Lilia Schwarcz faz releitura da história do Brasil a partir de imagens
Antropóloga abriu o curso “Revisitando a história do Brasil: debates e embates”, realizado pela Fundação Perseu Abramo

As imagens que representam a criação do Brasil como nação estão em todas as partes, nos museus, nas escolas, nos livros, na publicidade política. Mas o tempo provou que parte delas, eternizadas pela história, nunca se prestou a oferecer um contexto factual e noticioso dos fatos. Nasceram, portanto, para cumprir outros propósitos.
Quem explica é a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, responsável pela aula magna que abriu o curso “Revisitando a história do Brasil: debates e embates”, realizado pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com a Escola Nacional de Formação.
“Cada vez mais, olhar para a sociedade da imagem é fundamental para entender a nossa imaginação (como nação) e como ela serviu para construir a história do Brasil”, definiu a acadêmica em sua fala inicial.
Lilia citou a frase “toda história é remorso”, de Carlos Drummond de Andrade, para explicar a proposta que norteia o curso: reparar erros, mapear símbolos e dar os devidos créditos a personagens esquecidos ou ignorados . “Há um remorso sobretudo pelo tipo de história que se construiu, muito eurocêntrica, masculina e que não levava em conta as várias realidades do Brasil”.
Ao mostrar imagens clássicas do repertório nacional, da chegada dos portugueses à propaganda ufanista da ditadura militar, a antropóloga explicou como são construídos mitos, e cita o exemplo da falsa ideia da miscigenação pacífica e o sistemático apagamento da cultura afro-brasileira. Todos eles, claro, nunca tiveram compromisso com a veracidade dos fatos. Foram, não raro, forjados.
“A história é assim. É sempre um convite à releitura. É descobrir de novo e olhar de outra maneira. Aqui eu convido a todos para que leiam também as imagens, porque elas nos pedem que tenhamos uma percepção crítica, cidadã e sempre vigilante sobre a história e o nosso imaginário”, concluiu.
O curso estará disponível no canal do YouTube da instituição no endereço eletrônico http://www.youtube.com/@FundacaoPerseuAbramo. A curadoria é de Dulce Pandolfi, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também participam acadêmicos e pesquisadores renomados de universidades brasileiras como Heloísa Starling (Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG), Daniel Aarão Reis (Universidade Federal Fluminense/UFF) e Renato Lessa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC Rio).
Panorama Crítico
Para oferecer uma contextualização crítica dos principais momentos históricos do país, haverá ao todo 14 aulas gravadas, que vão até 7/8, divididas em três módulos: “Da coroa portuguesa à coroa brasileira”, “Da República dos coronéis à ditadura dos generais” e “Da ditadura à democracia”.
Dessa maneira, o curso irá abordar temas como o sistema escravista, os povos originários, as revoltas no período colonial e durante a época imperial, o coronelismo, a Revolução de 1930, a era Vargas, os conflitos rurais e urbanos, o golpe de 1964, a ditadura militar, a transição democrática, o neoliberalismo e a crise das esquerdas, além do bolsonarismo e do lulismo, que serão assuntos da aula de encerramento.
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