Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes foi professor, intelectual, pesquisador e ativo colaborador de iniciativas que contribuíram de modo efetivo na cena política, incluindo suas contribuições na Fundação Perseu Abramo. Faleceu em 26 de agosto de 2019 e, no ano seguinte, dois professores – Sebastião Velasco e Cruz e Luis Fernando Vitagliano – se debruçaram sobre sua imensa produção para compilar um conjunto que merece ser amplamente conhecido e debatido. Ele resultou no livro Palavra engajada: exercícios de crítica e pedagogia política, organizado poucos meses depois de seu falecimento.

“Ele reúne uma fração do conjunto dos textos de intervenção – artigos curtos, dirigidos ao público em geral – que Reginaldo escreveu nos últimos anos de sua caminhada”, anota Sebastião Velasco e Cruz. O livro foi publicado em versão eletrônica pela Editora da Fundação Perseu Abramo (FPA) AQUI, em 2020, e ora chega às mãos dos leitores em nova edição, também em papel, em coedição da Fundação Perseu Abramo com a Editora Unesp, que pode ser adquirido no site da Editora Unesp AQUI

“Com efeito, entre 2013 e 2019, Reginaldo usou todos os meios à sua disposição para se fazer ouvir sobre os acontecimentos que acabaram por transformar tão radicalmente a cena política de nosso país e sobre os deslocamentos profundos que os ensejavam”, escrevem os organizadores. “Na preparação desta coletânea, consideramos apenas os artigos publicados em duas fontes eletrônicas bem estabelecidas: o site Brasil Debate e o Jornal da Unicamp. Mesmo assim, por exigências de tempo e espaço, tivemos que realizar uma seleção rigorosa. No total, contabilizamos 133 textos, de extensões variadas, o que nos deixava com um arquivo imenso, de publicação inviável.”

Os artigos reunidos neste livro refletem claramente a condição do autor, expressa por meio de escolhas conscientes, como o uso de frases curtas e despojadas, vocabulário simples e recomendações frequentes de leitura. Em todas essas características, percebe-se a busca pela atenção do leitor, apostando em sua inteligência e esforçando-se para estimulá-lo a ir além do que lhe é dado. Essa abordagem revela a essência da missão do professor, definida de forma precisa.

“É nesse registro que o humor cáustico do autor deve ser encarado. O estilo é o homem, diz-se. E não é possível falar do estilo de Reginaldo sem ressaltar o seu humor personalíssimo, às vezes brutal, mas nunca despropositado”, alertam Cruz e Vitagliano. “Arma de defesa e de ataque ante uma realidade iníqua que nos agride sem cessar, a frase espirituosa, a ironia desabusada e mesmo o sarcasmo são recursos empregados em seus textos para fins didáticos. Eles visam desconcertar o leitor, abalar sua adesão ao senso comum e fazê-lo pensar. Por isso seu acompanhamento não é, jamais, o insulto, mas uma bateria de argumentos sólidos e uma pletora de dados.”

Embora a pedagogia seja considerada uma forma de vida, os textos coligidos neste livro também expressam uma relação inversa. Em um mundo que enaltece modelos questionáveis de realização individual, além de oferecer insights, informações valiosas e argumentos bem elaborados, eles revelam a lição de uma vida múltipla, intensamente vivida e exemplarmente íntegra.

Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes foi professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu) e colaborador da Fundação Perseu Abramo (FPA). Gradou-se e doutorou-se pela Universidade de São Paulo (USP). Foi colaborador do programa de Pós-Graduação em Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); professor do Programa de Ensino e Pesquisa em Relações Internacionais da Unesp, Unicamp e PUC-SP (Programa San Tiago Dantas). Entre outras publicações, lançou Estado, desenvolvimento e globalização (Editora Unesp, 2006); Educação à distância e ensino superior – introdução didática a um tema polêmico (Editora Senac, 2010). E pela Fundação Perseu Abramo lançou Bloco de Esquerda e Podemos: dois experimentos de organização na nova esquerda europeia (2016); e Rural, Agrário, Nação: Reflexões sobre políticas e processos de desenvolvimento na era da globalização; Capitalismo, classe trabalhadora e luta política no início do século XXI (2017); e Os ricos e poderosos (2019). Perdemos a força do pensamento de Regis em 26 de agosto de 2019.

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