A entrevista para a TV independente Democracy Now ao camarada עופר כסיף Ofer Cassif عوفر كسيف, do Partido Comunista de Israel e deputado da Frente Democrática pela Paz e a Igualdade (Hadash-Ta’al).

Pergunta: Você nasceu em Rishon LeZion, que no sábado foi atingida pelo lançamento de  foguetes, o lançamento de foguetes do Hamas. Pode nos comentar sobre o que está acontecendo neste momento e a decisão do primeiro-ministro israelense e do governo de declarar guerra ao Hamas?

OFER CASSIF: Obrigado por me convidar. E gostaria de expressar a minha gratidão ao antigo orador, Orly Noy, que é um grande amigo meu. E, Raji, desejo a você, Raji, e a todos vocês, segurança, paz e saúde, é claro.

Antes de tudo, permitam-me começar com algumas afirmações pessoais. Minha família mora em Israel. Neste momento estou no México, antes do início desta guerra, numa conferência, uma conferência internacional de partidos de esquerda, incluindo uma delegação da Palestina. Demos uma conferência de imprensa juntos, a delegação palestina e eu, porque compartilhamos as mesmas ideias contra a ocupação e contra a guerra. Devo dizer que, lamentavelmente, há dois dias recebi uma mensagem de uma amiga muito querida pelo whatsapp, que estava escondida com o marido em um kibutz. E ela me disse que estava com muito medo e que conseguia ouvir os combatentes do Hamas lá fora.

Infelizmente, aquelas foram provavelmente as últimas palavras que escreveu porque foi morta junto com o marido logo depois de me enviar aquela mensagem – um querido amigo, também contrário à ocupação, eleitor do nosso partido. O que estou tentando dizer é que pessoas inocentes, civis inocentes de ambos os lados, israelitas e palestinos, pagam o preço da ocupação arrogante e criminal à qual Israel se nega a dar um fim.

E quero dizer algo muito, muito claro e muito, muito diretamente. Nada, absolutamente nada, justifica, pode justificar ou legitimar a carnificina que o Hamas cometeu nas cidades, nos kibutz e nas aldeias do sul de Israel. Nada pode justificar isso. É assustador. E nem mesmo os crimes de ocupação, os crimes de que Israel é culpado, os crimes de ocupação, o apartheid, a limpeza étnica e a Nakba(1), podem justificar tal carnificina. Ao mesmo tempo, nada, absolutamente nada, pode justificar o massacre que os israelitas estão levando a cabo em Gaza agora, nem mesmo os crimes do Hamas.

(…) os palestinos merecem os seus direitos. Eles merecem os seus direitos nacionais e individuais. Eles merecem a aplicação de seus direitos, o direito à autodeterminação, a desfrutar do seu próprio estado soberano independente, do seu próprio governo, da liberdade de circulação. Merecem viver em paz e segurança, sem os massacres diários dos colonos fascistas, sob os auspícios das forças de ocupação e com o incentivo do governo fascista de Benjamin Netanyahu. Os israelenses merecem paz e segurança. Eles merecem viver num Estado que não ocupa, que não oprime, um Estado cujo governo não é fascista e racista.

Gostaria de concluir, se me permitem, delimitando e explicando toda a questão no âmbito de um quadro político. Israel queria esta violência. Em 2017, Smotrich(2), que à época era membro do Knesset(3), mas hoje, lamentavelmente, este delinquente racista é um ministro, o ministro das Finanças, mas também um ministro do ministério da Defesa (…), publicou há seis anos – é explícito. Pode ser lido, quero dizer, você pode pesquisar no Google e ler. Chamava-se “Plano de Submissão”, que se reduz a três pontos: primeiro, os territórios palestinos ocupados deveriam ser anexados a Israel, sem a concessão de direitos básicos aos palestinos. Em segundo, os palestinos que não concordarem em viver em submissão serão expulsos de sua terra natal. E terceiro, os palestinos que resistirem serão mortos. O que vemos agora, e o golpe que o governo de Israel encenou dentro de Israel, são todos meios para atingir o objetivo. O objetivo é levar a cabo este horrível plano racista, colonialista e fascista de Smotrich. E o ataque a Gaza faz parte disso. Eles usam a terrível, horrível e inaceitável carnificina na luta de Israel como desculpa para atacar Gaza, como parte da execução deste plano de subjugação fascista.

Devemos permanecer juntos, unir forças. Todos os amantes da paz, palestinos e israelitas, árabes, hebreus e a comunidade internacional, devem estar juntos e unir forças para dizer a Israel: “Acabem com a ocupação agora! Vocês devem acabar com a ocupação. Os palestinos  devem ser libertados”. A libertação do povo palestino é uma causa justa. Também irá libertar os israelitas da ocupação, porque, apesar de o plano – obviamente os palestinos são as principais vítimas, mas os israelitas também são vítimas da ocupação, como vimos há dois dias. Devemos, portanto, empurrar e pressionar o governo para que ponha fim a esta situação. Depende da comunidade internacional. Cabe a nós agir em conjunto contra toda a violência, em Gaza, na Cisjordânia e em Israel.

Notas

(1) – Nakba – todos os anos, entre os dias 30 de março a 15 de maio, um dia após a proclamação do Estado de Israel, os palestinos comemoram a “Nakba”, palavra árabe que significa “grande catástrofe”. Entre 1947 e 1949, cerca de 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras pelas forças israelitas.

(2) – Bezalel Smotrich, atual ministro da Finança, de extrema direita, em março deste ano afirmou que não existe um povo palestino.

(3) – Knesset – parlamento unicameral de Israel.