É o que pensam os participantes do 3º painel do CASB, realizado na sexta-feira (7) na FPA

A ascensão da extrema-direita deriva de uma longa desconstrução da democracia ao longo do último meio século, e catalisada a partir da crise financeira de 2008. O surgimento de lideranças como Donald Trump e Jair Bolsonaro, portanto, está ligada a fatores essencialmente econômicos, como a ausência de projetos progressistas realmente sólidos. A avaliação é do cientista político André Singer, feita durante o 3º painel do Centro de Análise da Sociedade Brasileira (Casb) da Fundação Perseu Abramo (FPA) na sexta-feira (7).

“O que vimos, por exemplo, durante a tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, considerada por muitos a maior da história do país, foi a permanência da popularidade do presidente Lula mesmo diante de inúmeras fake news e ataques feitos por representantes da extrema-direita. Isso se deu porque o governo agiu rápido para amparar a população ”, ilustrou Singer.

O fato de o governo ter trabalhado duro para conseguir reerguer o país, contudo, não encerra as possibilidades de a extrema-direita ampliar a sua atuação, sobretudo nas periferias. A coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) Ana Paula Perles Ribeiro está à frente do trabalho das cozinhas solidárias, transformadas em espaços de diálogos com públicos muitas vezes esquecidos pela esquerda.

“Mesmo quando o governo tem feito ações importantes e que irão impactar positivamente na vida de quem vive nas periferias, se não houver diálogo, elas nem saberão quem de fato realizou tão ação. Então é preciso manter essa conversa permanente, em especial com as pessoas evangélicas, que hoje votam em sua maioria em candidatos da extrema-direita”.

Daniel Angelim, diretor da Fundação Marielle Franco/Lauro Campos, do PSOL, elogiou a iniciativa da FPA em analisar o crescimento da extrema-direita no Brasil e no mundo e espera que tudo o que foi dito nesses encontros ajude a população a entender de onde vem esse movimento. “Muito interessante ouvir gente como o professor André Singer, que trouxe o respaldo da academia, e a Ana Paula Terles, com a visão de quem está em contato direto com a periferia. Ambos nos explicaram porque, mesmo com a vitória de Lula, a força da extrema-direita não reflui. Mas não é hora para nos desesperar. O que vimos é que, com trabalho e informação, podemos seguir otimistas”.

Jorge Pereira Filho, coordenador da Fundação Rosa Luxemburgo, completou ao dizer que o governo precisa ainda dar respostas mais contundentes, sobretudo na economia, para que a população não caia na armadilha armada pela extrema-direita. “Além de lutar para que a informação de qualidade chegue até a população, é preciso mostrar o que tem sido feito de concreto, não apenas no campo das ideias. Mesmo que o resultado seja a longo prazo, sinto que muitas pessoas ainda não sabem de onde vem esse ou aquele projeto, isso faz com que a direita se aproprie da narrativa”.
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O CASB

O CASB é uma iniciativa das fundações Perseu Abramo, Lauro Campos e Marielle Franco, Maurício Grabois e Rosa Luxemburgo, criada em 2023 com o objetivo de aprofundar o entendimento sobre as mudanças na sociedade brasileira e produzir diagnósticos – auxiliando os partidos e o governo na tarefa de democratização da sociedade e das instituições; e na organização do campo democrático popular.

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