Mercadante defende criação de fundo para manter auxílio e garantir vacina
O ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, defendeu, em entrevista ao programa DCM Ao Meio-dia desta terça-feira (26/1), a criação de um fundo solidário para o enfrentamento da crise sanitária, econômica e social em que o Brasil se encontra.
Para Mercadante, esse fundo permitiria a retomada do investimento, a manutenção do auxílio emergencial e poderia assegurar a vacina gratuita para todos os brasileiros. Mercadante defendeu que esse fundo seja constituído a partir de uma reforma tributária justa, solidária e sustentável e da criação de tributos para os super-ricos.
“Vocês viram que 10 bilionários do planeta ganharam mais de US$ 540 bilhões nessa pandemia, aqui não é diferente. Por isso, temos de tributar as grandes fortunas, ter progressividade no imposto de renda, tributar juros e dividendos quando são distribuídos, taxar as grandes heranças e criar esse fundo”, disse.
Vacinação para todos
Durante a entrevista, o ex-ministro também condenou a possibilidade de o setor privado comprar vacinas contra a Covid-19. “Eu acho uma aberração permitir que o setor privado compre vacina. A prioridade na lista de vacina não é quem tem dinheiro para comprar, não pode ser isso. Essa crise já está agravando a desigualdade, e agora quem tem dinheiro protege a vida e quem não tem fica na fila, que você não sabe quando vai chegar?”, indagou.
Para Mercadante, o critério de vacinação deveria ser técnico e transparente, tendo início pelos profissionais de saúde, seguido pelo critério de idade e por pessoas com algum tipo de comorbidade. “Depois, a prioridade, quanto tiver a vacina para aplicar em toda a população, e infelizmente nós estamos muito longe disso, deveriam ser as comunidades onde há o maior índice de contaminação”, disse.
O ex-ministro propôs a divulgação de uma lista pública de vacinação, como iniciativa para combater irregularidades na aplicação da vacina. “Eu sou favorável a que para toda vacina aplicada deva haver uma lista pública dizendo quem recebeu, para controlar quantas vacinas foram recebidas e quem são as pessoas que estão recebendo, qual é o critério”, afirmou.
Mercadante se posicionou a favor da decisão dos ex-presidentes Lula e Dilma, que se recusaram a participar de um ato simbólico de vacinação contra a Covid-19. “Já houve campanhas em que os presidentes participaram de campanhas de vacinação para combater o negacionismo e estimular a vacinação, mas à medida que não tem vacina sequer para os profissionais de saúde, isso perde o sentido’, argumentou.
Manaus
A respeito da crise de saúde em Manaus, Mercadante destacou a iniciativa do governador do Piauí, Wellington Dias (PT), de fazer um movimento para que os estados disponibilizassem 5% das vacinas que recebessem para o estado do Amazonas, demonstrando solidariedade. “É preciso ter uma visão nacional, já que não há governo, alguém deve coordenar”, esclareceu.
Mercadante cobrou uma apuração rigorosa de responsabilidades, uma vez que surgem informações novas de que o Governo Federal sabia desde maio da possibilidade de colapso de saúde e da crise do oxigênio em Manaus. “Tem o cartel das empresas que produzem oxigênio, elas já tinham sido multadas, faz 10 anos que tramita essa multa e não foi aplicada, isso também deve ser apurado. Devem-se apurar todas as responsabilidades, inlcusive a do Bolsonaro, que nomeou um ministro da Saúde sem formação na área, que não é médico, não conhece de pandemia, não tem nenhuma experiência de campanha de vacinação e cuja gestão é um desastre: está conduzindo o país para o agravamento da crise econômica, da crise social e da própria pandemia”, explicou.
Balanço da vacinação
O ex-ministro voltou a apontar que o lado mais dramático da crise é a irresponsabilidade do governo Bolsonaro com a vacina. Mercadante relembrou os dados de que o Brasil tem quase 10% das contaminações e mais de 10% dos óbitos do mundo, com 2,7% da população, e com uma taxa de mortalidade quatrovezes maior do que o restante do mundo. Segundo Mercadante, é evidente que houve um problema de gestão da crise, com um governo negacionista que combateu todas as medidas prudenciais. “Você veja que o presidente nunca está de máscara.
Olha os outros chefes de Estado sempre de máscara. Ele não preserva o distanciamento prudencial de dois metros de cada pessoa e, para piorar, ser contaminado não quer dizer que não possa pegar de novo e transmitir. Então é muito grave o comportamento dele”, apontou Mercadante considerou mais grave ainda o fato de Bolsonaro não dar transparência ao próprio cartão de vacina. “Seguramente ele deve ter sido vacinado e furou a fila. Se ele não furou a fila é só ele vir a público e apresentar o cartão comprovando que não procede, mas não, ele decretou um sigilo por cem anos.
Então, tudo do Bolsonaro em relação à gestão da crise é dramático, é um completo e absurdo descontrole e ineficiência de gestão”, evidenciou. “Agora, apareceu uma notícia de que a vacina da AstraZeneca, que foi a prioridade do governo Bolsonaro, não imuniza as pessoas com mais de 60 anos, que são 77% dos óbitos no Brasil, é onde está o público mais vulnerável, pessoas com comorbidade e pessoas com mais idade, na 3ª idade. Então, é muito grave esse quadro”, explicou.
Por fim, Mercadante enaltece a atitude diplomática do governo chinês, que tem sido muito serena, equilibrada, ponderada e desconsiderou todas as agressões de Bolsonaro àquele país. “Ele atacou a vacina, atacou os chineses, prometeu retaliar a China não liberando o 5G, mas a China superou esses obstáculos e está liberando os insumos.
Porém, se o Butantan produzir um milhão de vacinas por dia, nós vamos precisar de 424 dias, eu já disse isso aqui, para ter uma vacina de duas doses para a população toda. Por isso tudo, nós estamos muito longe de alcançar a vacinação”, concluiu.