Valoroso militante da luta negra e antirracista em São Paulo, Flavio Jorge deixou sua marca na história da Fundação Perseu Abramo e em todos os lugares por onde passou, conforme podemos testemunhar nas inúmeras manifestações de solidariedade e homenagem a ele desde sua partida, no recente 6 de junho.

Sua luta pessoal e coletiva fortaleceu o movimento negro, com destaque para as batalhas pela igualdade num país colonizado e forjado por povos escravizados. Era raro não encontrá-lo nos atos, passeatas e manifestações de esquerda em São Paulo. Flavinho gostava das pessoas, de gente, dos encontros e prosas.

Com seu jeito calmo, atento, estimulou a formação de muitos de nós. Gostava dos livros, das pesquisas, dos debates, da Política, da História e da Memória. Fomos contemporâneos de sua dedicação na Fundação Perseu Abramo, desde o início dos anos 2000, a projetos de grande importância para a formação petista e do campo progressista. Foi nosso primeiro presidente do Conselho Curador e depois membro da diretoria executiva.

Acompanhamos seu empenho na formação da SEPPIR (a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), no primeiro governo Lula, escancarando a necessidade do Brasil tratar de um tema fundamental para o país.

Com Flavinho, nós participamos da edição do livro Racismo no Brasil (em 2005, fruto de pesquisa histórica da Fundação Perseu Abramo), do lançamento da periódica Revista Perseu (em 2007, sob a coordenação de Dainis Karepovs, à época no Centro Sérgio Buarque de Holanda), da edição fac-símile de Afro-Latino-América (em 2014, com textos publicados no jornal Versus), da vinda dos livros de Jacob Gorender para o catálogo da Perseu (O Escravismo Colonial e A Escravidão Reabilitada, ambos em 2016), da edição de O Significado do Protesto Negro (em 2017, de autoria de Florestan Fernandes, em coedição com a Expressão Popular) e o audacioso projeto que culminou no livro Movimento Negro Unificado, intitulado MNU 40 Anos de Resistência nas Ruas de São Paulo (em 2020, coedição com a editora Sesc-SP e a Soweto Organização Negra, que ofereceu seu rico acervo iconográfico).

Flavinho tinha muita paciência para ouvir e afinada precisão para expor suas ideias e propostas. Ele fez muito, mas há outro tanto a ser feito. Do lado de cá, nós, na editora e na pesquisa da Fundação Perseu Abramo, continuaremos contribuindo para as bandeiras da emancipação, da liberdade e da igualdade se fortalecerem cada vez mais, honrando a memória desse companheiro Inesquecível.

Companheiro Flávio Jorge, presente!

Raquel Costa * Rogério Chaves * Jordana Pereira * Vilma Bokany * Matheus Toledo * Carlos Árabe

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