Antonieta de Barros, a professora negra que marcou a Educação
Por Elizabete Maria Espíndola*
É inevitável pensar em Educação em Santa Catarina na primeira metade do século XX sem lembrar do nome de Antonieta de Barros. Mulher negra, filha e neta de ex-escravas (Catharina Waltrich e Maria), nasceu e viveu toda a sua vida em Florianópolis (1901 a 1952). Nesse período, encontrou na Educação o caminho para a mobilidade social. Foi professora normalista, exercendo a docência nas principais escolas públicas e privadas da capital. Ao lado de sua irmã mais nova, Leonor de Barros, fundou sua própria escola na região central de Florianópolis. Como jornalista, escreveu para as principais folhas da capital, sendo a crônica o gênero narrativo escolhido por ela. Foi deputada estadual nas décadas de 30 e 40, enfrentando o duplo preconceito (de gênero e de cor). Atuou na esfera pública em defesa de ideais como o direito das mulheres ao voto, a equidade salarial entre homens e mulheres e, principalmente, a ampliação da educação feminina.
A reconstituição, mesmo que parcial dos papéis sociais femininos, como é o caso da trajetória de Antonieta de Barros, permite desvendar de que forma os atores sociais marginalizados atuaram em um dado momento histórico, a fim de lutar contra as normas e os estereótipos que lhes foram impostos. Por meio de sua coluna, Farrapos de Idéias, articulou duro combate às desigualdades de gênero, de classe e cor. Contudo, faz-se importante evidenciar os aspectos que ela demonstrava em comum com as mulheres de sua época, mas sem deixar de destacar aqueles que lhe eram únicos. Antonieta representou durante anos a única voz negra feminina que ecoava na imprensa de um Estado que sempre propagandeou uma imagem eurocêntrica e excludente, em um período marcado por profundas mudanças políticas, como a chegada de Getúlio Vargas ao poder, econômicas, com o processo de industrialização, e culturais, como o crescimento da luta do movimento feminista, do qual Antonieta também fazia parte. Como intelectual negra, escrever era um ato político de resistência. À frente das associações de docentes (Centro Cívico, Liga do Magistério), e como deputada estadual, permitiu avançar na luta pela construção da carreira docente, ainda muito marginalizada nesse país.
*Elizabete Maria Espíndola é Pesquisadora associada ao LEGH – Laboratório de Estudos de Gênero e História da UFSC. IEG – Instituto de Estudos de Gênero – UFSC
(Para saber mais sobre Antonieta de Barros e sua destacada trajetória, sugerimos também a leitura da dissertação da professora Luciene Fontão, Nos passos com Antonieta: escrever uma vida, defendida na Universidade Federal de Santa Catarina. Fontão também elaborou uma atividade pedagógica para o Ensino Fundamental na qual utiliza um texto produzido por Antonieta de Barros (pseudônimo Maria da Ilha) e a biografia escrita por sua irmã Leonor de Barros, publicado na segunda edição do livro “Farrapos das Idéias” em 1971)