A eleição presidencial e parlamentar realizada ontem na Bolívia tinha vários elementos embutidos que sugeriam a possibilidade de um novo golpe para impedir a esquerda de voltar ao governo. Embora as pesquisas apontassem a chapa do Movimiento al Socialismo – Instrumento Político por la Soberania de los Pueblos (MAS – IPSP) na dianteira da disputa eleitoral, deixava dúvidas quanto à possibilidade da vitória no primeiro turno e, pior, apontava a vitória da direita no segundo turno para o candidato Carlos Meza, caso houvesse, pois toda a oposição ao MAS se uniria em torno dele. Além disso, dois candidatos da direita, a presidente interina Jeanine Añez e o empresário Jorge Quiroga desistiram de suas candidaturas a poucas semanas da eleição tentando impulsar o voto útil desde o primeiro turno.

Embora as pesquisas eleitorais não sejam muito precisas na Bolívia, para evitá-lo seria necessário um resultado para a chapa Luis Arce e David Choquehuanca que não deixasse dúvidas, e isso foi alcançado. Com mais de 60% dos votos nas províncias do Altiplano e tendo chegado em segundo lugar à frente de Carlos Meza na província de Santa Cruz, as pesquisas de boca de urna atribuíram ao MAS – IPSP 52,5% dos votos contra 31% ao segundo colocado, Carlos Meza, e as apurações, embora lentas, confirmam a tendência, e Añez já reconheceu este resultado. Portanto, o povo boliviano falou alto e em bom tom.

Contribuiu para a vitória o bom governo que foi o de Evo Morales com crescimento econômico sob responsabilidade do então ministro da Economia, Luis Arce, e agora presidente eleito e redução da pobreza num país que carregava a pecha de ser um dos mais pobres da América do Sul. A nacionalização dos hidrocarburos também foi um fator que fortaleceu a auto estima dos bolivianos, além de contribuir para o avanço da economia e das políticas sociais.

Da mesma forma, foi importante o acompanhamento internacional do processo para inibir qualquer tentativa fraudulenta ou manobras golpistas. A Coppal se fez presente, assim como o Centro Carter, o Foro de São Paulo, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, entre outras personalidades. O governo golpista tentou impedir algumas presenças, mas no final teve de ceder e o pleito foi monitorado.

A tarefa dos vitoriosos agora é unir a Bolívia, retomar os rumos progressistas que foram interrompidos desde a renúncia de Evo e, particularmente, enfrentar a pandemia do Covid-19.

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