Livro trata de política econômica com linguagem acessível
A Fundação Perseu Abramo lançou na noite de 15 de junho um livro que pretende ampliar o acesso a fundamentos da economia, com destaque para assuntos que são muito citados pela imprensa e pelos próprios economistas, mas frequentemente tratados de forma distante das pessoas comuns. Outro objetivo da obra é desfazer interpretações dadas como infalíveis, mas que, de fato, são falsas ou parciais.
Coerente com a ideia de popularizar o conhecimento sobre economia, a Fundação vai disponibilizar o livro, nos próximos dias, na íntegra e gratuitamente, em seu site (a estante virtual da FPA está aqui). O livro tem também uma tiragem em formato impresso.
O título do trabalho, “Economia para a Transformação Social: Pequeno Manual para Mudar o Mundo”, já indica outra proposta fundamental do projeto: municiar pessoas que não são economistas de argumentos, ideias e abordagens novas para debater em suas vidas cotidianas temas econômicos e ajudá-las a preparar ações coletivas – nos sindicatos, movimentos ou grupos de que fazem parte – de reivindicação ou formulação de propostas.
Os dois autores do texto são jovens economistas, doutorados na área e professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Juliane Furno e Pedro Rossi, que participaram de debate no lançamento na sede da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, destacaram o caráter coletivo do projeto. O livro é resultado de um curso de formação preparado a diferentes mãos, incluindo outros professores de economia, a partir de iniciativa da Fundação. Esse curso, mesmo após a conclusão de sua primeira turma, também está à disposição e pode ser seguido gratuitamente (clique aqui).
O livro “Economia para Transformação Social”, segundo a economista Juliane Furno, procura sintetizar o conteúdo do curso, mas não é um simples resumo das aulas, e sim um novo material. “Não se trata de traduzir, de melhorar, mas elaborar algo novo”, disse ela, ao explicar o processo de redação do livro. Juliane destacou ainda que o livro procura ter uma linguagem acessível, mas de forma alguma é simplificador. Ao longo do texto, os autores indicam leituras fundamentais – como Karl Marx e John Keynes – para os leitores que quiserem se aprofundar.
E a ideia é essa mesma, segundo a professora: “São conteúdos capazes de despertar a vontade de ler mais e especialmente gerar desejo de transformação”. Apesar de seu subtítulo indicá-lo como um “manual”, os leitores não devem esperar uma divisão em forma de dicionário, mas tópicos que partem de fatos históricos e políticos e demonstram que a economia não é uma ciência exata, em que os conceitos surgem em laboratórios fechados e se tornam imutáveis, como se fossem fundamentos naturais.
O presidente da Fundação, Paulo Okamotto, presente ao debate de lançamento, destacou a proposta militante do projeto, uma vez que o livro pretende disseminar conhecimento novo e mais amplo e gerar mobilização em torno de projetos políticos para o Brasil. “Estamos em uma pegada aqui na Fundação, na Escola Nacional de Formação, de produzir mais conhecimento, mais materiais para fazer a luta política por um país melhor, ajudar o presidente Lula a entregar para o povo brasileiro as coisas que foram prometidas”. Okamotto afirmou que a leitura do livro não deve se fechar em si mesma, mas gerar compartilhamento: “Se você ler e depois debater com sua família, no seu local de trabalho, ter mais e melhores argumentos para explicar o mundo que a gente quer construir, aí esse livro valerá a pena”.
Para Vivian Farias, vice-presidenta da Fundação, o projeto se insere numa perspectiva de educação transformadora. “Como afirmou Paulo Freire, precisamos esperançar”, disse ela. “A ciência econômica é um campo em disputa. Quando falamos em desenvolvimento, afirmamos que o Estado não deve ser mantenedor das desigualdades. Não tem como mudar sem esperançar os corações”.
Jorge Bittar, diretor de Formação da Fundação, afirmou que o livro pretende ser uma ferramenta de organização em torno de mudanças. “Sabemos que a política determina a economia. Escolhas políticas definem os rumos econômicos. Economia não é um modelo matemático único. Então, sabemos que o subdesenvolvimento pode ser superado”, disse. “Queremos um povo munido de conhecimento para pedir mais”.
O economista Pedro Rossi, um dos autores do texto, lembrou que o livro é resultado de uma série de diálogos com estudantes e professores, durante as práticas de ensino, e que por isso os conteúdos foram testados em diferentes ocasiões até que se chegasse ao formato atual. “Não existe outro livro dessa natureza no Brasil”, afirmou. Rossi destacou ainda que o livro aborda conceitos e práticas econômicas internacionais e analisa como surgiram em determinados períodos históricos, chega aos fundamentos hoje praticados no Brasil e, em sua parte final, desfaz mitos solidamente enraizados no país.
Rossi tomou como exemplo a elevação da taxa básica de juros contra a inflação como uma mentira repetidamente contada no país. “A inflação tem várias causas e por isso precisa de várias ferramentas. No Brasil, a inflação estava subindo não por causa de excesso de pessoas consumindo. Então, subir a taxa de juros é como usar um martelo para tentar apertar um parafuso”, disse.
Como complemento aos textos, o livro traz ilustrações produzidas pelo grupo Gazetinha de Guanabara, composto por economistas comunicadores. “Essa é uma das formas que podem ajudar o conteúdo chegar para as pessoas e ser apropriada pela população”, segundo Rossi. “Queremos ajudar para que mais contingentes queiram ousar e cobrem mais, para que o Brasil rompa o pragmatismo do possível”, afirmou Juliane. Economia como assunto popular.