A edição de abril da revista Reconexão Periferias convida a refletir sobre as diversas violências perpetuadas nas periferias brasileiras em decorrência da concentração de terra e da postergação das reformas agrária e urbana, bem como reconhecimento e proteção dos territórios de quilombolas e indígenas.

No artigo A luta pela terra e o assassinato de Marielle Franco: essa violência precisa ter fim, o coordenador do projeto Reconexão Periferias Paulo César Ramos lembra que a morte de Marielle Franco, ao que tudo indica, teria sido encomendada devido a sua resistência de Marielle e do PSOL a um projeto de lei que pretendia regularizar condomínios na zona oeste do Rio, área controlada por milicianos que exploram empreendimentos imobiliários ilegais.

A ação miliciana pelo controle da terra é um dos temas explorados na entrevista com sociólogo e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro José Cláudio Souza Alves se dedica há mais de 30 anos a pesquisar o surgimento e o crescimento das milícias brasileiras, especialmente as que atuam na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. “ Para as milícias, a questão fundiária nada mais é do que a porta de entrada no território(…) A terra é o primeiro passo. Depois da terra vai vir construção de imóveis, aterro para colocar lixo naquele solo, toda uma lógica de empreendedorismo, de investimento em construção de materiais de mão de obra, de serviços em que estão essas construções. E tudo o que vai acompanhar aquela ocupação humana, gás, água, luz, coleta de lixo, tudo começa a ser regulado pela estrutura miliciana, o transporte de pessoas, acesso a áreas de lazer. E cobrança de taxa de segurança para os comerciantes, ou seja, o confronto no qual Marielle está envolvido não é só de terras. É um confronto de um universo infinito de possibilidades”.

O perfil traz a história da Agência Popular Solano Trindade, que nasceu em 2012, com a missão de fortalecer a arte e a economia da região dos bairros do Campo Limpo, Capão Redondo e arredores da periferia da Zona Sul de São Paulo. Sediado na Vila Pirajussara, o projeto especializou-se em fomentar a expressão artística, encontrar e ajudar a desenvolver talentos, gerar trabalho e renda e viabilizar estruturas para eventos no território.

O artigo Chacinas e Feminicídios: uma reflexão a partir de notícias de jornal, de Sofia Toledo, apresenta a recente pesquisa do projeto Reconexão Periferias. “O objetivo inicial era a cobertura de dez anos de casos noticiados, no entanto, o período foi estendido para doze anos, a fim de cobrir de 2011 a 2022. Para além das chacinas cujas motivações estavam relacionadas a conflitos que já havíamos identificado, percebemos uma motivação até então ocultada em meio a notícias de chacinas cometidas por agentes de segurança do Estado, por grupos que atuam em mercados ilegais em disputa: aquelas motivadas por violência de gênero contra a mulher.”

A seção de Arte apresenta o artista visual Dias Júnior, que nasceu na Amazônia, em 1997, na cidade de Abaetetuba (PA). Atualmente, estuda e trabalha em Belém e é discente do curso de bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará. Seus métodos e poética se desenvolveram em 2021, quando utilizou óleos e grafites sobre telas e papéis, além de iconografias e letras. Sua arte evidencia o povo amazônico, pessoas que estão à margem da sociedade e suas singularidades.

A edição traz ainda as seções Programas, Agenda e Oportunidades. Boa leitura!

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