Por Matheus Tancredo Toledo*

Análise dos dados das pesquisas municipais do Ibope nas capitais revela que a resistência ao bolsonarismo se encontra entre as mulheres e os jovens de 16 a 24 anos. No sentido inverso, o presidente encontra os maiores índices de aprovação entre os evangélicos.

Na faixa de idade de 16 a 24 anos e entre as mulheres, em boa parte das capitais, há claro movimento entre essas faixas de diminuição da avaliação positiva e aumento da negativa em relação às médias das capitais. No Sudeste, por exemplo, à exceção de Belo Horizonte, em todas as capitais há variação significativa entre os jovens: no Rio de Janeiro a avaliação positiva cai treze pontos percentuais nesta faixa, de 35% na média geral para 22%. Em Vitória, a diferença é de 17 pontos, e apenas 15% dos mais jovens avaliam o governo Bolsonaro positivamente. Em Florianópolis, no Sul do Brasil, a diferença é ainda mais significativa: se no total 33% avaliam o governo como ótimo ou bom, entre os jovens o número cai para 8%. No Nordeste, apesar de não-generalizado, o efeito também ocorre: em Recife, por exemplo, não há variação significativa nesta faixa de idade, mas em Fortaleza a avaliação negativa do governo é de 58% entre os mais jovens, um número onze pontos percentuais mais alto que a média.

No caso das mulheres, o efeito se dá em algumas capitais específicas, mas ainda sim de forma bastante relevante. No Nordeste, verifica-se que em três capitais a reprovação neste segmento é sete pontos percentuais maior que a média – Recife, Salvador e Fortaleza. Na capital baiana, aliás, o número salta de 62%, na média, para 69%. Isso acarreta no fato de que a cada dez mulheres de Salvador, sete consideram o governo de Jair Bolsonaro como ruim ou péssimo. No Sudeste, o efeito ocorre no Rio de Janeiro, onde a avaliação negativa é de 45% entre as mulheres, oitopontos maior que a média.

No que diz respeito aos evangélicos, salta aos olhos que em todas as cidades1 a avaliação positiva entre o segmento evangélico é, no mínimo, oito pontos percentuais maior que o total geral do município. Em Manaus, por exemplo, entre os evangélicos a avaliação positiva do governo é de 71%, enquanto o total geral da cidade é de 54%.

Mesmo em cidades onde a avaliação positiva do governo é muito baixa, como no caso de Salvador (capital que mais reprova o governo Bolsonaro), o efeito se faz presente: na capital baiana Bolsonaro é avaliado positivamente por 18%, número que sobe para 31% entre os evangélicos. No Nordeste, aliás, somente em Fortaleza não há aumento de, no mínimo, dez pontos percentuais na avaliação positiva dentro deste segmento. Em Teresina, por exemplo, o aumento é de dezenove pontos percentuais: o total da cidade é de 26% e entre os evangélicos a avaliação positiva é de 45%.

O efeito é visto em todas as regiões do Brasil e em todas as capitais, sem exceção. Em todas as capitais do Sudeste, por exemplo, há a exata diferença de onze pontos para mais na avaliação positiva entre o segmento evangélico em relação à média geral: na capital paulista o total geral é de 24% e entre os evangélicos o número é de 35%, e na capital mineira os números são, respectivamente, 35% e 46%.
Essa tendência causa impacto também na avaliação negativa, sendo que entre os evangélicos há a clara tendência de reprovar menos o governo Bolsonaro em relação à média da população. Em Manaus e Boa Vista, por exemplo, a avaliação negativa despenca para menos de um dígito neste segmento: o total em Manaus é de 26%, número que cai para 9% no respectivo segmento, e em Boa Vista de 15% cai para 6%.

Os diferentes segmentos da sociedade têm comportamentos e opiniões distintos em relação aos diversos temas da conjuntura nacional. Verificar tais tendências na avaliação do governo Bolsonaro e em outros temas permite aferir onde o presidente tem sido mais bem sucedido, quem tende a compor sua base popular de apoio e aonde estão os focos de resistência a este governo na sociedade. É nesta esteira que o Núcleo de Pesquisas de Opinião Pública e Estudos da Fundação Perseu Abramo já lançou seis boletins sobre as pesquisas nacionais de opinião pública e agora inicia um acompanhamento com um olhar voltado para os municípios. Com estudos e com série de artigos, queremos contribuir para o debate público sobre as pesquisas. Nos próximos, traremos análises sobre a influência do apoio de Bolsonaro e Lula nas capitais e qual o desempenho do campo progressista até o momento.

O estudo

A Fundação Perseu Abramo, por meio do Noppe, produziu um estudo com o extenso material que os principais institutos de opinião pública publicaram no último período.

Foram analisadas 37 pesquisas do Ibope (com campos de 30 de setembro a 16 de outubro); dez pesquisas do Datafolha (com campos de 21 de setembro a 6 de outubro) e uma pesquisa da XP/Ipespe (campos de 28 de setembro a 14 de outubro).

Estas pesquisas não têm como objetivo “adivinhar” o resultado final das urnas, mas sim fazer uma fotografia do momento e acompanhar a evolução da opinião pública ao longo da campanha eleitoral.

O Noppe se propôs a fazer um diagnóstico – por meio de análise das pesquisas publicadas – do cenário nacional a partir das pesquisas municipais. Assim, buscou-se medir: Capítulo 1) Avaliação do Governo Bolsonaro; Capítulo 2) Desempenho/Tamanho do Campo Progressista; 3) Influência de Bolsonaro e Lula no momento de escolher o voto. A vantagem das pesquisas de opinião pública é que, ao contrário do resultado eleitoral em si, logra-se em segmentar as opiniões por renda, gênero, idade e religião.

No final desta semana, o estudo completo será publicado no site da FPA.

1 Não foram consideradas nesta análise as cidades de São Luís (MA) e Aracaju (SE). No primeiro caso, a pesquisa mais recente escapa ao recorte temporal estabelecido para esta análise, e no caso da capital sergipana os dados segmentados de avaliação de governo não foram divulgados pelo instituto Ibope.

*Matheus Tancredo Toledo é analista de pesquisas do Noppe.

 

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