Mercadante: Brasil está prisioneiro do atoleiro Bolsonaro
Em entrevista ao programa DCM Ao Meio Dia, desta terça-feira, 13 de abril, o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, declarou que está ficando insustentável a manutenção do governo Bolsonaro. O ex-ministro avaliou que há um clima global favorável para a recuperação da economia, mas o Brasil está prisioneiro no atoleiro em que Bolsonaro colocou o país.
Mercadante explicou que não é possível pensar em recuperação econômica sem o enfrentamento da pandemia e que o governo Bolsonaro boicota o combate à Covid-19 com a falsa alegação de que é para ajudar a economia. “Bom, o mundo começa a se recuperar, principalmente os Estados Unidos pelo programa do Biden que vai ter um crescimento muito forte, a China se recuperando, as commodities importantes que o Brasil exporta, como minério de ferro e soja, cresceram 100% o valor em doze meses, é uma coisa extraordinária”, disse.
“Então, é um ambiente muito favorável à recuperação e isso vai continuar, porque a economia mundial vai se recuperar e à medida que os países vacinam e que superam a pandemia, nós vamos ter um clima de otimismo e de novos negócios e o Brasil está prisioneiro dessa situação, nesse atoleiro que Bolsonaro o colocou”, prosseguiu.
“Aqui você não tem o enfrentamento da pandemia e sem resolver a pandemia você não resolve a economia. Isso é uma falácia, é um equívoco. Não é resolver uma coisa ou outra, precisa resolver a pandemia para você atacar a recuperação econômica”, explicou. Mercadante também avaliou que a vacinação no Brasil é tardia, mal feita, mal organizada, mal planejada, então, é um desastre.
Tragédia institucional
Outro ponto abordado pelo ex-ministro foi a crise institucional entre Executivo e Judiciário. “Se não bastasse isso, há uma tragédia institucional. Você tem um presidente que ameaça ministros do Supremo, que diz que tem que ter impeachment porque deu um parecer contrário a ele”, avaliou.
Mercadante reconheceu como legítima uma possível discordância de Bolsonaro ao parecer do ministro Barroso, mas disse que Bolsonaro não tem o direito de atacar o Supremo. “Ele pode dizer que está tendo uma judicialização da política, o Judiciário está exorbitando suas funções, isso é da democracia. O que ele não pode é fazer os ataques que ele faz. Ele tenta intimidar o Supremo, ele ameaça. Fizeram isso com aquele twitter do general Villas Boas no julgamento do Lula e voltam a fazer isso na hora que o Supremo toma alguma decisão que o descontente, isso é um absurdo”, ponderou.
“Você tem uma crise institucional, um desgaste das instituições, um tensionamento crescente e no meio disso tudo está o Bolsonaro, agindo de forma desastrada, truculenta, imprudente. Ele expressa a ausência completa de valores civilizatórios, de relações institucionais”, disparou Mercadante.
O ex-ministro defendeu que Bolsonaro tratou da mesma forma a imagem do Brasil no exterior, o que resultou no isolamento e na falta de interlocução do país. “A situação é muito grave, econômica, social e política. É uma crise multidimensional, que se retroalimenta e no centro disso tem o motor dessa crise, que é o próprio presidente da República”, concluiu.
Pandemia e impedimento
Durante a entrevista, Mercadante voltou a destacar que o Brasil vive uma tragédia sem precedente e retomou os números de que o Brasil tem 2,9% da população mundial e chegou, nas últimas semanas, a ter mais de 30% das mortes pela Covid. “Na média, estamos chegando a quase quatro vezes mais mortos no Brasil do que a média dos demais países. Nós estamos assumindo a liderança, então é muito grave o que aconteceu”, afirmou.
“E ninguém de boa-fé, nenhum analista, nenhum epidemiologista, todos verificam e acompanham que tem uma responsabilidade direta do presidente Bolsonaro sobre tudo isso. O negacionismo dele, ele não reconhecer a medicina baseada em evidência científica, levou a essa situação”, avaliou.
Mercadante recordou que já são mais de cem pedidos de impeachment contra Bolsonaro. “Nós juntamos oito fundações partidárias para criar um dispositivo novo na Constituição, que é o impedimento de um presidente que pelo descaso, pela incompetência, pelo negacionismo se opõe a combater a pandemia, porque não existia histórico de pandemia no Brasil quando nós fizemos a Constituição”, propôs.
“E aí o afastamento é mais rápido. Seria na Câmara por maioria absoluta e depois no Senado, mas é mais rápido que o processo de impeachment, que tem uma regra mais rígida e deve ser mais rígida, porque afastar um presidente ou uma presidenta é um episódio muito grave”, disse.