No dia 23 de outubro de 1985, Nativo da Natividade de Oliveira, presidente do Sindicato Rural de Carmo do Rio Verde, em Goiás, era assassinado com quatro tiros à queima-roupa pelo pistoleiro Júlio Santana, na entrada do sindicato. Nativo foi um trabalhador rural que investiu em formar a consciência política dos trabalhadores da região. A viúva de Nativo denuncia que ele havia sido executado devido à sua militância no PT e na Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O assassinato fora encomendado pelo então prefeito da cidade, Roberto Pascoal Liégio, com o apoio do presidente do Sindicato Rural (patronal), Geraldo dos Reis de Oliveira, integrante da União Democrática Ruralista (UDR), e do fazendeiro Genésio Pereira. Com a anulação do primeiro julgamento, o crime prescreveria e nenhum deles foi condenado.

Mas ao contrário do que planejaram, a morte de Nativo da Natividade não matou a consciência de classe e nem a luta dos trabalhadores. A ideia já tinha virado semente. O Jornal Em Tempo nº 206 de dezembro de 1985 narra: “O velório e o enterro de Nativo foram tomados por muita emoção. O corpo foi velado por dois dias por mais de mil trabalhadores rurais e urbanos que se revezavam ao lado do caixão, clamando por justiça e acusando o governo por ser conivente com a violência do latifúndio e das grandes empresas rurais.”

O pistoleiro Júlio Santana, assassino confesso de Nativo, matou 492 pessoas em todo o país, quase todas envolvidas em conflitos pela posse da terra. Ele anotava num caderno o nome de cada vítima e do mandante, conforme relato feito ao repórter Klester Cavalcanti e publicado no livro “O Nome da Morte”, lançado em 2006.

Muitos outros líderes na luta pela terra seriam assassinados nos anos seguintes, como Chico Mendes e Paulo Fonteles, advogado do sindicato de trabalhadores rurais de Conceição do Araguaia (MT). A violência chegaria ao auge na chacina de Eldorado de Carajás, na qual 19 camponeses foram mortos pela Polícia Militar do Pará em 1986.

Mas as ideias de todos eles permanecem até hoje. Ideia não se mata.

Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, que é mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.

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