A Revista Reconexão Periferias de setembro aborda dois temas sensíveis e de extrema importância para as periferias do país: a saúde mental e os 10 anos da Lei de Cotas no ensino superior. A edição trata da avaliação de uma década de políticas de cotas nas universidades públicas, que mostrou-se acertadíssima, promovendo uma inclusão educacional como nunca vista na história do país e como um pilar necessário no enfrentamento ao racismo. Há outros pontos de análise que podem e devem ser melhor aperfeiçoados na Lei. E disso trata o artigo de Emili Senra da Silva, Huri Paz e Victoria Lustosa Braga, que trazem o olhar de jovens estudantes universitários e periféricos a este tema.

A entrevista do mês é com Mário Carvalho, doutor em Saúde Coletiva, responsável pelo projeto Vozes e Cores, de estudo e atendimento terapêutico na Universidade do Rio de Janeiro. Mário conta que a eleição de Bolsonaro trouxe ansiedade e medo em níveis muito elevados. Mas o otimismo com a possibilidade de mudanças trazido pelas eleições de 2022 está transformando o estado de espírito das pessoas.

Horacius de Jesus, estudante de pedagogia, educador social e morador da Favela Morro das Pedras, em Belo Horizonte (MG), reflete sobre saúde mental e periferia. Ele afirma que pensar sobre tal questão é debruçar-se sobre a formação das instituições adoecedoras que são intrínsecas na formação do Brasil, tais como a escravidão, a dizimação dos povos indígenas, o abondono de populações relegadas às margens da sociedade e a permanência das desigualdade sociais.

Em luta contra as desigualdades e denunciando a falsa ideia de independência construída no país, ocorre em 7 de setembro, há 28 anos, o “Grito dos Excluídos”. A Central de Movimentos Populares (CMP), é parte integrante desse movimento desde seu início, é o coletivo apresentado no perfil dessa edição. Raimundo Bonfim, coordenador da CMP, afirma que “Não há independência com o povo passando fome, desempregado, com violência, racismo, machismo, homofobia, matança dos povos indígenas, destruição do meio ambiente, assassinato da nossa juventude preta e periférica”.

Na seção “Quando novas personagens entram em cena”, apresentamos Raquel Auxiliadora, vereadora pelo PT de São Carlos (SP), que acredita que a atuação parlamentar não pode se dar apenas por ação individual. E afirma a importância da política, mas não apenas de ocupar cargos parlamentares, mas da atuação de cada um “dentro da nossa casa, com os nossos familiares e a nossa atuação junto aos nossos amigos. Como a gente se coloca no mundo e em prol do que a gente se coloca no mundo”.

Para quem nasceu e vive nas periferias brasileiras, lutar é mais do que uma simples possibilidade de escolha, é uma necessidade para sobrevivência. Dar voz, publicidade e oportunidades de fortalecimento a essa luta, faz parte das ações do Projeto Reconexão Periferias. Com esta edição, esperamos contribuir para ampliar as denúncias de descaso e retrocessos, mas, sobretudo, ampliar as construções de esperança em uma realidade diferente.

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