Pauta Brasil discutiu a quarta onda de COVID
Nesta sexta-feira, 10 de junho, o programa Pauta Brasil recebeu Claudio Maierovitch, José Gomes Temporão, Marcos Caseiro e Pedro Tourinho, para avaliarem a conjuntura da saúde do país, com mediação da jornalista da Fundação Perseu Abramo, Fernanda Estima.
Claudio Maierovitch é sanitarista, trabalha na Fiocruz, é vice-presidente da Abrasco. e fez um balanço sobre o modo como a pandemia tem sido tratada pela sociedade e pela mídia. “A discussão sobre a pandemia tem sido bastante difícil inclusive na área da saúde, nós temos recebido mensagens o tempo todo, seja de maneira direta ou indireta de que a pandemia está deixando de ser um motivo para se preocupar. Temos assistido um relaxamento das medidas de proteção e praticamente um sumiço do tema COVID das mídias”, contou. “Mas o que temos acompanhado é que estamos vivendo um aumento importante dos casos de COVID ao longo das últimas semanas e isso não é surpresa para quem tem acompanhado o desenrolar da pandemia. Ainda estamos em um cenário com centenas de mortes por dia, isso é inaceitável. Nos piores anos de dengue em nosso país morria por ano o que está morrendo de pessoas pela covid diariamente em nosso país”, falou Maierovitch.
No caso brasileiro, para o sanitarista, temos cometido erros fundamentais: “não há sentido algum ao termos uma redução no número de casos abrirmos mão das medidas que foram responsáveis pela própria redução, este é o primeiro erro. Um segundo determinante é que não podemos ter tranquilidade enquanto não tivermos consistência no conhecimento a respeito da doença. E, por fim, a vacinação. Nós começamos a vacinar as pessoas há dois anos e pouco, as pessoas que foram as primeiras a tomar a vacina também são as pessoas que estão atualmente com menor proteção vacinal”.
Marcos Caseiro é infectologista do Emílio Ribas. Ele elencou características fundamentais sobre a pandemia “O Brasil é um país que tem apenas 2,7% da população mundial, mas 11% das mortes de COVID no mundo aconteceram em nosso país”, lembrou Marcos. “A China tem 17% da população mundial e não teve mortalidade nem de 0,08%, ou seja, alguma errada nós fizemos. Essa coisa errada tem nome e sobrenome e nós não podemos esquecer disso”, avisou Marcos.
Marcos também comparou a pandemia de COVID com a dengue, “em toda a história da dengue no Brasil morreram cerca de 7 mil pessoas. Então nós temos uma pandemia em ascensão e que em nenhum momento se encerrou”, disse. E continuou “Assustadoramente se decretou aqui em São Paulo e em nosso país o fim da pandemia, com a retirada das medidas preventivas sem sentido nenhum. São medidas inadequadas, inoportunas, absolutamente eleitoreiras e sem sentido nenhum”, concluiu.
José Gomes Temporão é médico sanitarista, ex-ministro da Saúde. Temporão lembrou alguns dados estatísticos para falar sobre a realidade brasileira. “Neste momento ainda a pandemia segue tendo muita relevância no panorama de saúde brasileiro, seja pelas pessoas que ainda estão morrendo de COVID, seja pelas pessoas que sofrem da síndrome pós-COVID, uma síndrome ainda sem respostas seguras da medicina”, contou o ex-ministro.
“São problemas que colocam uma pressão enorme sobre o sistema de saúde brasileiro. São questões com as quais o ministério sequer se debruçou. Seria possível, por exemplo, reunir um grupo de especialistas, criar um comitê assessor que fizesse essa discussão. A pandemia, como bem falou o Marcos, veio para ficar e vamos precisar conviver com ela” disse José Gomes Temporão.
Pedro Tourinho é médico sanitarista, professor da faculdade de medicina da PUC de Campinas. “Nós estamos diante de um certo dilema do ponto de vista civilizatório e de sociedade. Estamos diante de um governo que realmente fez todas as apostas equivocadas e contribuiu de forma dramática para que tivéssemos um dos piores índices do planeta em relação à mortalidade por COVID. Precisamos reafirmar que todo cidadão brasileiro tem direito à saúde, o que vai de encontro com o governo Bolsonaro, que a todo momento assume que há parcelas da população que estão condenadas por essa doença”, lembrou Tourinho.
“Essa naturalização da barbárie é parte das consequências e das sequelas desta pandemia.”, afirmou Pedro Tourinho.
A pandemia de COVID-19, seus desdobramentos e medidas preventivas foram tema do programa de hoje. Assista a íntegra do Pauta Brasil aqui.
Pauta Brasil recebe especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates são realizados nas segundas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.