Como parte do VI Encontro da Rede de Estudos Brasil China, realizado entre os dias 24 e 26 de outubro no campus Santo André da Universidade Federal do ABC, a Fundação Perseu Abramo foi uma das organizadoras de um debate intitulado “As relações dos partidos brasileiros com o Partido Comunista da China”, na tarde do dia 26.

Natália Sena, integrante da Executiva Nacional do PT, e José Reinaldo, do Comitê Central do PCdoB e do Centro Brasileiro de Solidariedade Aos Povos e Luta Pela Paz (Cebrapaz), traçaram um panorama histórico das relações entre esses dois partidos e o PC chinês. O painel apresentado por Reinaldo teve início nos anos 1950, quando os comunistas brasileiros se dividiram em relação a qual modelo comunista seguir, o soviético ou o chinês. Naquele período histórico, o PCdoB aproximou-se da experiência chinesa.

Natália, por intermédio de um resgate de encontros do PT com lideranças do PC da China desde os anos 1980, e também de resoluções do partido brasileiro, destacou que a relação com o partido chinês é, em suma, o meio de se relacionar com o próprio Estado daquele país. Com a experiência de ter visitado a China, a dirigente petista, que também é mestranda na UFABC, sublinhou que o Partido Comunista tem uma relação com seus filiados diferente daquela que se imagina.

A filiação não é compulsória ou automática. Segundo Natália, os candidatos a filiação passam por um período de aprendizado de dois anos, antes de ser aceitos. “Não basta um clique numa ficha eletrônica”, disse ela. “Eles têm 97 milhões de filiados. O PT, para ter a mesma taxa de filiação na proporção com a população brasileira, teria de crescer 15 vezes”, completou.

Ao final das exposições, abertas as inscrições para perguntas da plateia, composta em grande parte por estudantes, uma dúvida recorrente dizia respeito ao modo como o Brasil deve se relacionar com a China sem que aquele país assuma uma posição imperialista, hoje ocupada pelos Estados Unidos.

Valter Pomar, professor da UFABC, diretor da Fundação Perseu Abramo e mediador da mesa, respondeu:

“A gente tem de aprender com a China. A China promoveu uma abertura, mantém relações com o mundo, não tem medo de aprender, mas, ao mesmo tempo, conta com as próprias forças. Tem projeto nacional e tem projeto mundial. A gente tem de fazer a mesma coisa. O Brasil pode liderar a conversão da América Latina e do Caribe num dos polos tecnológicos e industriais do mundo. E curiosamente, dada a situação geopolítica da região, resolvido o ‘pequeno’ problema dos Estados Unidos, a gente tem condições de exercer essa condição de polo em melhores condições geopolíticas que a China. Vamos lembrar o que é o entorno da China, os conflitos brutais que têm lá, e vamos pensar também o quanto a gente tem de potencial. As pessoas gostam de falar no passado milenar da China, mas, isso não é apenas um ponto positivo. É também um peso. Então, nós temos que ter esse horizonte de converter a região e o Brasil em um polo industrial e tecnológico, e para isso temos que resolver os nossos problemas internos”.

Lições da China: como ser próximo, sem o risco do imperialismo

Foto: Sérgio Silva/FPA

Durante o encontro, José Reinaldo já comentara se a China, em sua expansão contínua, estaria adotando uma postura imperialista à moda dos Estados Unidos. O dirigente do PCdoB disse acreditar que os chineses têm adotado uma posição de não-agressão militar aos demais países, o que já configura uma diferença significativa e, em relação ao domínio econômico e comercial, o método é o de “compartilhamento do desenvolvimento.

Assista o debate aqui.

No início do encontro, Pomar havia lido uma carta, assinada por professores e professoras da UFABC, em defesa da Palestina, contra a escalada de violência de Israel e por uma solução de paz para o conflito.