No mês de março, que marca o Dia Internacional da Mulher, a revista Reconexão Periferias propõe uma reflexão sobre o abismo que ainda existe entre homens e mulheres na sociedade brasileira.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas pra os Direitos Humanos (ACNUDH), o Brasil é o quinto país do mundo em assassinato de mulheres, só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia.

E um estudo recente da Fundação Perseu Abramo aponta que as mulheres negras têm o dobro de chance das mulheres não-negras de sofrer feminicídio.

Uma Pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) aponta que, no primeiro trimestre de 2023, a remuneração média das mulheres negras era de R$ 1.948, o que equivale a 48% do que homens brancos ganham na média, 62% do que as mulheres brancas recebem e 80% do que os homens negros ganham.


São dados que demonstram o óbvio: a racialização dos territórios agrava a opressão das mulheres negras que vivem nas periferias. E apontam que o enfrentamento à violência, a promoção da igualdade salarial, criação de oportunidades nos cargos de liderança, na representação e na participação política são grandes desafios que requerem políticas públicas e mudança de mentalidade, para que as mulheres trabalhadoras, negras, periféricas tenham o direito de viver com dignidade.

Um ponto que vem se tornando muito debatido pelos movimentos de mulheres é a economia do cuidado. Dar banho, fazer comida, faxinar a casa, comprar alimentos, lavar, estender e guardar roupas, cuidar dos idosos e doentes, fazer café da manhã, almoço e jantar para a família e educar os filhos ainda são tarefas que na grande maioria das vezes continuam executadas pelas mulheres. Isso impede que elas se dediquem aos estudos, participem da política e se desenvolvam em suas carreiras. Enquanto isso, empregadores, a gestão pública, as universidades e todas as demais esferas se aproveitam desse trabalho gratuito ou mal-remunerado (quando terceirizado).

No artigo “Construção de resistências nos territórios periféricos: práticas feministas e antirracistas”, a agroecóloga Natália Lobo, a historiadora Gaelle Scuiller e a assistente social Renata Reis, todas integrantes da Ong Sempreviva Organização Feminista, falam sobre práticas de promoção da sustentabilidade da vida desenvolvidas pelas mulheres nos territórios, especialmente nas comunidades mais atingidas pela desigualdade.


A revista entrevistou a secretária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher do Ministério das Mulheres, Denise Motta Dau, que fala sobre o recém-lançado Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios. “Em 2020, 3.463 mulheres sofreram feminicídios. Dados estarrecedores do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que 61% das vítimas de estupro têm no máximo 13 anos, 10% possuem de 0 a 4 anos, são bebês, 17% têm de cinco a nove anos e 33% são meninas de 10 a 13 anos”, afirma ela. “O Pacto prevê ações de nove ministérios com prazos e objetivos muito concretos para contribuir com o enfrentamento desse problema”, diz.

A seção Perfil apresenta a história de Nill Santos e da entidade social que fundou, a Associação Mulheres de Atitude e Compromisso Social, de Duque de Caxias (RJ), que representa o combate à violência contra as mulheres e a vitória da solidariedade e da mobilização sobre a misoginia.

A edição de março traz ainda o texto “Por que a união do samba ao hip hop incomoda tanta gente”, no qual um integrante da Vai-Vai, MC Di Função, e o sambista e sociólogo Tadeu Kaçula analisam o episódio da repressão a uma escola de samba quase centenária que mostrou a resistência de duas culturas pretas irmãs em São Paulo.

A seção de Arte apresenta a artista potiguar Maria de Lourdes Santiago, que encontrou uma forma de expressar sua jornada pessoal e as complexidades da identidade diaspórica que movimenta sua herança negra. Ela traz as raízes ancestrais e a expressão vibrante ao conduzir a arte como afirmação de um povo, com produções que destacam o impacto da narrativa visual a partir de um olhar anticolonialista.

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