Durante o lançamento do manifesto “Em defesa da Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação no País”, nesta terça-feira (2/3), o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, defendeu a derrubada do veto presidencial de Bolsonaro que extinguiu o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).  “Nós precisamos sensibilizar o Congresso Nacional. O Congresso Nacional votou uma lei para reestabelecer o FNDCT, mas o presidente vetou. Vamos derrubar este veto, vamos recuperar recursos para ciência e tecnologia”, afirmou Mercadante.

O manifesto é assinado por onze ex-ministros de Ciência, Tecnologia e Inovação e conta com apoio da SBPC, ABC e Andifes. No documento, os ex-ministros expressam preocupação com os “graves cortes orçamentários propostos para 2021 de programas estratégicos” e alertam para o “risco de colapso de instituições do Sistema Nacional de CT&I”.  Para este ano, o Projeto de Lei Orçamentária Anual que está para ser votado apresenta uma queda de cerca de 26% em relação às despesas autorizadas em 2020.

Para Mercadante, o Brasil não terá lugar no século 21 se não olhar para a ciência, tecnologia e a inovação com uma nova ótica, “com muito mais compromisso e com uma visão de um Estado desenvolvimentista indutor do desenvolvimento”. “Sem esse novo olhar, não teremos como gerar valor agregado, recuperar um processo de reindustrialização e alavancar os investimentos, inclusive na agricultura, que precisa ser cada vez mais uma agricultura de baixo carbono e aí também precisa de ciência, tecnologia e inovação”, defendeu.

5G e indústria 4.0

Durante o lançamento, Mercadante também abordou a entrada do Brasil na tecnologia 5G e na indústria 4.0. “A Europa lança um programa de enfrentamento da crise em 917 bilhões de dólares, 20% do pacote, vão para a transição digital, 5G, que é uma tecnologia disruptiva para impulsionar esse novo ciclo da indústria 4.0. Se você pegar os Estados Unidos são 1,9 trilhões de dólares voltados para impulsionar a transição digital e a transição ecológica, na biodiversidade, investimento em alternativas de sustentabilidade ambiental”, explicou.

“O Brasil é o G1 da biodiversidade, é o país que deveria estar olhado isso com muito mais atenção, colocando recursos na ciência, na tecnologia e na inovação. Sem isso, nós, seguramente, continuaremos sendo um país exportador de commodities, sem gerar valor agregado, sem gerar emprego de qualidade”, disse. “Nós precisamos entrar no 5G, nessa tecnologia disruptiva, nós precisamos reindustrializar o país com uma nova indústria, que é a indústria 4.0, e para tudo isso precisa de política de desenvolvimento, de bancos públicos e precisa de ciência, tecnologia e inovação”, argumentou.

Arrocho fiscal

Além disso, Mercadante voltou a criticar a política econômica neoliberal de Bolsonaro, iniciada no governoTemer. “Eles acabaram com o piso constitucional da Educação. Já não há mais piso para a União e queriam, ainda agora esta semana, retirar as vinculações da saúde e da educação básica dos estados e municípios e vão insistir nessa política de desmonte do Estado brasileiro, de privatização das políticas públicas e é um grave equívoco”, disse.

O ex-ministro ressaltou, ainda, o papel do Estado e da ciência e tecnologia no enfrentamento da pandemia de Covid-19. “Estamos diante de uma grave pandemia e para combate-la são os cientistas que deveriam estar à frente. Não é uma luta dos militares. É uma luta da ciência e da pesquisa e não se faz isso sem política pública”, apontou.

“Se você pegar a CureVac, a vacina da Johnson e Johnson e a vacina da Moderna, elas são 100% financiadas pelo Estado. A vacina da Oxford/AstraZeneca é predominantemente financiada pelo Estado, a da Novavax predominantemente financiada por políticas estatais, a da Pfizer/Biontech predominantemente financiada por recursos públicos”, elucidou. “Então, precisamos de ciência. É isso que faz a vida melhorar de qualidade, a sociedade ser mais civilizada, abrir novos caminhos e retomar a reindustrialização”, concluiu.

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