1968: o ano em que a ditadura calou o movimento estudantil
O ano de 1968 ficou marcado como o início dos anos de chumbo da ditadura militar no Brasil. De 1964, ano do golpe, até 68, mesmo com os militares nas ruas, o país presenciava uma ebulição cultural e estudantil que foi completamente reprimida ao longo deste ano e com o Ato Institucional Número Cinco, o AI-5.
Meses antes da chegada do AI-5, foi neste ano, que a ditadura mostrou suas garras contra os estudantes. Dois episódios marcaram aquele outubro de 1968, conhecidos como “A batalha da Maria Antônia” e “A queda de Ibiúna”. Conheça:
No dia 3 de outubro de 1968, estudantes da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) entram em confronto na rua Maria Antônia, no centro de São Paulo. O choque teve início por conta de um pedágio cobrado pelos alunos da USP para levantar fundos para o 30° Congresso da UNE. Os estudantes do Mackenzie contavam com apoio do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), e com a presença de membros do exército, instalados nas dependências do Mackenzie, atuando como orientadores dos grupos de extrema direita da faculdade, com o objetivo de oferecer oposição aos estudantes da filosofia da USP.
A rua Maria Antônia transformou-se numa verdadeira zona de guerra: a fachada do prédio da USP destruída, com janelas quebradas, sem contar os vários focos de incêndio e dezenas de feridos. Um secundarista, José Guimarães, morreu, atingido por um tiro na cabeça.
No dia 12 de outubro, durante a realização do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, interior de São Paulo, mais de 900 estudantes foram presos, entre eles as principais lideranças estudantis do país. Luís Travassos (UNE), Vladimir Palmeira e Franklin Martins (União Metropolitana dos Estudantes) e José Dirceu (União Estadual dos Estudantes), entre outros, foram levados diretamente para o Dops – os demais, recolhidos ao Presídio Tiradentes.
Segundo os jornais da época, atuaram na repressão 250 soldados da Força Pública, atual Polícia Militar, apoiados por 80 agentes do Dops. A segurança do congresso era precária e a polícia não teve dificuldade em localizar e cercar os participantes. A chamada Queda de Ibiúna quebrou a espinha dorsal do movimento estudantil e permitiu às forças de segurança fichar centenas de estudantes, que mais tarde seriam identificados e perseguidos como membros de diversas organizações de esquerda.
No texto “Movimento estudantil: A revolta mundial da juventude e o Brasil”, publicado na revista Teoria e Debate, o professor Luís Antonio Groppo conclui que os dois ocorridos foram a gota d’água. “A resposta da ditadura não tardou: decretou-se a proibição de passeatas em todo o país.”
Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, que é mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.