Tema abriu na sexta-feira (26) o ciclo de paineis organizado pelo Centro de Análise da Sociedade Brasileira (CASB)  

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Em 5 de novembro de 2024 o mundo todo estará, mais uma vez, com olhos e ouvidos atentos ao desenrolar do processo eleitoral dos Estados Unidos. Até aqui, nada de novo sob o sol, já que mesmo em anos menos turbulentos o pleito realizado na maior potência econômica do planeta nunca deixou de estar no centro do debate político global. 

É consenso, no entanto, que as consequências da disputa em curso terão influência ainda maior na polarização entre o campo formado por progressistas e democratas e a ala composta por lideranças alinhadas com ideais de extrema-direita. A vitória de um lado ou de outro, ao que tudo indica de Biden ou de Trump, definirá também o rumo das disputas em várias partes do mundo, em especial no Brasil.  

Ainda que o primeiro esteja longe de representar as matizes ideológicas da esquerda, sua permanência no cargo seria, para dizer o mínimo, um alento para os que já viram o estrago que o segundo fez enquanto esteve no poder – a ponto de ser a maior inspiração para a tentativa frustrada de golpe feita pelos apoiadores de Jair Bolsonaro. “O envio de um relatório para o Congresso americano com denúncias de supostos abusos do ministro Alexandre de Moraes é uma coisa com Biden no poder e seria outra coisa caso Trump ainda estivesse no cargo. Esse é o tamanho do desafio que temos pela frente”, resumiu o professor doutor do departamento de Ciência Política da Universidade de Campinas (Unicamp) André Kaysel Velasco e Cruz, que abriu as falas no painel “Por que a extrema-direita cresce no mundo”, organizado pelo Centro de Análise da Sociedade Brasileira (CASB) na sexta-feira (26), na Fundação Perseu Abramo. 

Kaysel lembrou, ainda, que a ascensão da extrema-direita ainda precisa ser melhor compreendida, sobretudo diante de tantas nuances apresentadas mundo afora. “É um fenômeno que se coloca para nós, da esquerda, como uma esfinge, aquela velha história do decifra-me ou devoro-te. O fato é que claramente a força política mais dinâmica tanto no Norte quanto no Sul global. Até para caracterizá-la há divergências”. 

Jana Silverman, da Universidade Federal do ABC e Democratic Socialists

of America, concorda com a dificuldade em compreender como a extrema-direita e o peso que as eleições nos Estados Unidos terão para o resto do mundo, mas pondera: na prática, Joe Biden não tem sido muito diferente de Trump. “Biden foi eleito para ser um anti-Trump e foi beneficiado por fatores externos como a pandemia. Mas o seu apoio ao genocídio promovido por Israel em Gaza, enviando pacote bilionário para compra de armas, mostra que sua atuação também é vergonhosa”.

A negação ao projeto de Trump orquestrada por Biden não parece ter causado o impacto esperado na movimentação da extrema-direita no mundo, que segue estruturada e capitaneando cada vez mais apoiadores. Diante disso, a professora Nara Roberta Silva (Brooklyn Institute for Social Research) só vê uma saída para os campos progressistas: entender as dimensões sociais e políticas de projetos de extrema-direita, sobretudo diante da frustração causada pela vitória de Biden, incapaz de barrar a influência de Trump mesmo diante de tantas medidas antidemocráticas. “O Biden concorreu como anti-Trump, mas é preciso reconhecer que prontamente se adaptou a ideais defendidos pelos Republicanos. A resposta dada por ele está muito aquém do esperado. E, mesmo que a sua vitória seja o ideal para o mundo, infelizmente não deve ter grandes impactos”.

Organizador dos paineis, o diretor da FPA Carlos Henrique Árabe conclui: “Sem uma maioria da classe trabalhadora defendendo a democracia é difícil haver democracia como aparato institucional (…) Este primeiro painel trouxe elementos para a discussão. A classe trabalhadora é o sujeito central da luta democrática. Esse é a base do trabalho do CASB e estes paineis devem agregar elementos muito importantes para o debate”.

O próximo painel do CASB está marcado para acontecer no dia 10 de maio e terá como tema a Disputa na América Latina. 

O CASB

O CASB é uma iniciativa das fundações Perseu Abramo, Lauro Campos e Marielle Franco, Maurício Grabois e Rosa Luxemburgo, criada em 2023 com o objetivo de aprofundar o entendimento sobre as mudanças na sociedade brasileira e produzir diagnósticos – auxiliando os partidos e o governo na tarefa de democratização da sociedade e das instituições; e na organização do campo democrático popular.

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