Dirigido por Amanda Pomar, “O nome da vida”, é lançado na Fundação Perseu Abramo, com sessões marcadas para domingo, 31 de março, e segunda-feira, 1 de abril 

Um dos últimos atos de crueldade da ditadura, a operação militar conhecida como “Massacre da Lapa”, aconteceu no dia 16 de dezembro de 1976, durante o Governo Geisel, que se dizia um governo de transição democrática, mas perseguiu opositores até o fim. O militante do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, Wladimir Pomar sobreviveu ao atentado, que tinha por objetivo atingir e destruir a direção do partido, mas viu seu pai Pedro Pomar morrer durante o ataque. 

Seis décadas depois do golpe que depôs o presidente João Goulart e deu o poder aos militares em 1964, a história de Wladimir Pomar, e da trágica operação, é recontada em um curta de animação baseado em sua autobiografia.

“O nome da vida”, curta de animação escrito e dirigido por Amanda Pomar, será lançado na sede da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, com sessões marcadas em datas emblemáticas: 31 de março e 1 de abril. No domingo, 31, serão duas exibições, às 16h e às 19h. Na segunda, dia 1 de abril, às 19h. 

Além do atentado, que matou o pai de Wladimir, o documentário narra, em primeira pessoa, passagens da infância e do período em que o personagem viveu na clandestinidade para sobreviver às perseguições, prisões e torturas da ditadura militar. São gerações de histórias de sobrevivência, resistência e memória. 

Com peso de memória, costurado entre relatos e emoções, a diretora Amanda Pomar, que é neta do militante, consegue dar dimensão e reconstituir fatos na versão de quem lá estava como vítima em um trabalho construído ao longo de quatro anos. Com duração de 13 minutos, a animação, com tons soturnos, impressiona pelo formato arrojado, as sensações que desperta e toca em feridas ainda abertas. 

O roteiro é cuidadoso e, com as perspectivas ampliadas que uma animação permite ao se narrar uma história, consegue não somente dar voz a Wladimir Pomar, mas a uma voz coletiva, da história recente do país, não só da família, ou de quem foi vítima direta. “Como um remédio para acordar, esse trabalho foi rapinar uma história torturada do país e dos meus”, reflete Amanda. “No entanto, por mais que se expresse o caráter pessoal que foi o percurso para narrar este trauma, ele não me pertence, a história não me pertence”.  

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A diretora cita, ainda, o próprio Wladimir, que, no dia 11 de abril de 1980, fez uma fala que se dirigia a memória do pai, Pedro Pomar, um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil, o PCB. “A herança de Pomar, uma herança digna de dos melhores revolucionários, não é patrimônio da família ou de qualquer grupo. Ela pertence a todo seu partido, a todos os revolucionários, à classe operária e ao povo explorado e oprimido”.  Naquela data, os restos mortais de Pedro Pomar foram trasladados de São Paulo ao Pará. 

A operação militar na Lapa

Em dezembro de 1976, parte do Comitê Central do PCdoB se reuniu para analisar a derrota da Guerrilha do Araguaia e debater novas estratégias de resistência. Na madrugada do dia 16, enquanto se dispersavam, foram perseguidos e cercados numa operação minuciosamente planejada que terminou com três mortes, além de militantes presos e torturados. A chacina é considerada um dos últimos grandes crimes do governo militar, que terminou anos depois. 

Wladimir Pomar 

Wladimir Pomar (1936-2023) nasceu em Belém do Pará, filho de Catarina Torres e de Pedro Pomar, dirigente comunista e uma das vítimas do Massacre da Lapa. Em 1989, Wladimir foi coordenador da primeira campanha de Lula à presidência.

Em 1949, aos 13 anos, Wladimir também se tornou militante do Partido Comunista. Nos anos 1950, atuou no movimento estudantil e no movimento sindical metalúrgico. Nos anos 1960 e 1970, foi dirigente do PCdoB. Preso em 1964, por resistir ao golpe militar, viveu na clandestinidade até ser novamente preso em 1976.

Nos anos 1980, ingressou no PT e fez parte da executiva nacional do partido, coordenando o Instituto Cajamar e a campanha Lula Presidente de 1989. Ao longo de sua vida, Wladimir escreveu diversos livros sobre a realidade brasileira e mundial. A autobiografia “O Nome da Vida” foi lançada em 2017 pela editora Página 13 e reeditada no ano seguinte pela Editora da Fundação Perseu Abramo.

Pedro Pomar

Em 23 de setembro de 1913 nasceu Pedro Ventura Felippe de Araújo Pomar — ou simplesmente Pedro Pomar, como ficaria conhecido. Foi figura central na reconstituição do Partido Comunista do Brasil na Conferência da Mantiqueira, em 1943, e na memorável campanha pela constitucionalização do país, em 1945 e 1946. Assumiu, no final de 1945, o comando do jornal Tribuna Popular, que se tornou uma trincheira de resistência democrática no governo autoritário do general Eurico Gaspar Dutra. Nesse período, foi deputado federal. Foi também um dos que sustentaram a reorganização do Partido, em 1962. Em 16 de dezembro de 1976, morreu fuzilado no cerco da ditadura militar à casa em que a direção do PCdoB se reunia, um episódio conhecido como Chacina da Lapa.

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