Em audiência no Senado na manhã desta quinta-feira, 25 de março, o ministro Paulo Guedes atacou de maneira covarde o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto. Ao criticar as previsões da IFI, o ministro pediu a troca de comando da Instituição, decisão que está absolutamente fora de sua esfera administrativa. Com essa atitude, Guedes demonstra seu absoluto desprezo pela independência das instituições e busca intervir de forma autoritária no debate público, perseguindo adversários e ameaçando quem o critica.

Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que se existe alguém que tem errado em suas projeções, esse alguém é Paulo Guedes. A previsão feita ao longo desses anos de governo de retomada do crescimento e resolução dos problemas fiscais se provou absolutamente fraudulenta. Não apenas o Brasil seguiu estagnado em 2019, como afundou em uma profunda recessão em 2020, apenas minorada pela aprovação do Auxílio Emergencial de R$ 600, que Paulo Guedes declarava ser contrário.

Durante a pandemia, sua capacidade preditiva só pode ser descrita como mentirosa e deslocada da realidade, como na ocasião em que afirmou que a crise provocada pela Covid-19 poderia ser debelada com apenas cinco bilhões de reais, ou quando apostou que não haveria segunda onda da pandemia, a despeito de todos os dados e alertas dos especialistas em saúde pública.

Paulo Guedes deveria concentrar seus esforços no combate a profunda crise econômia e social que assola o país nesse exato momento. Enquanto milhões de famílias estão sem renda suficiente para sobreviver devido à falta de empregos e a redução criminosa do Auxílio Emergencial no pior momento da pandemia, Guedes parece estar preocupado apenas em destruir o Estado brasileiro e perseguir seus inimigos políticos.

É possível discordar das análises e da abordagem do trabalho da IFI ou de qualquer outra instituição. A crítica e o contraponto fazem parte do debate democrático e devem ser feitos com argumentos, não com ameaças e insinuações de caráter pessoal. Se valer do cargo de ministro para perseguir adversários, reais ou imaginários, revela novamente o caráter autoritário de Paulo Guedes e do governo que ele compõe.

Aloizio Mercadante, ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo

 

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