Pauta Brasil debateu as políticas de cuidado e desigualdade
O Pauta Brasil desta segunda-feira, 25 de outubro, com abertura da professora Eleonora Menecucci e mediação de Vera Soares, iniciou uma série debates sobre as políticas de cuidados, que apontaram para a necessidade de não só alterar nossa sociedade mas principalmente construir um sistema público de cuidado.
Eleonora Menecucci é professora da Unifesp e foi ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Vera Soares é militante e pesquisadora das relações de gênero e igualdade das mulheres, membra do Napp Mulheres. O programa recebeu Laís Abramo, Matilde Ribeiro e Renata Moreno para debater este aspecto da vida.
Para Laís Abramo, socióloga, integrante dos NAPPs Trabalho e Desenvolvimento Social, “o cuidado é um direito das pessoas em todos seus ciclos de vida. Cuidado não é só cuidar de uma criança ou pessoa doente, se refere também à reprodução diária da existência, aos variados cuidados necessários para cada um de nós”.
“O acesso a esse direito é desigual, as mulheres são as provedoras principais na ausência da ação pública, compromete o tempo e a vida de uma mulher e sua renda”, explicou, lembrando que na pandemia foram visibilizadas várias desigualdades e a importância dos cuidados em um período de trabalho remoto e redução de renda.
Matilde Ribeiro é assistente social, ex ministra da igualdade racial e professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Ela falou sobre “a desvalorização mundo público em detrimento do privado, historicamente definido o privado como o da mulher e o público do homem”, disse. Para ela, “é preciso transversalidade nesse tema, os gestores podem até querer mas não tem orçamento para atuar. São muitas tarefas pela frente”.
Matilde relembrou as questões históricas da desigualdade, o trabalho doméstico considerado “não trabalho, de responsabilidade das mulheres e por isso invisibilizado e desvalorizado, só perceptível quando não feito”. A exploração da mão de obra das mulheres negras, desde a escravidão, perpetuou “a desigualdade e ainda hoje há grande dificuldade da sociedade aceitar e entender as reivindicações das trabalhadoras domésticas”, elencou, sem esquecer de comentar questões ligadas à maternidade. “Precisamos requalificar o debate sobre licença paternidade e na educação”, disse.
Renata Moreno é doutora em Sociologia, integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF), militante da Marcha Mundial das Mulheres, e lembrou que é necessário debater como queremos lidar com o tema do cuidado: “a divisão sexual e racial do trabalho é altamente desigual com as políticas públicas sendo desmontadas. E também temos que conectar esse debate com o da alimentação, uma conexão muito importante para as políticas feministas que debatem o direito ao cuidado”.
O cuidado sustenta a vida, movimenta a economia e é trabalho, disse Renata, “evidenciando a tensão entre reprodução social e a acumulação do capital. A ausência do Estado na vida das mulheres é uma violência sobre a vida dessas pessoas, a política tem que dar conta do cuidado e enfrentar as dinâmicas da sociedade sem que isso signifique mais comercialização do direito”.
“A agenda do cuidado está em disputa. A direita quer discutir a partir de sua visão conservadora e que serve mais para colocar as mulheres em total desigualdade”, lembrou Renata, avisando que será preciso lutar por uma construção feminista e de esquerda.
Para garantir cuidado a todos e tirar essa obrigatoriedade dos ombros das mulheres é necessária a construção de um sistema público de cuidado, amplo e eficiente, que atue nas desigualdades de classe, gênero, raça, etc. O exemplo chileno, que deverá instituir o direito ao cuidado em sua nova constituição, foi relatado por Laís Abramo, que também pontuou que as jovens integram essa roda viva da exploração cuidando da casa e de irmãos menores. “Não somos anti-família, queremos reivindicar o direito à igualdade na divisão das responsabilidades e tarefas e envolver as empresas”, disse.
Desigualdade de renda, carga maior de trabalho doméstico para mulheres negras, o uso do termo ‘cuidado’ e a pandemia, cuidados domésticos, envelhecimento da sociedade, as lutas por igualdade e a contra a dinâmica de exploração e de desigualdade foram abordados por elas.
Assista a íntegra do Programa aqui.
Sobre o Pauta Brasil
Pauta Brasil recebe especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates são realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.
O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com os 66 programas.