O Pauta Brasil do dia 26 de novembro entrevistou o diplomata Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, que fez um balanço da viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Europa, apontando seus reflexos no Brasil. O programa foi conduzido por Geraldo Magela, diretor da Fundação Perseu Abramo, e por Artur Araújo, assessor da Fundação.

Para Celso Amorim, a falta de cobertura da grande imprensa brasileira à viagem de Lula passa pelo boicote, mas passa principalmente por essa imprensa ter se surpreendido com a recepção de chefe de Estado no exercício do cargo recebida pelo ex-presidente.

Segundo o ex-chanceler, a viagem pode ser dividida em quatro etapas principais: Alemanha, Bruxelas, Paris e Madri.

“Na Alemanha, Lula esteve com líderes sindicais, líderes do SPD (Partido Social-Democrata), líderes da fundação cultural do SPD, mas, principalmente, para me deter num único nome, Olaf Scholz, que já estava naquele processo de formação de um governo de coalisão, que ele liderará como chefe do partido majoritário. Então, a visita já começou com um primeiro contato com o homem que vai ser o líder da nação mais poderosa da Europa”, disse o ex-ministro.

“De Berlim, Lula foi a Bruxelas, onde também esteve com várias pessoas, mas vou salientar duas coisas: o evento que o levou lá, organizado por socialistas e democratas do Parlamento Europeu, onde ele fez um discurso que eu acho que foi muito saudável e amplo, um discurso de chefe de Estado, a meu ver muito importante e foi aplaudido de pé pelo grupo composto basicamente por parlamentares; na véspera, Lula esteve com o alto representante da União Europeia, Josep Borrell Fontelles, na sede da União Europeia”.

Na França, Lula recebeu um prêmio da revista Polique Internationale, discursou no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) e se encontrou com pessoas que o apoiaram durante sua prisão, como a prefeita de Paris Anne Hidalgo, Jean-Luc Mélenchon e o ex-presidente François Hollande. Entretanto, o ponto alto dessa etapa da viagem foi a recepção como chefe de Estado pelo presidente francês Emmanuel Macron.

Sobre o prêmio, o ex-chanceler chamou atenção para o fato da revista não se enquadrar no campo político da esquerda, tendo premiado poucas pessoas e de perfil muito variado, como Frederik Willem de Klerk, presidente que conduziu a África do Sul ao fim do Apartheid pelo lado do establishment; Anwar Al Sadat, que pavimentou a paz entre Egito e Israel; e o Papa João Paulo II, “pessoas notáveis, mas não necessariamente de esquerda”.

Amorim conta que, em Madri, Lula foi recebido por Pedro Sánchez, presidente do Governo da Espanha, mas esteve também com o movimento sindical, com empresários, falou à imprensa e deu uma palestra muito importante junto a José Luis Rodríguez Zapatero, ex-presidente do Governo da Espanha, em um fórum que tratava da pandemia de covid-19.

“Essa viagem foi muito importante para o Lula, para as pessoas que o receberam, mas foi também muito importante para o Brasil, porque, desde a saída da presidenta Dilma e, de maneira mais acelerada, desde a posse de Bolsonaro, se tornou um pária internacional e Lula foi recebido como representante de um verdadeiro Brasil, o que demonstra que a opinião europeia, da esquerda à centro-direita, inclusive do mundo empresarial, é de aposta em Lula”.

Na conversa, Amorim aprofunda a análise do impacto da viagem no Brasil e em suas relações internacionais. Assista a íntegra:

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