2023 foi um ano novo. O projeto Reconexão Periferias viveu neste período uma fase que não havia conhecido antes. Nos últimos 12 meses, o cenário político e institucional foi marcado pelo retorno do exercício da democracia. Não é exagero afirmar que após o golpe civil-midiático-jurídico que interrompeu o mandato da presidenta Dilma Rousseff em 2016, a democracia havia sido amordaçada e uma tirania, embora de figurino remodelado, ensombreceu o país.

O Reconexão nasceu neste hiato, em 2018. Desde então, foi um trabalho de resistência. Com pesquisas, produção de análises e, especialmente, construção de conhecimento a partir das relações com coletivos das periferias, acumulávamos esperanças para o dia em que romperíamos, coletivamente, um estado de coisas marcado pela política da morte e da rejeição aos povos periféricos, às mulheres, às pessoas LGBTQIA+, aos povos indígenas, a todas as pessoas que ousavam não se encaixar naquele projeto de egoísmo e ódio.

Democracia não se completa no voto, vai além. O que ressurgiu das urnas em 2023 foi a possibilidade de diálogo com um governo federal que recoloca os movimentos sociais e os coletivos como interlocutores, em busca da superação das persistentes e grandes injustiças sociais. Nós sempre insistimos que as vozes das periferias brasileiras deveriam ser escutadas atentamente, já que delas se obtém o mais fiel retrato de seus cotidianos e – eis a mágica da organização social e popular – propostas e soluções que podem impulsionar o país como um todo.

O governo Lula abriu espaços institucionais em sua estrutura para ouvir as periferias e incluir o olhar delas na definição de políticas públicas. É um começo. Queremos crer que nossa mensagem, vinda de diversas periferias brasileiras, está exercendo influência. Diante dessa passagem da resistência à esperança, nossa aposta para 2024 é ampliar a mobilização para que os canais de escuta se consolidem e traduzam em ações concretas cada vez mais sentidas nos territórios. Será uma nova fase.

De nosso lugar, continuaremos dando nossa contribuição a essa luta. Se grande ou pequena, só a prática sincera da própria luta nos dirá. A inspiração é enorme, por mérito de trajetórias coletivas como as que trazemos nesta edição da Revista Reconexão Periferias.

Égle Maitê, jovem mulher negra e periférica, fã de futebol e de política, narra na seção “Quando Novas Personagens Entram em Cena” como a militância pode surgir em todos os lugares, a partir de chamados inesperados.

Na história do coletivo Além das Grades, a coragem e o amor de pessoas que olham e ajudam a transformar lugares que boa parte da sociedade pretende ignorar. E do Mato Grosso do Sul nos vem a experiência do Coletivo de Mulheres Artistas do Pantanal, cujo trabalho nas ruas das cidades ecoa a grandeza de um mundo que pede por respeito e cuidado.

Nesta edição, você poderá também saber um pouco mais de recentes produções do Reconexão, como o livro “Periferias no Plural’ e nosso Painel de Dados, ambos disponíveis para estudo e pesquisa.

Boa leitura. Feliz 2024, de lutas e realizações.

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