Evento realizado pela Fundação Perseu Abramo e Universidade Federal do ABC debate 50 anos da independência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

Seminário trouxe no primeiro dia experiências de Guiné Bissau, Angola e Moçambique
Mesa de abertura do Seminário Cinco décadas de independência e percurso dos Países Africanos de Língua Portuguesa.
Data: 13/03/2025. Local: UFABC-São Bernado do Campo, SP. Foto: Sérgio Silva | FPA

Começou na quinta-feira (13/3) o seminário Cinco Décadas de Independência e Percurso dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), realizado pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e a Universidade Federal do ABC, no campus em São Bernardo do Campo. Participaram da mesa de abertura o presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto, o coordenador do Núcleo de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (Neab) da Universidade Federal do ABC, Acácio Sidinei Almeida Santos, e o diretor de Cooperação Internacional da Fundação Perseu Abramo e professor da UFABC, Valter Pomar, que coordenou a mesa.

Para Okamotto, uma das tarefas importantes da universidade é auxiliar a integração da América Latina e aprofundar o conhecimento sobre África. Ele destacou que Lula foi o presidente que mais viajou a países africanos e o que mais abriu embaixadas no continente, o que possibilitou ampliar a integração. “Quando fui diretor-presidente do Instituto Lula, eu e o presidente Lula sempre discutíamos a importância da integração, de ajudar a acabar com a fome, com a miséria e a exploração. Eventos como este são muito importantes para que possamos, olho no olho, conhecer esses povos”, afirmou.

Santos pontuou que temos um grande desafio na construção de uma agenda de trabalho que tenha o continente africano e suas diásporas como um campo de interesse político. “O seminário se constitui como um espaço de reflexões, mas também precisa constituir uma agenda que tenha continuidade nas ações desenvolvidas pela universidade e pela Fundação.”

Segundo ele, o Brasil faz parte da sexta região da África, e devemos formar uma mesma comunidade com Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. “Cinco décadas após a independência, o processo de descolonização não encerrou as estruturas de exploração que ainda hoje lá se perpetuam. As celebrações devem ir além do simbolismo e inserir-se no processo de justiça histórica e reparação”, afirmou.

Guiné Bissau

Conduzida pela coordenadora do Programa de Pós-graduação em Economia Política Mundial da UFABC, Maria Carlotto, a primeira mesa do seminário teve a exposição do guineense Miguel de Barros, sociólogo, coordenador da Célula de Pesquisa em História, Antropologia e Sociologia do Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral (Cesac) e membro do Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África. E comentários do guineense Rubilson Velho Delcano, doutor pela Universidade Federal do ABC, e do professor do Programa de Pós-graduação em Economia Política Mundial da UFABC, Paris Yeros.

Barros destacou que a nação da Guiné Bissau não nasceu no reconhecimento da independência por parte de Portugal. “Antes da independência, houve uma luta armada pela libertação, durante onze anos, que derrotou o exército colonial e acabou com o império colonial português na África, obrigando Portugal a reconhecer a independência de todas as demais nações que estavam subjugadas. Portanto, foi a derrota de Portugal nas colônias que levou ao 25 de abril (Revolução dos Cravos) e não o contrário”, afirmou.

Ele disse ainda que a presença efetiva de uma nação de língua portuguesa durante esse evento é uma farsa histórica. “Quando Portugal perdeu a guerra só havia catorze pessoas com ensino superior na Guiné Bissau e mais de 98% da sua população não falava português. A língua dessas pessoas se chama crioulo guineense”.

O primeiro dia do seminário trouxe ainda debates sobre Angola e Moçambique, que serão abordados na próxima edição da Revista Focus. Os vídeos gravados durante o evento estarão em breve disponíveis no canal da Fundação Perseu Abramo no Youtube.