por Aloizio Mercadante*, especial para o NODAL

Após a derrota eleitoral de alguns governos populares e progressistas na América Latina nos últimos anos, muitos de nós, ex-ministros, parlamentares, ex-presidentes da República, nos questionamos sobre a possibilidade de criar um espaço político de resistência e articulação em que pudéssemos retomar os laços de confiança construídos durante o período em que estivemos à frente dos governos de nossos países.

Governos nos quais pudemos construir, em maior ou menor grau conforme cada país, políticas públicas de combate à pobreza, redução das desigualdades, saúde e educação e tantas outras, além de políticas e mecanismos de integração regional, como Unasul, Celac etc.

Durante uma visita a Santiago do Chile, a convite dos companheiros Alvaro Díaz, ex-embaixador do Chile no Brasil, e Laís Abramo, ex-diretora da Cepal, ainda me lembro de falar com o ex-senador Carlos Ominani e Marco Enríquez-Ominami, ex-candidato à presidência do Chile, sobre essa necessidade. Assim como nós, muitos companheiros da América Latina estavam lutando contra o lawfare, defendendo o Estado democrático de direito, os direitos humanos, a soberania dos nossos países e a integração regional, mas estávamos dispersos e precisávamos estar juntos novamente para nos fortalecermos na defesa de nossos povos.

Tempos depois, na cidade mexicana de Puebla, em julho de 2019, criamos o que chamamos de Grupo de Puebla, uma instância plural formada por importantes personalidades do espectro progressista e da esquerda da América Latina, com o objetivo de debater e juntos buscar alternativas às políticas neoliberais que vêm sendo implementadas em nossos países à custa do povo.

Desde então, o Grupo de Puebla tem articulado diversas iniciativas que envolveram o progressismo latino-americano e caribenho em temas como integração regional; moratória da dívida; garantias de sobrevivência para os povos frente às crises econômica e sanitária com a pandemia da Covid-19; contribuições para o G20 e as Nações Unidas; combate à prática de lawfare na Bolívia, no Equador, no Brasil, no Chile, na Colômbia etc.; missões de observação em processos eleitorais latino-americanos, entre outros.

Vale destacar a importância do Grupo Puebla nas articulações que resultaram na saída em segurança do presidente Evo Morales para a Argentina após o golpe na Bolívia, assim como no fortalecimento da resistência popular e democrática em países como Bolívia, Equador, Brasil, Chile, Paraguai, Colômbia, Argentina, Uruguai, para citar alguns, onde pudemos estar presentes e unidos nas lutas populares.

Além disso, criamos o Conselho Latino-Americano de Justiça e Democracia (CLAJUD), o Grupo Parlamentar Progressista Ibero-Americano, e lançamos, em 2020, o Manifesto Progressista do Grupo de Puebla, que apresenta uma proposta de superação do ajuste neoliberal e da ortodoxia fiscal, e a construção de um modelo solidário de desenvolvimento para a região.

Não há dúvida de que muitos são os desafios e tarefas que ainda devem ser enfrentados pelo Grupo de Puebla, entre eles, a construção de alternativas econômicas, políticas, socioambientais e culturais pós-pandemia, o apoio aos governos progressistas da região e a possibilidade real de vitória eleitoral de candidaturas comprometidas com redução das desigualdades, democracia com participação popular, soberania e integração regional na América Latina e no Caribe.

Vida longa ao Grupo Puebla!

Aloizio Mercadante é doutor em Economia, professor universitário e presidente da Fundação Perseu Abramo. Foi deputado, senador, ministro da Ciência e Tecnologia, da Educação e da Casa Civil nos governos da ex-presidente Dilma Rousseff

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