviadas pelos internautas. Est e foi a 12 ª edição do Programa entrevistaFPA que já contou a participação do economista João Sicsú, do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, do professor Reginaldo Carmelo de Moraes, do sociólogo Jean Tible, o diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci, de Rosane Bertotti, da CUT, e de Paulo Vannuchi, membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Para acompanhar os programas, visite no canal da FPA no Youtube.
Fotos: Marcio de Marco