Mulheres vivas e com igualdade de direitos
No mês de lutas das mulheres, a edição de março da Revista Reconexão Periferias destaca a contribuição delas para a democracia brasileira. A democracia só existe porque as mulheres também lutaram, ainda que cerceadas de diversas maneiras, ao longo de toda história, e se fizeram presentes com suas reivindicações por transformações profundas na sociedade.
Para dar visibilidade ao processo de luta e resistência das indígenas frente diante da democracia no Brasil, apresentamos o artigo de Nedina/Xiu Yawanawa, professora indígena e coordenadora da Organização das Mulheres Indígenas do Acre-Sitoakore. Nedina afirma que a participação das mulheres vem crescendo, que ocupam cargos de liderança em suas aldeias e territórios antes destinados apenas aos homens e passam agora a ser também protagonistas de um novo processo de democratização da política indígena e não indígena.
A entrevista do mês é com a secretária Municipal de Mulheres do PT em São Paulo, Pagu Rodrigues. Mulher indígena fulni-ô, socióloga formada pela Universidade de São Paulo e estudante de Direito, Pagu é também membra da Comissão de Povos Indígenas da OAB. Na entrevista, ela fala sobre a perspectiva integracionista do Estado brasileiro em relação à população indígena, que ignora sua diversidade. “Cerca de 36% da população indígena do Brasil vivem em contexto urbano e apenas 3% dessa população vive de fato em território demarcado”, afirma.
Pagu aborda também os desafios do novo governo para garantir a superação das desigualdades de gênero no mercado de trabalho brasileiro, que é estruturante na sociedade patriarcal. “Uma das questões históricas do movimento de mulheres e do movimento feminista, que é a igualdade salarial, está pautada na igualdade de oportunidades e de direitos. Enquanto a gente não tiver políticas que garantam a autonomia econômica das mulheres, não haverá avanço na discussão da igualdade salarial. O que eu quero dizer com isso? O Estado realmente precisa se incumbir das política dos cuidados, com ampliação de creches, inclusive noturnas, e um sistema de educação que compatibilize realmente a rotina das mães em relação aos seus filhos, para que elas possam trabalhar e os filhos tenham o direito à educação de qualidade”, diz.
O Perfil desta edição é do Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga, que surgiu com o objetivo de realizar atividades para proteção e atendimento às mulheres vítimas de violência, além de promover sua autonomia financeira e psicológica. O grupo realiza reuniões, oficinas, cursos para a formação e conscientização das mulheres da periferia de Salvador sobre seus direitos. O núcleo gestor do coletivo reúne em torno de 15 mulheres, cujas atividades são mantidas por contribuições próprias, de moradores da comunidade e de parceiros.
Uma de suas integrantes, Cláudia Isabele Pinho, conta que a Ginga foi também um encontro geracional. Suas fundadoras foram estavam principalmente na faixa dos 40, 50 anos e tinham caminhadas mais extensas na comunidade. “Estavam muito incomodadas com os processos de feminização da pobreza, de pauperização das mulheres, de estigmatização e da necessidade de acesso à universidade.”, afirma.
Na sessão “Quando novas personagens entram em cena”, apresentamos Vivi Martins, a nova secretária nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores. Vivi afirma, entre outros pontos, que a Cultura é uma boa porta de entrada para despertar a juventude para a política, porque têm ideias de liberdade muito fortes, e que “talvez por isso os inimigos da democracia têm tanto medo da Cultura”.