Combater a inflação com uma nova política de preços dos combustíveis e da energia
Foi realizada nesta sexta-feira (11), na sede Fundação Perseu Abramo (FPA), a primeira de uma série de reuniões para debater o problema da escalada inflacionária no Brasil e possíveis soluções. O encontro contou com a participação do ex-presidente Lula, da ex-presidenta Dilma Rousseff, da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, do presidente da FPA, Aloizio Mercadante e do senador Jean Paul Prates (PT-RN), além de reunir especialistas e lideranças políticas que estudam a questão energética no Brasil e sua incidência sobre os preços. O encontro foi seguido de uma coletiva de imprensa.
Mercadante abriu a coletiva dizendo que o combate inflacionário não pode ser somente uma tarefa do Banco Central e da taxa de juros. E pontuou que um componente determinante da inflação são os preços dos combustíveis e da energia elétrica, o que torna a privatização da Eletrobras extremamente preocupante, pois vai significar algo semelhante ao que a ocorreu com a Petrobras, que passou a operar com preços internacionalizados. Para ele, a atual política de preços é responsabilidade direta da diretoria da Petrobras, nomeada pelo presidente Bolsonaro, e precisa ser revertida. “Os valores dos combustíveis afetam toda a sociedade e quem paga a conta mais alta são os mais pobres, basta observar o peso que o gás de cozinha e o transporte coletivo têm na renda familiar”, disse.
Sobre a privatização da Eletrobras, observou que o Brasil consegue ter uma matriz de energia limpa, predominantemente hídrica, eólica, solar, e a empresa é a holding que administra todo esse sistema e determina o preço final da energia. Se for privatizada, transfere-se ao setor privado a regulação de um preço que é monopólio natural, o que prejudica decisivamente os interesses da sociedade. “O Estado vai perder a capacidade de regulação, de gestão do setor, passando a praticar tarifas abusivas que prejudicam as famílias e a competitividade econômica do país”, afirmou.
Para Gleisi, estamos vivendo hoje uma política de extorsão do povo brasileiro pela Petrobras, pois cobrar o atual preço do combustível e do gás de cozinha e colocar a centralidade na distribuição de lucros e dividendos é inverter o papel que ela sempre teve na história do Brasil, de ser um instrumento do desenvolvimento. “A política de preços internacionais nunca existiu antes, mas foi adotada oito anos depois que tivemos autossuficiência em Petróleo. Isso tem de ser mudado, temos de considerar o custo interno de produção, que vem caindo. Por que dolarizar?, questionou ela.
Gleisi lembrou ainda que por muito tempo o discurso que prevaleceu é que a Petrobras teve um problema porque o PT fez corrupção sistêmica. “No documento memorial da verdade, falamos sobre o que de fato aconteceu. O único ano em que a empresa teve prejuízo nos governos do PT foi em 2014, e foi um prejuízo contábil, pois a Pricewaterhouse, por pressão da Lava Jato, mandou fazer uma depreciação de ativos da empresa para tentar justificar desvio de dinheiro”, afirmou.
O senador Jean Paul Prates afirmou que não é possível desgarrar a inflação que aparece nos preços dos alimentos e de tudo o mais do diesel e do GLP, o gás usado para cozinhar, que é derivado de petróleo. Além disso o preço da gasolina hoje atinge profissionais do transporte e autônomos que passaram a trabalhar como entregadores. Já a energia é um insumo essencial para a vida e o conforto, e o aumento da demanda energética decorre das melhorias obtidas nela população e do ganho de qualidade de vida.
“É possível para o governo federal organizar melhor essa questão do preço internacional, e isso é esperado pela sociedade como um todo. Hoje estamos pagando o preço de Roterdã mais as despesas de colocação no Brasil, o que é absurdo num país autossuficiente em Petróleo”, disse.
O senador pontuou ainda que o futuro plano de governo terá uma discussão estrutural para reverter a expectativa de desintegração da Petrobras, que deve ser mantida como estatal e capitalizada por investidores conservadores, não pelos especuladores. “Nenhum governo que vá suceder o atual fará processos traumáticos. Essa reversão passará por recompra do controle de ativos e retomada de mercados como o do Nordeste e o da Amazônia, para que seja possível manter uma empresa integrada que trabalhe pela economia brasileira”, afirmou.